Rio -  É um passo da maior importância, rumo à reconciliação da História brasileira e sul-americana com a democracia, a determinação da Comissão Nacional da Verdade de pedir às autoridades da Argentina que investiguem o desaparecimento de brasileiros naquele país durante o tempo em que esteve em funcionamento a Operação Condor. Para quem não sabe, esta foi a denominação das ações colaborativas entre os aparelhos estatais de repressão política brasileiro, uruguaio, chileno, paraguaio, boliviano e argentino contra opositores das ditaduras, de 1975 a 1981.
A particular relevância dessa iniciativa está na possibilidade de — caso as investigações sejam realizadas e apontem responsáveis pelos sequestros desses brasileiros — os crimes irem a julgamento por serem tipificados como continuados, uma vez que as pessoas nunca mais foram vistas após serem capturadas
Cumpre assinalar, como o fez a professora Rosa Cardoso, integrante da comissão nacional, que, apesar de as informações sobre alguns desses nossos desaparecidos no país vizinho serem reconhecidas pelo Estado brasileiro, nenhum governo até hoje achou por bem pedir aos argentinos uma investigação formal sobre os fatos ocorridos.
Torna-se inevitável, ainda, a comparação entre o destemor de nossos vizinhos na responsabilização dos culpados pelos crimes cometidos em seu país — esta semana foi condenado o último presidente da ditadura argentina, Reynaldo Bignone — e o receio brasileiro de promover justiça, verdadeiramente.
Mas caminhamos dentro do possível, e o trabalho da comissão vem mostrando que valeu todo o esforço para sua criação. No grupo que tenho a honra de presidir no Rio de Janeiro, esperamos ajudar a desvendar mais fatos obscuros de nossa história.
Conselheiro federal da Ordem dos Advogados do Brasil pelo Rio de Janeiro