Moacyr Luz: O papa e a globalização
O galo, que já não canta mais no Cantagalo, se assusta com bala perdida, o metrô empaca em Inhaúma e, mesmo assim, o carioca sobrevive com essas tiradas, praticamente um online de calças e mochila na direção do trabalho.
Um papa argentino.
Um papa argentino.
Ano que vem, claro, jesuítas e batinas em azul e branco no desfile do Boitatá.
A Praça de São Pedro me fez lembrar os áureos tempos de Maracanã lotado, transitando devotos e torcedores apaixonados.
As apostas, feito purrinha de balcão, cresciam entre bandeiras nacionais, tremulando brasileiras por nosso Papa favorito.
Dissipada a fumaça, minha intuição crava: “ Será um emocionante pontificado”. Da mesma tendinha, salaminho no limão, o gaiato se expande: “E do Chávez, não vai nada? Também morreu o assunto?”
Acostumado com discussões sobre a escalação do time no Torneio Relâmpago de 1943, as medidas da Miss Renascença, a bela Aizita Nascimento, favorita ao título da Guanabara, os marmanjos atualmente desfiam sabedoria em diferentes temas globalizados.
Discordam sobre o tamanho da cauda do meteoro da Rússia, batem o pé com a possibilidade de se patentear os genes de algumas doenças, todos ainda exaltados com a dívida grega no Mercado Comum Europeu: “Onde há fumaça há fogo, vai por mim!”, desabafa o bebum fechando o WC masculino. Conta fechada, três penduras e um varejo pra viagem, a vida continua.
Daqui a pouco o novo Papa chega ao Rio de Janeiro. Com sua impressionante humildade, alheio aos sapatos e tapetes vermelhos, se o Santo Pontífice abandonar o papamóvel, cruzando o subúrbio num coletivo qualquer, o malandro oferece o assento: “ Ô, Chico, ‘tamo junto’! Senta aqui, santidade!”
E ainda põe a camisa do time sobre a estola branca abençoada.
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