Séries de TV popularizam profissão de maquiador de cadáver
POR FRANCISCO EDSON ALVES
Rio - Seriados como o americano ‘CSI’ (Crime Sob Investigação) e ‘Pé na Cova’, da TV Globo, estão popularizando uma profissão pouco conhecida: maquiador de cadáveres. No Rio, poucas pessoas exercem a atividade. Uma delas é Eliane de Souza Paim, de 40 anos. Funcionária há 15 anos de um laboratório de embalsamento em Inhaúma, ela conta que a televisão tem despertado a curiosidade de novos interessados na função. Durante a entrevista ao DIA, por exemplo, Eliane atendeu a vários telefonemas sobre o assunto.

Foto: Alexandre Brum / Agência O Dia
“Em breve teremos que criar um curso. Mas, além de ser preciso ter coragem e gostar do que faz, o necromaquiador (nome do profissional que maquia mortos) tem que ser um artista acima de tudo. O objetivo é confortar os parentes do defunto, deixando o corpo sem palidez e com a aparência tranquila, como se estivesse dormindo”, detalha Eliane, que trabalha com outros dois maquiadores.
PERFUME E BARBA
Além do caixão, ornamentação e transporte, várias funerárias incluem a necromaquiagem no pacote de custos de um enterro. Só a maquiagem pode custar entre R$ 200 e R$ 2 mil. Os preços aumentam se parentes quiserem perfume, pintura e corte do cabelo, ou aparo de barba e unhas do finado. “Depende também do material usado, do estado do cadáver e do tempo para a execução do trabalho. Se o falecido teve o rosto desfigurado, por exemplo, tem que se fazer uma maquiagem com a reconstrução facial, pode levar até seis horas”, ressalta Eliane.
No laboratório onde trabalha, Eliane faz maquiagem em pelo menos seis cadáveres por dia. “Às vezes fico até mais de 15 horas aqui. Há semanas tento marcar cabeleireiro para mim, mas não tenho tempo. Cuido mais dos mortos do que de mim mesma”, brinca a maquiadora. Ela relaciona famosos que já maquiou no caixão, entre eles, Oscar Niemeyer, Dom Eugênio Salles, Bussunda, Dercy Gonçalves e Jamelão. “Sei que a dor da família, seja pobre ou rica, não muda com a perda de um ente querido, mas me orgulho de deixar ao menos imagens serenas na hora do último adeus. Essa é a que ficará na memória para sempre”, comenta.
Profissão é uma das mais antigas
Eliane Paim diz que se diverte com ‘Darlene’, uma necromaquiadora alcoólatra, vivida pela atriz Marília Pêra, em ‘Pé na Cova’. Mas ela diz temer que as pessoas passem a ter uma concepção errada da profissão. “Que é digna, uma arte. Muita gente, porém, pode confundir e encarar a atividade como banal, engraçada, como na TV”, justifica.
A necromaquiagem é uma das profissões mais antigas do mundo. Os egípcios foram os primeiros a utilizá-la. A estética pós-morte é feita apenas de forma básica, com sombras, base, pó compacto, ou corretiva, no caso de acidentes e afogamentos. A prática também é muito adotada no Japão, Filipinas e no México. São Paulo é o estado que mais oferece cursos nessa área.
Vestido de noiva no caixão
Fora da ficção, necromaquiadores acabam colecionando histórias hilárias. Joilson Nascimento Silva, 25, que trabalha com Eliane, revela que a mais inusitada foi a de um homem que exigiu que o companheiro fosse enterrado com vestido de noiva e maquiagem feminina.
Fora da ficção, necromaquiadores acabam colecionando histórias hilárias. Joilson Nascimento Silva, 25, que trabalha com Eliane, revela que a mais inusitada foi a de um homem que exigiu que o companheiro fosse enterrado com vestido de noiva e maquiagem feminina.
“Certa vez, um jovem solicitou que fosse colocado um piercing no nariz da namorada, morta num acidente, justamente quando ia comprar o acessório. Outro caso foi a de parentes que exigiram que uma senhora de 80 anos fosse sepultada com o cabelo colorido e teve as partes íntimas depiladas antes do velório”, lembra Joilson.
Ainda segundo ele, há também parentes que levam perfumes, fotos, chaves e até frutas para que sejam colocadas nos caixões.
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