Rio -  ‘Yes, nós temos clube empresa’. A adaptação na letra do samba dos compositores Braguinha e Alberto Ribeiro pode soar como uma provocação aos clubes grandes do Rio. E é provocação. Seja na Primeira ou na Segunda Divisão do futebol carioca, quatro clubes da Baixada estão dando aula de como orçamento enxuto e salários em dia podem ser receitas simples para quem sonha com um horizonte de conquistas no esporte.
Presidente do Nova Iguaçu, Jânio Moraes, na sala de troféus do clube: ‘Trabalhamos sempre com coerência’ | Foto: Alexandre Vieira
Presidente do Nova Iguaçu, Jânio Moraes, na sala de troféus do clube: ‘Trabalhamos sempre com coerência’ | Foto: Alexandre Vieira
Fundado há 22 anos, o Nova Iguaçu Futebol Clube tem uma laranja em seu escudo — cor adotada em quase toda sua sede social —, mas o fruto que colhe diariamente é o do planejamento bem feito. É o que garante o presidente, o empresário Jânio Moraes. “Nada é feito aqui sem planejamento. A nossa filosofia é formar jogadores. Acabamos de receber da CBF (Confederação Brasileira de Futebol) o certificado de formador de atleta”, diz ele. O certificado é entregue apenas aos clubes que comprovadamente são especialistas em formação de jogadores.
Com seis campos de futebol, quadra, estádio com capacidade para 1.800 torcedores — o Laranjão —, uma quadra polivalente, duas academias, e serviços como odontologia, nutricionista e psicólogo, o Nova Iguaçu foi fundado em 1990 por 25 profissionais liberais encabeçados por Jânio Moraes, entre os quais o tetracampeão Zinho, que hoje não faz mais parte do grupo.
“Trabalhamos sempre com coerência. E sempre com reserva de caixa. Não pagamos altos salários, mas os atletas recebem religiosamente em dia”, explica Jânio. O presidente faz questão de dizer que o clube tem patrocinadores, sim, e a maioria, formada por empresas de Nova Iguaçu, como Tintas Águia, Niely, Granfino, Compactor, Hotel Mercure e Kaskar Automóveis. “Temos credibilidade e é isso que nos diferencia”, afirma.
Para o volante Felipe, 21 anos, cria do Nova Iguaçu, que teve breve passagem pela Portuguesa-RJ, o salário em dia é um dos grandes diferenciais que o faz optar pelo clube. “É algo sem comparação, de fazer inveja a muito clube grande. A estrutura que o clube oferece deixa o jogador tranquilo para atuar em campo”, opina ele, que mora na Pavuna e vai e volta de ônibus para os treinos.
Com 400 atletas em sua escolinha, o clube disputa hoje a Série A do Carioca e sonha com voos mais altos na série D do Brasileiro, cujo direito foi conquistado após o título da Copa Rio 2012, a segunda do time laranja na competição.
Artsul, o carcará da Via Dutra
O atacante Alexandre tem 18 anos e é a esperança de gols do Artsul, o Carcará da Dutra, como é conhecido o clube tricolor que tem sede próximo à Via Dutra, em Austin, Nova Iguaçu. O time disputa a Série B do Estadual.
Natural de Itaparica, na Bahia, Alexandre é um dos atletas que moram no alojamento do clube. Fundado em 2001 pelo empresário da construção civil Nivaldo Pereira, dono da empresa de mesmo nome, o Artsul tem moderno centro de treinamento e estádio próprio, com capacidade de ampliação para até 50 mil pessoas.
Audax e Tigres: visão profissional
Investimento e administração profissional são os segredos que movimentam o departamento de futebol dos clubes Tigres do Brasil, situado em Xerém, Duque de Caxias, e o Audax, de São João de Meriti.
Sonho do empresário nicaraguense Miguel Larios, o clube caxiense, que disputa a segunda divisão, tem seis campos oficiais, academia, restaurante e piscina. Tem aporte da empresa Poland Química, da família Larios, que investe quase R$ 1 milhão por ano no clube.
Já o Audax, na série A do Carioca, já foi Sendas Esporte Clube e hoje integra o grupo Pão de Açúcar. Vice-campeão da Segundona do Rio no ano passado, o clube conta hoje com 200 atletas. Numa área de 50 mil metros quadrados no bairro Venda Velha, tem em sua estrutura alojamento, sala de musculação e piscina. “Aqui recebo salário de 15 em 15 dias, como todos os funcionários do grupo Pão de Açúcar”, explica o atacante Hyuri, cria do Audax desde 2008.