Rio -  Uma das melhores coisas que acontecem na vida é a gente poder se reencontrar com o passado, com o começo da nossa história, sem mágoas ou rancores. Outra coisa boa da vida é fazer amigos. Vivi um encontro de velhos amigos há poucos dias e sou grata a todas as pessoas com quem dividi o tempo há várias décadas e que estiveram neste reencontro. É curioso como as amizades revisitadas têm sabor especial. O melhor deste encontro foi o de não ter outra razão, que não fosse apenas se ver e falar. E não só falar da vida em geral, do trivial cotidiano. Mas, principalmente, de planos e sonhos. Sim, porque o tempo passa, sonhos sonhados se realizam, alguns se frustram, outros se multiplicam, e novos surgem. E, independentemente da idade, do caminho percorrido e das várias realizações de sucesso, as novas ideias foram a tônica da conversa. Os novos projetos continuam sendo a nossa menina dos olhos. Neste quesito, a vitalidade faz a diferença.
Sei também que parece papo de velho, mas ouso dizer que havia nos jovens que fomos uma garra, uma gana, uma certeza de que iríamos mudar o mundo que fazia a vida ficar mais bonita, a luta mais fácil, o futuro mais comprometido. E escrevendo sobre este momento feliz, no mesmo instante da perda de um amigo querido, alegria e tristeza se misturam, de um jeito especial. E mais ainda quando o amigo é Emílio Santigo. Vejo na TV a imagem dele tão jovial, apostando no futuro nos idos do programa de Flávio Cavalcanti, estudando de manhã, trabalhando de tarde e cantando de noite, com gana e garra, acreditando no futuro. Pena que acabou de maneira absurda.
No passado, quando tinha tudo pra dar errado, deu certo. Negro, pobre, rejeitado pela família biológica, ganhou a proteção da mãe que o adotou, a doce Ercilia, fez faculdade, gravou as belas Aquarelas, mostrou a sonoridade mais bonita dentre seus pares, se tornou uma das vozes mais importantes no país das cantoras e consolidou a carreira tendo sua própria gravadora e recebendo o Grammy. Santiago da gargalhada solta, dos gestos elegantes, dos ternos bem cortados, da saúde que a gente sempre achou que era de ferro. Santiago chique, educado, perfumado, vaidoso, solidário, atencioso. E cheio de planos. Um deles era fazer um disco com músicas de Tito Madi. Outro, criar fundação para ajudar quem precisa. Pena que não deu tempo. Que bom que deu tempo para conhecer, conviver, ouvir e gostar de Emílio Santiago. Agora é aprender a lidar com a saudade.
Ou, como diz a letra de ‘Verdade Chinesa’, grande sucesso de Emílio: “Senta, toma um copo, dá um tempo que a tristeza vai passar... o que vale é o sentimento, o amor que gente tem no coração...”
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