Jaguar: Turismo numa rua de Paris
Esta foi a primeira vez que gostei de Paris. Na verdade não fomos a Paris, ficamos na Rua Dauphine 33 (número que me persegue)
Rio - Célia foi trabalhar na França e me convenceu a ir junto. “Três dias num seminário em Rennes e uma esticada em Paris; em nove dias voltamos para o Leblon.” Em Rennes, cidadezinha menor que Copacabana, enquanto ela trabalhava na universidade eu me fechava no hotel, botando o sono em dia, lendo o livro do Edney Silvestre ou folheando a revista mensal do Siné — que mesmo depois de velho continua pegando pesado (nem o Papa escapa) — e o ‘Le Canard Enchaîné’, semanal, com seu humor meia-bomba: o Angeli, Laerte e Reinaldo são melhores que todos os atuais cartunistas franceses juntos. E vendo a programação da inacreditavelmente jeca televisão francesa.
À noite saíamos para jantar no Presse Purèe (?) e no Leon, le Cochon (ponto para os franceses: não conseguimos comer mal nem uma só vez). Em Paris ficamos no hotel D’Aubusson, em Saint Germain. Uma coisa me cativou de cara: na maçaneta da porta do apartamento, em vez da tradicional placa ‘Não perturbe’ estava escrito ‘I want to be alone’, frase imortal de Greta Garbo. E no térreo tem o Café Laurent, onde beberam Sartre, Juliette Gréco e outros famosos. Ouve-se jazz da melhor qualidade, e o performático barman Flavian é um show à parte. No filme de Woody Allen feito em Paris tem uma cena filmada lá. O cantor, cujo nome não anotei, depois de arrasar em ‘I love Paris’, de Cole Porter, emendou ‘Na Batucada do Samba’, de Ary Barroso. “Tomei um litro e meio de cachaça”, em carioquês perfeito. O cara não tinha a menor ideia do significado da letra.
Esta foi a primeira vez que gostei de Paris. Na verdade não fomos a Paris, ficamos na Rua Dauphine 33 (o número que me persegue). A rua é do tamanho da Cupertino Durão. Mas tinha de tudo; restaurantes de todas as nacionalidades, muitas padarias, delicatessens, um pub irlandês e, claro, vários bistrôs, galerias de arte (são, pasmem, 65 só em Saint Germain), livrarias, sebos (descolei por 4 euros um livro com desenhos, poemas e fotos de Jean Cocteau), lojas de queijo e vinhos, suvenires cafonas (comprei um microboneco do Toulouse Lautrec), roupas e bolsas usadas das grifes — Chanel, Prada — dois cinemas, um com filme pornô e striptease ao vivo, e outro, que exibia ‘Is a Mad World’ (‘Deu a louca no mundo), de Kubrick, traduzido para ‘Le Monde est fou, fou, fou’, farmácias, banca de jornal, carrocinhas vendendo baguetes de queijo com presunto, banca de jornal, travesti japonês e o escambau. Só peguei táxi para ir e voltar para o Aeroporto Charles De Gaulle. E no aeroporto, veja na foto, só andei de cadeira de rodas, très chic.
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