domingo, 19 de maio de 2013

Acolhimento voluntário é aposta contra o crack


Acolhimento voluntário é aposta contra o crack

Programa da prefeitura consegue realizar 516 atendimentos a viciados que andavam pela Av. Brasil. Secretário acha medida mais eficaz do que o recolhimento à força

CONSTANÇA REZENDE
Uma tática da prefeitura para acolher voluntariamente usuários de crack já conseguiu livrar, pelo menos, 300 pessoas das ruas, nos últimos três meses. Dez usuários já foram internados, por vontade própria, em clínicas de tratamento para dependentes químicos e 516 passaram por algum tipo de atendimento social, como tratamento médico e ajuda para tirar documentos.
As ações foram feitas pelo primeiro Centro de Referência Especializado de Assistência Social (Creas) itinerante voltado para dependentes químicos, nas redondezas da Avenida Brasil, às margens da favela Parque União, onde funcionava uma das maiores cracolândias da cidade. O programa é desenvolvido pela Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social, que pretende expandi-lo para mais duas áreas, ainda não definidas.
Nas margens da Av. Brasil, havia uma das maiores cracolândias da cidade: para a prefeitura, programa foi essencial para a retirada dos usuários do local
Foto:  Fabio Gonçalves / Agência O Dia
Na sexta-feira, a reportagem do DIA acompanhou a abordagem dos agentes a usuários de crack em ruas de Bonsucesso, na Zona Norte do Rio. Dois educadores sociais e duas assistentes sociais convenciam os viciados, em condições insalubres, a entrar na van do programa. Eles foram encaminhados para a 4ª Coordenadoria de Assistência Social (CAS), que fica no bairro, onde encontram apoio de psicólogos e advogados.
Por dia, cerca de 15 pessoas chegam no CAS, na van ou que se dirigem para o prédio por iniciativa própria. Este foi o caso da grávida Ana Lúcia Souza, de 30 anos. Ela procurou o centro para receber ajuda para tirar documentos, tomar banho e se alimentar. “Outro dia tentei fazer o primeiro atendimento médico da minha gravidez, em um posto de saúde do Catete, e me negaram porque eu não tinha identidade”, relatou Ana Lúcia, que ainda não sabe o tempo exato de sua gestação.
Apesar disso, ela não quis ser levada para um abrigo da prefeitura. “Hoje é sexta-feira, quero ir ao baile funk”, disse, assumindo que, ‘às vezes’, ainda continua fazendo o uso de crack. Ela tem duas outras filhas, de 13 e 4 anos.
Recuperação através do diálogo
Para o secretário municipal de Desenvolvimento Social e vice-prefeito do Rio, Adilson Pires, o acolhimento voluntário demonstra a presença do Poder Pública de forma permanente. “A abordagem voluntária é mais efetiva do que a compulsória porque trabalha a reinserção dos usuários na sociedade, não pelo uso da força, mas do diálogo. Além disso, traz menos riscos às pessoas”, afirmou o secretário.
No início do ano, um usuário de 10 anos foi atropelado perto da Favela Nova Holanda, enquanto fugia de uma abordagem compulsória. Para a assistente social Fabiana Figueiredo, coordenadora do programa, o novo método conquista o usuário pela confiança. “Conseguimos sensibilizar os dependentes quanto à importância do tratamento”.
Documentos e volta para casa
Sebastião Caldas, fotógrafo de 47 anos e usuário de cocaína, foi voluntariamente até o prédio onde é centralizado o programa de acolhimento amigável da prefeitura, para retirar seus documentos com o objetivo de voltar para o mercado de trabalho. “Não tenho como pedir apoio da família, pois ela não tem muitas condições. Aqui, fui muito bem acolhido”, disse Caldas.
O fotógrafo disse aos assistentes sociais que gostaria de dormir em um abrigo durante a noite. Françoise Rangel, de 36 anos e usuária de crack, foi até o local para tentar voltar para sua terra natal, Espírito Santo. “Minha família achava que eu estava morta há oito anos, até ser contactada por agentes da prefeitura”, comentou.

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