São Paulo -  A advogada Mércia Nakashima, à época com 27 anos, estava muito assustada com a discussão que acabara de ter com o ainda namorado e sócio Mizael Bispo de Souza (42), quando decidiu esconder a arma que ele, policial reformado, guardava em uma das gavetas do escritório que dividiam. “O medo era que ele usasse o revólver contra ela”, relembra Silmara Alencar de Oliveira em depoimento dado à polícia dias depois do corpo de Mércia – sua amiga de faculdade e confidente – ser encontrado sem vida às margens de uma represa em Nazaré Paulista, cidade a 90 quilômetros de São Paulo.
Mércia Nakashima | Foto: Reprodução Internet
Mércia Nakashima | Foto: Reprodução Internet
Silmara conta que Mizael, único acusado pelo assassinato, nunca aceitou o fim do namoro de quatro anos e dois meses. “Ele a seguia até nas audiências, deixando seus próprios clientes sem atendimento”, lembra. “Certo dia, ele ligou para Mércia mais de 40 vezes”.
Embora os primeiros relatos tenham colocado um ponto de interrogação sobre o comportamento de Mizael, foi seu próprio depoimento que despertou a atenção do delegado Antônio Olim. O hoje réu “praticamente fugiu” da delegacia deixando seus pertences sobre a mesa logo que soube que seu carro seria vistoriado pela polícia.
Relembre os detalhes do caso:
O dia do crime
A última ligação atendida por Mércia foi às 18h40 daquele domingo 23 de maio de 2010. Àquela hora, ela já havia deixado o almoço familiar na casa da avó e se dirigia ao encontro do ex, que a aguardava perto do Hospital Geral de Guarulhos.
A advogada esperava por mais um encontro casual, como vinha acontecendo com frequência desde que os dois terminaram oficialmente a relação, em setembro de 2009. Mas, de acordo com a acusação, Mizael mudou de planos. Ele estacionou seu carro, entrou no veículo da advogada e a levou para a represa de Nazaré Paulista.
O assassinato
O crime não demorou nem uma hora desde aquele telefonema, segundo uma testemunha sigilosa que garante ter assistido ao assassinato a uma distância de 100 metros. Ela conta que estava pescando à luz de um lampião quando ouviu “dois gritos femininos ou de criança” dentro de um carro prateado que se aproximava da margem.
Logo em seguida, diz o pescador, “um homem alto” saiu do veículo. Enquanto se concentrava na pescaria, a testemunha levou um susto ao avistar o carro já afundando nas águas da represa.
Foram três minutos para o veículo desaparecer e quatro dias para a testemunha ligar o episódio à noticia no jornal que relatava o desaparecimento de Mércia. Ele, então, ligou para o disque-denúncia.
Segundo o Instituto de Criminalística, Mércia levou um tiro, dentro do carro, que lhe feriu o braço, atravessou a mandíbula e lhe deixou inconsciente, o que facilitou a morte por afogamento.
O carro foi encontrado no dia 10 de junho a 25 metros da margem e a seis de profundidade. O corpo da advogada foi avistado boiando no dia seguinte, às 9h30, por outro pescador, que, por decisão própria, usou um barco para ajudar nas buscas.
A fuga
De acordo com o promotor Rodrigo Merli Antunes, o crime - planejado há dias - contou com um cúmplice: o funcionário informal de Mizael e vigia Evandro Bezerra Silva, que teria recebido a oferta de R$ 5 mil para apanhá-lo em uma estrada vicinal e levá-lo de volta a Guarulhos.
Depois de mudar três vezes de versão, o vigia admitiu ter ido buscar Mizael, mas nega que soubesse do crime. A história que será defendida no julgamento é que ele recebeu um telefonema do patrão pedindo que o buscasse em uma festa perto da represa.
Mizael poderá ficar em sala especial enquanto responde por homicídio | Foto: Reprodução Internet
Mizael Bispo de Souza | Foto: Reprodução Internet
O que diz Mizael
O ex-PM afirma que no dia do crime dormiu das 16h às 18h. Quando acordou, ficou de bate-papo com o irmão e o vizinho até 19h. Depois, se dirigiu a uma boate no centro de Guarulhos antes de pagar R$ 20 pelos serviços de uma garota de programa. Os dois ficaram juntos em seu carro até 22h40, quando ele finalmente voltou para casa.
Mizael afirma que só ficou sabendo do desaparecimento da ex-namorada às 14h de terça-feira, quando o pai da moça, Macoto Nakashima, ligou para ele perguntando a respeito.
O policial reformado sempre negou o crime. Disse em depoimento que Mércia “era tratada como uma rainha” e que ele jamais a agrediu. Sua mágoa, diz, foi vê-la recusar a aliança de casamento por orientação dos pais, contrários à relação.
Ciúme
Os relatos de agressividade e ciúme do réu sustentam a tese do promotor de que o advogado cometeu o crime por não aceitar o fim do relacionamento. Silmara, a amiga de Mércia, diz que ele descobriu a senha do bate-papo da ex e começou a se passar por ela.
A testemunha conta que os dois se conheceram por intermédio da irmã da vítima, Cláudia Eliane Nakashima, que estudava com o rapaz na mesma sala de faculdade. A própria Cláudia lembra em seu depoimento do dia em que Mizael teria sacado sua pistola e atirado contra o carro de um professor que lhe dera nota baixa.
Ao delegado, ela falou da desconfiança que sentiu quando viu hematomas pelo corpo da irmã um dia antes do rompimento do namoro. Mércia, no entanto, nunca relatou à família qualquer agressão do namorado.

As informações são de Wanderley Preite Sobrinho do iG