Rio -  Ao fim da ditadura empresarial-militar de 1964, os beneficiários do modelo implementado se retiraram de cena e atribuíram às Forças Armadas as atrocidades cometidas no período. Os grupos de comunicação que se estabeleceram e se fortaleceram durante o regime se referem a ele como período de torturas, assassinatos e desaparecimentos. Mas, mesmo sem tais violências, o regime seria nocivo, pois impediu o desenvolvimento de um projeto nacionalista que viria ao encontro dos interesses do povo brasileiro.
Ao fim do regime, um general foi tratado como ícone do arbítrio enquanto os empresários que lucravam com o modelo e os políticos que o apoiavam, a começar pelo presidentedo partido da situação, bandearam-se para o lado dos opositores. Mesmo seus colegas de farda viraram-lhe as costas. O general Newton Cruz foi tratado pela mídia como ícone do autoritarismo, a partir do tratamento dispensado a um jornalista em Brasília.
A imagem, disponível na internet, mostra o repórter fazendo uma pergunta ao general, que o respondeu mal. O jornalista, ao vivo, começou a narrar para uma rádio a indelicadeza. O general correu até o jornalista, segurou-lhe o braço e exigiu que pedisse desculpas. A cena foi repetidas vezes exibida nas telas da TV como demonstração do autoritarismo do regime e o general estigmatizado como único autor de truculências.
No período vigia uma Constituição outorgada pelo poder militar, leis que excepcionavam o Estado de Direito, censura, política de arrocho salarial, concessões de rádio e TV aempresários ligados ao regime e outras anomalias institucionais. Mas apenas a descortesia do general com o jornalista era exibida negativamente. Aquele tratamento desrespeitoso representou, para a mídia, a concepção autoritária do regime personificado pelo general. Naquele episódio faltaram ao general seguranças que o tirasse de perto do jornalista em seu momento de destempero. 
Doutor em Ciência Política e juiz de Direito. Membro da Associação Juízes para a Democracia