Rio -  O pastor evangélico Silas Malafaia casou o deputado federal Jair Bolsonaro (PP-RJ) e sua noiva, Michelle, na noite desta quinta-feira, na casa de festas Mansão Rosa, no Alto da Boa Vista, no Rio. Bolsonaro e Malafaia são aliados na crítica veemente ao movimento gay, vistos como “homofóbicos”, e estão no centro da polêmica sobre Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados, atuando em defesa do presidente, o pastor evangélico Marco Feliciano (PSC-SP).
Bolsonaro se emociona no casamento com Michelle, 27 anos mais nova, celebrado por Silas Malafaia | Foto: Raphael Gomide
Bolsonaro se emociona no casamento com Michelle, 27 anos mais nova, celebrado por Silas Malafaia | Foto: Raphael Gomide / iG
Não foi a luta do mesmo lado, porém, que uniu o religioso e o político no evento, para cerca de 150 pessoas. A noiva, Michelle, 32 anos, é membro da igreja de Malafaia e queria ser casada pelo pastor. “Eu também sempre gostei dele, de suas pregações e dos valores que defende. Ele está do lado da verdade”, justificou o deputado.
Nesta quarta-feira, Bolsonaro entrou em discussão áspera, aos gritos, com manifestantes na comissão da Câmara e trocou ofensas com um grupo, usando palavrões e xingamentos.
No casamento, porém, Bolsonaro deixou aflorar seu lado mais sensível, menos conhecido do grande público – acostumado a sua imagem de durão. O deputado chorou em diversos momentos da cerimônia e fez declarações de amor à mulher, Michelle. O casal já era casado civilmente havia seis anos tem uma filha de 2 anos, Laura. “Não vou dizer que te amo porque seria um pleonasmo, Michelle. Você é um pedaço de mim”, afirmou, romântico, Bolsonaro.
O filho Flávio, deputado estadual no Rio, contou que, em família, o pai – capitão do Exército, da reserva – amoleceu o coração principalmente após o nascimento da filha. “Depois que Laura nasceu, ele ficou mais emotivo: ele chora, às vezes. Aquilo [a imagem pública, belicosa] é um personagem. Lá em casa, ele nunca levantou a mão para a gente, era minha mãe quem brigava conosco, e a gente corria para baixo das pernas dele para se proteger: ele nos ‘deseducava’”, riu Flávio, 31, um dos cinco filhos do parlamentar.
A data do casamento não foi escolhida ao acaso: coincidiria com os aniversários de Bolsonaro, quinta, e de Michelle, sexta, embora com a diferença de 27 anos - ela fez 32, ele, 59.
Temia manifestação na porta
Antes do início da cerimônia, Bolsonaro conversou animadamente com os padrinhos e com Malafaia. Os assuntos foram política, as brigas e discussões na Comissão de Direitos Humanos e Minorias e o sucesso de seus vídeos na internet. O deputado ponderou que, novato, o colega Feliciano por vezes se assusta com a reação a sua presença no órgão.

Malafaia criticou a imprensa por não cobrar a presença do condenado do Mensalão José Genoino na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara. Depois, ambos criticaram o movimento gay, citaram personalidades simpatizantes da causa, por supostamente serem homossexuais, e lembraram entrevistas suas a programas de TV sobre o tema.
Por conta do momento turbulento, Bolsonaro temia manifestações na porta da casa de festas, no Alto da Boa Vista. Pediu o apoio da PM para prevenir eventual tumulto, e havia uma viatura policial no local. “Fiquei preocupado, não por mim, mas pela Michelle e pelos convidados”, disse. Ele se lembrou, rindo, do casamento do deputado federal Rodrigo Maia (DEM-RJ) com a filha do ministro Moreira Franco (Aviação Civil), quando um grupo protestou à porta da igreja com a faixa: “Por favor, não procriem!”
“Achei que fosse ter um pega-pra-capar na porta. Essas coisas [o casamento] não podem vazar”, comentou, depois, uma amiga da família, à mesa de jantar.
Casamento gaz é 'blábláblá'
A emoção do deputado começou no momento anterior à sua entrada para o altar. Ao lado da mãe, Olinda, seus olhos se encheram de lágrimas. Antes, alertara, em tom de brincadeira: “Não vá chorar, mãe!” Durante a celebração, voltou a chorar, em especial, no momento da troca de alianças.
Malafaia centrou a cerimônia na família e fez questão de frisar sua oposição à união de pessoas do mesmo sexo. “O primeiro princípio é que Deus fez macho e fêmea. (...) Toda a História da civilização humana está sustentada no homem, na mulher e em sua prole. Deus só criou duas instituições na Terra: família e igreja. Família é homem, mulher e sua prole. Para a perpetuação da espécie, completude desse ser (...), o homem só se completa na mulher e a mulher só se completa no homem. O resto é blábláblá. Nada mais e nada menos”, disse o pastor.
Ele também pediu mais "tolerância" - entre marido e mulher.
O casal trocou alianças ao som de uma orquestra tocando “Jesus, Alegria dos Homens”, de Bach. Neste momento, Bolsonaro se revelou ainda tímido. Constrangeu-se ante o pedido de Malafaia para beijar a noiva, diante dos cerca de 150 convidados. Por fim, o casal se beijou.
As informações são de repórter Raphael Gomide, do iG