Vaticano - Os cardeais começaram a preencher o interior da Capela Sistina, nesta terça-feira, para o início do conclave que elegerá o próximo papa, em meio às incertezas sobre quem será o líder de 1,2 bilhão de católicos espalhados pelo mundo.
Guiados pelos prelados que seguravam um crucifixo e velas, os 115 cardeais eleitores, usando seu manto vermelho, entoaram a Ladainha dos Santos, hipnótico canto gregoriano que implora pela intermediação dos santos na escolha do novo papa. Eles então, tomaram seus lugares na capela rodeada pelos afrescos de Michelangelo que representam a "Criação" e o "Juízo Final".
Reprodução da Vatican TV mostra cardeais adentrando Capela Sistina para dar início ao conclave que elegerá o sucessor de Bento XVI | Foto: Reprodução TV
Reprodução da Vatican TV mostra cardeais adentrando Capela Sistina para dar início ao conclave que elegerá o sucessor de Bento XVI | Foto: Reprodução TV
A renúncia inesperada de Bento XVI provocou um tumulto na Igreja e expôs as divisões entre os cardeais que querem um novo papa capaz de passar a limpo a burocracia do Vaticano e outros que preferem um pastor que inspire os católicos nos tempos atuais de profunda secularização.
Mais cedo, os cardeais celebraram a missa "Pro Eligendo Romano Pontífice". Em sua homília, o cardeal Angelo Sodano, decano do Colégio dos Cardeais, pediu unidade dentro da Igreja , um apelo aos cardeais eleitores para que coloquem suas diferenças de lado pelo bem da Igreja e do próximo papa.
Por uma semana, os cardeais se encontraram a portas fechadas no Vaticano para tentar identificar quem, entre eles, teria o perfil para o papado e quais deveriam ser suas prioridades. Mas o debate de segunda-feira chegou ao fim com perguntas que ficaram sem respostas.
Após a realização do juramento de segredo pelos 115 cardeais, eles poderão, em seguida, votar. Se eles votarem, os primeiros sinais de fumaça devem sair da chaminé da capela às 20h do horário local (16h em Brasília) - se a fumaça for preta, é sinal de que não há um novo papa; se branca, significa que o novo pontífice foi escolhido.
Enquanto poucos esperam que o papa seja eleito na primeira rodada de votação, o Vaticano já está preparado: Na sala das lágrimas, adjacente à Capela Sistina, onde o papa vai imediatamente após sua eleição, três tamanhos de vestes estão preparados. Embaixo delas, sete caixas de sapato estão empilhadas - considerando os vários tamanhos possíveis de pés que podem ser eleitos. A sala tem esse nome pelo peso da responsabilidade e confiança exigida do novo pontífice. 
Brasileiro é um dos mais cotados para ser o sucessor 
O cardeal brasileiro Dom Odilo Scherer é conhecido pelas atualizações frequentes em sua página no Twitter, suas participações em programas de televisão e por usar o metrô como transporte - assim como a maioria dos quatro milhões de fiéis fazem em sua diocese. Ele é a melhor esperança do Brasil para ser o próximo papa - e é um dos principais candidatos vindos de países emergentes.
Relativamente jovem com seus 63 anos, ele abraça com entusiasmo todos os novos métodos para atingir os fiéis, embora permaneça alinhado à doutrina conservadora da Igreja. Scherer inaugurou sua página no Twitter em 2011 e, em sua segunda mensagempostada, escreveu: "Se Jesus pregasse o Evangelho hoje, usaria também a imprensa escrita, o rádio, a TV, a internet, o Twitter. Dê uma chance a Ele!"
"Ele é conhecido por sua disposição em dialogar, seja com outras religiões, seja sobre política", disse Virgílio Arraes, professor de história contemporânea da Universidade de Brasília. "Mas em questões sociais, não o vejo adotando uma posição muito diferente do último papa."
Arcebispo de São Paulo, Dom Odilo Scherer é um dos religiosos que pode se tornar novo papa | Foto: Divulgação
Arcebispo de São Paulo, Dom Odilo Scherer é um dos religiosos que pode se tornar novo papa | Foto: Divulgação
Scherer é um homem magro e tem uma postura ativa. Ele é o sétimo de 13 filhos em uma família de ascendência alemã, nascido e crescido no Rio Grande do Sul. "Essa área produziu muitos dos melhores líderes da Igreja brasileira nos últimos 30 ou 40 anos. É uma das regiões mais dinâmicas em termo de produção de padres, freiras e outros religiosos", disse Kenneth Serbin, titular da cadeira de história na Universidade de San Diego, cuja pesquisa se concentrou na Igreja no Brasil.
"É uma região onde a igreja institucional é a mais forte e onde há uma devoção muito semelhante à europeia, com muita ênfase na hierarquia da Igreja, respeito pelo clero e pelos bispos."
Observadores da Igreja afirmam que Scherer é muito respeitado por Bento XVI ; ele foi um dos únicos dois latino-americanos nomeados para o Pontifício Conselho para a Promoção da Nova Evangelização, criado pelo papa em 2010, como parte do esforço para combater a secularização na Europa e a perda de fiéis para as igrejas evangélicas e pentecostais na América Latina, especialmente no Brasil.
"Um dos objetivos mais importantes da Igreja é a promoção de uma nova evangelização, e ninguém colocou mais energia na comunidade pastoral que dom Odilo", disse José Arnaldo Juliano dos Santos, padre em São Paulo e historiador. "Ele está trabalhando para fazer da Igreja uma parte mais ativa da sociedade."
Scherer não se desviou de posições tidas como "linha dura", como a campanha pública contra o casamento civil entre pessoas do mesmo sexo e contra a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) em 2012 de permitir abortos de fetos anencéfalos. Apesar disso, o cardeal brasileiro acenou favoravelmente aos avanços promovidos pela Teologia da Libertação - movimento que usa os ensinamentos de Jesus Cristo para lutar contra a injustiça social - mesmo criticando suas conexões com o marxismo.
Ele também foi um crítico dos projetos de infraestrutura que o governo realiza na floresta amazônica que, segundo ele, "não levam devidamente em conta suas consequências sociais e ambientais".
O professor Arraes disse que um grande número de cardeais europeus que votarão no conclave trabalham contra o nome de Scherer. "Mas, se ele for eleito, pode significar que dependerá muito de sua habilidade em dialogar para contruir pontes, algo que poderia ajudar a Igreja nessa fase", disse. "Há uma consciência de que a Igreja está muito centrada na Europa, então este pode ser um momento interessante para escolher um papa das Américas."
As informações são do IG