Rio -  Não se sabe se a Batalha do Passinho surgiu numa mesa de bar ou na Secretaria Municipal de Cultura de Nova Iguaçu, onde trabalhavam juntos em 2011 os dois idealizadores do evento — Julio Ludemir e Rafael Soares, mais conhecido como Nike. Só que uma coisa é certa: a competição se tornou febre no Rio.
Quem nunca sonhou saber fazer os famosos passinhos — que misturam ritmos como break, capoeira, hip hop, frevo, funk e kuduro — em alguma festinha? A partir de hoje, 16 comunidades pacificadas do Rio serão palco das eliminatórias da competição, que começa na Vila Cruzeiro.
Foto: André Luiz Mello / Agência O Dia
Fotos: André Luiz Mello / Agência O Dia
O público poderá acompanhar de perto a dança que dominou programas de televisão como ‘Esquenta’ e ‘TV Xuxa’, revelando Gambá, dançarino que ficou conhecido como Rei do Passinho, morto aos 21 anos. Com entrada franca, a segunda edição da Batalha do Passinho espera receber três mil pessoas por evento.
“O passinho é altamente agregador. Nosso objetivo é fazer uma ponte entre as favelas e o restante da cidade. Esse dois polos precisam dialogar mais”, reflete Julio.
DO MENINO AO VOVÔ
A idade dos participantes é livre e as inscrições devem ser feitas pela internet. Podem tentar o título tanto a criança quanto seu avô. “É uma ótima opção de lazer para toda a família”, garante Rafael. E Julio acrescenta que o funk está colocando a música brasileira em um outro patamar. “Atualmente, o grande difusor é a rede social. As pessoas acham que o símbolo da cidade é o samba, mas não é. É o funk. Esses jovens estão reinventando o ritmo e a internet ajuda nas pesquisas. Daqui a pouco, serão reconhecidos na Europa”.
O continente, por sinal, não está tão distante da realidade de Michel Souza, morador da Cidade de Deus e um dos concorrentes da Batalha. Ele conta que já teve o gostinho de mostrar suas habilidades na Inglaterra. “Espero que o passinho ganhe o mundo. Já fui duas vezes a Londres.
Em uma delas, me apresentei no festival Back2Black e, na outra, participei do encerramento dos Jogos Paralímpicos. Tenho nove anos de experiência, mas isso não me faz melhor que os outros candidatos. Tem muitos dançarinos completos. Mas eles não vão me intimidar. Tenho uma torcida muito grande”, conta Michel.
Wellington Costa, mais conhecido como Baratinha, dança o passinho há cinco anos e garante que está preparado para a disputa, que contemplará com R$ 10 mil o primeiro lugar, R$ 8 mil o segundo e R$ 5 mil o terceiro. Além dos valores em dinheiro, todos os vencedores das eliminatórias serão escalados para o espetáculo musical ‘Na Batalha’, com estreia prevista para julho.
“O terceiro lugar, para mim, já está bom, porque nem sei o que fazer com o dinheiro. Aprendi a dançar com meu irmão mais velho e assistindo aos vídeos na internet, como geralmente os dançarinos fazem”, revela Baratinha, que vai se apresentar na seletiva do Cantagalo.
Já Carlos Vinicius, o VN Fantástico, vai defender uma vaga no Morro dos Macacos. O estudante considera que a maior dificuldade do passinho é a ‘manha’ — gíria usada pelos dançarinos que representa a marcação dos pés na hora da batida da música. “É uma dança embalada por canções que não fazem nenhuma apologia ao crime”.
As seletivas terão a presença do DJ oficial do evento, Vinny Max, e de convidados especiais que farão a trilha sonora para os dançarinos. Caso do Duo Santoro, de violoncelistas, que vai tocar em uma das classificatórias. No início do mês, a dupla participou de um flash mob de passinho na estação Siqueira Campos do metrô e adorou. “Confesso que nunca tinha tocado funk e a experiência foi maravilhosa. Fiquei encantado com a junção da música clássica com o funk”, conta o músico Ricardo Santoro, que tocou clássicos do batidão.
No corpo de jurados da Batalha, nomes como Sandra de Sá, Carlinhos de Jesus, MC Koringa, Juliana Alves e Fiorella Mattheis já estão confirmadíssimos. “Garanto que vai ser um belo espetáculo. As pessoas vão ver grandes dançarinos e ouvir música de qualidade”, afirma Julio.
A grande final da Batalha do Passinho acontece no dia 28 de abril, no Parque de Madureira. Vai lá.  
Reportagem: Patrícia Teixeira