Jaguar: Quase memórias de Búzios
A Rua das Pedras perdeu o charme
Rio - Conheci Búzios em 1954, dez anos antes de Brigitte Bardot e argentinos descobrirem o lugar, quando passei uma longa temporada em Arraial do Cabo, a poucos quilômetros de lá. A estradinha de terra toda esburacada que ligava as duas aldeias de pescadores acabou com a Variant que herdei de meu pai. Voltei algumas vezes, a Rua das Pedras transbordava de glamour.
Contavam-se nos dedos lojas e restaurantes com nomes brasileiros, todas as grifes do mundo estavam em oferta. Uma multidão de turistas argentinos, italianos, alemães, japoneses, escandinavos, hippies e bichos-grilos, mas principalmente uma moçada bonita e bronzeada, lotava a rua, o desfile varava a noite. Iates espantosos ancorados nas enseadas. Cannes no Brasil. Tinha até um ‘Pasquim’ local, o ‘Perú (com acento) Molhado’ — o maior jornal de Búzios —, fundado e editado desde 1981 por um argentino (é claro), o esfuziante Marcelo Lartigue. A pedido dele, fiz algumas capas; meu nome foi incluído no Conselho Editorial. Consta que uma grande editora comprou (o tabloide, não o Marcelo). Fui cortado do conselho do mesmo jeito que entrei: sem ser consultado.
Na semana passada estive em Búzios, depois de muito tempo entre o Rio e Itaipava. A moçada bonita debandou (deve estar em Trancoso), a Rua das Pedras foi invadida pela emergente classe média. Sei que não é politicamente correto dizer, mas perdeu o charme.
No hotel descobri, entre best-sellers americanos e livros com fotos de cachorros, um exemplar de ‘Quase Memória’, de Cony, que — falha minha — ainda não tinha lido. Ed. Companhia das Letras, 14ª edição (já está na 27ª), só que agora pela Alfaguara e sem o luxuoso auxílio de orelha de Jânio de Freitas e contra-capa de Ruy Castro. “É seu Amacord particular”, escreveu Ruy.
O fato é que só consegui largar o livro depois que acabei de ler — durante oito horas só com pausas para ir ao banheiro — as 213 páginas. E fiquei sem saber o que continha o embrulho deixado pelo pai e que descreve, num bolero de Ravel de palavras, dezenas de vezes. O livro acaba sem Cony desatar o maldito barbante. O grande mistério é que o embrulho que a secretária lhe entregou era recente. “Até mesmo o cheiro — pois o envelope tinha um cheiro — era o cheiro dele, de fumo e água de alfazema que gostava de usar, metade por vaidade, metade por acreditar que a alfazema cortava o mau-olhado, do qual tinha hereditário horror.” E, conta Cony, “apenas uma coisa não fazia sentido. Estávamos — como já disse — em novembro de 1995. E o pai morrera, aos 91 anos, no dia 14 de janeiro de 1985.”
Contavam-se nos dedos lojas e restaurantes com nomes brasileiros, todas as grifes do mundo estavam em oferta. Uma multidão de turistas argentinos, italianos, alemães, japoneses, escandinavos, hippies e bichos-grilos, mas principalmente uma moçada bonita e bronzeada, lotava a rua, o desfile varava a noite. Iates espantosos ancorados nas enseadas. Cannes no Brasil. Tinha até um ‘Pasquim’ local, o ‘Perú (com acento) Molhado’ — o maior jornal de Búzios —, fundado e editado desde 1981 por um argentino (é claro), o esfuziante Marcelo Lartigue. A pedido dele, fiz algumas capas; meu nome foi incluído no Conselho Editorial. Consta que uma grande editora comprou (o tabloide, não o Marcelo). Fui cortado do conselho do mesmo jeito que entrei: sem ser consultado.
Na semana passada estive em Búzios, depois de muito tempo entre o Rio e Itaipava. A moçada bonita debandou (deve estar em Trancoso), a Rua das Pedras foi invadida pela emergente classe média. Sei que não é politicamente correto dizer, mas perdeu o charme.
No hotel descobri, entre best-sellers americanos e livros com fotos de cachorros, um exemplar de ‘Quase Memória’, de Cony, que — falha minha — ainda não tinha lido. Ed. Companhia das Letras, 14ª edição (já está na 27ª), só que agora pela Alfaguara e sem o luxuoso auxílio de orelha de Jânio de Freitas e contra-capa de Ruy Castro. “É seu Amacord particular”, escreveu Ruy.
O fato é que só consegui largar o livro depois que acabei de ler — durante oito horas só com pausas para ir ao banheiro — as 213 páginas. E fiquei sem saber o que continha o embrulho deixado pelo pai e que descreve, num bolero de Ravel de palavras, dezenas de vezes. O livro acaba sem Cony desatar o maldito barbante. O grande mistério é que o embrulho que a secretária lhe entregou era recente. “Até mesmo o cheiro — pois o envelope tinha um cheiro — era o cheiro dele, de fumo e água de alfazema que gostava de usar, metade por vaidade, metade por acreditar que a alfazema cortava o mau-olhado, do qual tinha hereditário horror.” E, conta Cony, “apenas uma coisa não fazia sentido. Estávamos — como já disse — em novembro de 1995. E o pai morrera, aos 91 anos, no dia 14 de janeiro de 1985.”
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