Rio -  A procura da crônica perfeita, chafurdei da última memória uma pequena história com ares vaticanos e outras combustões.
Sem querer arriscar uma corrida na bandeira 2, pedi a um amigo particular que avaliasse a qualidade do churrasco servido numa festa em Jacarepaguá. Como dizia um tio por parte de mãe criado em Queimados: “Quer fazer, faz direito!” Meia hora depois, liga o parceiro: “Não vem, não”. Isso aqui ‘tá’ igual a eleição de Papa, só tem fumaça!
O galo, que já não canta mais no Cantagalo, se assusta com bala perdida, o metrô empaca em Inhaúma e, mesmo assim, o carioca sobrevive com essas tiradas, praticamente um online de calças e mochila na direção do trabalho.
Um papa argentino.
A essa altura do dia, os bares queimam piadas na chaminé da ironia. A conversa tem a face de uma primeira página decorando a banca da esquina. Somos assim. Os mais criativos esperam o Carnaval e, do armário pessoal, saem casca de tartaruga imitando uma Ferrari do Barrichello, a capa do Batman vestindo a máscara do Joaquim Barbosa, incluindo os dentes com problemas oclusais do Ronaldinho Gaúcho.
Ano que vem, claro, jesuítas e batinas em azul e branco no desfile do Boitatá.
A Praça de São Pedro me fez lembrar os áureos tempos de Maracanã lotado, transitando devotos e torcedores apaixonados.
As apostas, feito purrinha de balcão, cresciam entre bandeiras nacionais, tremulando brasileiras por nosso Papa favorito.
Dissipada a fumaça, minha intuição crava: “ Será um emocionante pontificado”. Da mesma tendinha, salaminho no limão, o gaiato se expande: “E do Chávez, não vai nada? Também morreu o assunto?”
Acostumado com discussões sobre a escalação do time no Torneio Relâmpago de 1943, as medidas da Miss Renascença, a bela Aizita Nascimento, favorita ao título da Guanabara, os marmanjos atualmente desfiam sabedoria em diferentes temas globalizados.
Discordam sobre o tamanho da cauda do meteoro da Rússia, batem o pé com a possibilidade de se patentear os genes de algumas doenças, todos ainda exaltados com a dívida grega no Mercado Comum Europeu: “Onde há fumaça há fogo, vai por mim!”, desabafa o bebum fechando o WC masculino. Conta fechada, três penduras e um varejo pra viagem, a vida continua.
Daqui a pouco o novo Papa chega ao Rio de Janeiro. Com sua impressionante humildade, alheio aos sapatos e tapetes vermelhos, se o Santo Pontífice abandonar o papamóvel, cruzando o subúrbio num coletivo qualquer, o malandro oferece o assento: “ Ô, Chico, ‘tamo junto’! Senta aqui, santidade!”
E ainda põe a camisa do time sobre a estola branca abençoada.