Xerém: Chuva traz medo e amargas lembranças
Moradores atingidos pelo temporal de janeiro voltam a viver horas de desespero com novo transbordamento do Rio Capivari, que corta o distrito de Duque de Caxias
POR FELIPE FREIRE
Logo após a tragédia de janeiro, ela ergueu barraco próximo ao antigo endereço com placas de PVC e telhas doadas. Porém, na madrugada de segunda-feira, reviveu momentos de tensão e teve de deixar o cômodo às pressas diante de novo transbordamento.
“Chegamos a tirar documentos e roupas. Depois, acompanhamos a força da água derrubando casas na curva. Não temos o que fazer, por isso já estamos aqui de novo. Os R$ 500 (do aluguel social) que recebemos não dá para nada. Além disso, quem aluga ainda tem restrições com crianças e animais”, lamenta Elisângela no cômodo de quase 15m², usado como quarto, sala e cozinha, onde vive com marido, cinco filhos e sobrinho.
Construções foram derrubadas pela chuva de segunda-feira, quando o nível do Rio Capivari subiu: apesar dos riscos, moradores não abandonam casas | Foto: Estefan Radovicz / Agência O Dia
Nas "paredes’"da casa da família Soares e de outros vizinhos, que também voltaram para imóveis interditados, dizeres de fé e cobranças servem como resistência às águas.
“Medo sempre existe, mas, enquanto não recebermos o que achamos justo, temos que ficar aqui. Não temos para onde ir”, disse Elisângela, revelando que chegou a ser ameaçada por um suposto advogado da Defesa Civil para sair da região, sob pena de cancelamento do depósito do aluguel social.
Como se não bastasse o pavor, moradores afirmam que ainda têm de conviver com aproveitadores. Tudo porque oportunistas teriam tentado usar endereços afetados para buscar benefícios indevidos.
“Medo sempre existe, mas, enquanto não recebermos o que achamos justo, temos que ficar aqui. Não temos para onde ir”, disse Elisângela, revelando que chegou a ser ameaçada por um suposto advogado da Defesa Civil para sair da região, sob pena de cancelamento do depósito do aluguel social.
Como se não bastasse o pavor, moradores afirmam que ainda têm de conviver com aproveitadores. Tudo porque oportunistas teriam tentado usar endereços afetados para buscar benefícios indevidos.
Mulher e criança observam destruição | Foto: Estefan Radovicz / Agência O Dia
“Não sei mexer com esses papéis e por isso não dei entrada no aluguel social. Prefiro ficar vigiando minha casinha para ninguém pegar. Tenho um sonho de ainda poder reformá-la”
Moradores descartam sair de casa
No novo trecho da Rua Hilarino de Souza Bastos, extinto pelo rio, moradores que resistiram parcialmente à destruição demonstram preocupação. No entanto, a saída imediata está descartada. Segundo alguns deles, as casas haviam sido liberadas pela Defesa Civil.
“Vou pra onde? Espero que eles aterrem isso daqui e que a rua seja reconstruída. E a vida vai continuar”, afirmou Antenor Thomaz, 71, diante do barranco que se formou na parte de trás do terreno.
A irmã do carpinteiro e outras duas pessoas, donas dos imóveis que desabaram desta vez, já planejavam a volta para casa.
A confeiteira Elisângela Soares ergue um imóvel com placas de PVC | Foto: Estefan Radovicz / Agência O Dia
Em Santa Cruz da Serra, distrito de Caxias mais afetado desta vez, 263 moradores estão alojados em pontos de apoio. A prefeitura pediu à população das áreas de risco que saia de casa. O telefone 0800-023 0199 está à disposição.
A prefeitura informou ainda que não houve qualquer liberação de casas na beira do rio. Em relação à duplicidade do pagamento do aluguel social, revelou que a Defesa Civil desmontou grupo que tentava se aproveitar da situação para receber o benefício, e afastou a hipótese de cancelar o pagamento para quem esteja em área de risco.
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