Aos 90 anos, a eterna 'Rainha Rádio' conta como é seu dia a dia
POR LEANDRO SOUTO MAIOR
O filho Sérgio Henrique ganha um chamego da mãe Victoria Bonaiute | Foto: André Luiz Mello / Agência O Dia
“Tenho muitas saudades de tudo o que vivi. Foram muitos anos de trabalho, mas minha perna esquerda me obrigou a adiantar meu descanso. Levei um tombo, quebrei o fêmur e sei lá mais o quê”, resigna-se a diva.
Essa aproximação dos dois, Sérgio revela, nem sempre foi assim. No auge da fama dela, ele preferiu se afastar do mito que se tornou sua mãe Victoria.
“Ela sempre foi uma mulher à frente de seu tempo, e as pessoas não entendiam, tinham preconceito. Na escola, tudo de errado que acontecia, sempre apontavam para mim: ‘Só pode ser coisa do filho da Marlene’. Me afastei da artista para ter minha identidade própria, para ser o Sérgio, e não ‘o filho da Marlene’. Só contei isso a ela faz pouco tempo”, relata.
Agora, o passatempo preferido dos dois é escutar os CDs que ele grava para ela, coletâneas de canções de diversas épocas que Marlene gosta de ouvir e cantar junto. Ele coloca um para tocar enquanto conversamos. Abre com o sucesso italiano ‘Come Prima’, na interpretação da própria Marlene. “Eu cantei em várias línguas”, destaca, orgulhosa. “Ouço música o dia inteiro. Canto para mim mesma, coisas de tudo quanto é ritmo, até as novidades”. Marlene também gosta de ver televisão e ler a Bíblia. “Sou evangélica, esse é o meu livro predileto”, faz questão de ressaltar.
Do CD, ouvimos a voz do cantor francês Charles Aznavour. “Ah, esse aí foi um grande amigo. Nunca esqueço o coquetel que dei para ele na minha casa. Ele foi no Olympia, quando cantei em Paris com a Edith Piaf. Ficou na primeira fila. Nossa, como era simpático”, suspira, o olhar longe, talvez na Era do Rádio, da qual ela é das poucas testemunhas vivas. Talvez a mais importante entre todas. “Corri o mundo com a música. Mas a música é em segundo lugar. Em primeiro, vem o amor”, ensina.
Direito de resposta
No dia 4 deste mês, o Caderno D publicou na matéria de capa uma entrevista com a jornalista Diana Aragão sobre sua recém-lançada biografia de Marlene, ‘A Incomparável’. Sérgio, que ainda não leu o livro, reclama que ele e sua mãe não gostaram de uma declaração da autora.
Quando perguntada sobre uma passagem que está em seu texto de apresentação da biografia, que relata que “foram muitos os encontros iniciados em seu amplo apartamento de Copacabana, trocado depois por um menor, mas na mesma Copacabana”, Diana respondeu: “Ela ficou rica com a profissão. Não entendi por que teve que mudar para um apartamento menor”, disse.
Para Sérgio Henrique “isso é uma intromissão indevida na privacidade dela, quando o foco da reportagem deveria se limitar ao ícone Marlene. Não cabe e nem caberia qualquer referência à vida íntima da senhora Victoria Bonaiute”, ressalta ele.
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