Rio -  Dizem que tudo na vida vai e volta. Como a maré, as estações do ano, as fases da Lua. Tenho pensado nisso. Por mais de 10 anos eu cantei e toquei na noite. Minha formação vem do botequim, da rua. Teve época em que eu tocava de segunda a segunda, cada dia em um lugar e com um grupo diferente. Com a Teresa Cristina e o GrupoSemente, com o Cordão do Boitatá, o Samba de Fato, o Eduardo Gallotti, os Anjos da Lua e com outras rapaziadas que não formavam exatamente um grupo, mas se encontravam toda semana em algum bar pra fazer um samba e ganhar uma prata. Bem no início, saía muitas vezes do bar Semente, na Lapa, onde tocava, e ficava levando um som pela Rua Joaquim Silva, até o amanhecer. Só por gosto. Conforme o número de espaços para tocar foi aumentando, foram aparecendo mais músicos que, pouco a pouco, começaram a se frequentar por ali. Várias vezes fui, durante o intervalo do show com a Teresa e o Grupo Semente no Carioca da Gema, até o Democráticos, para ver os amigos tocarem. Também saía do antigo Dama da Noite, onde me apresentava com o Boitatá às terças-feiras, para assistir ao final do show do Casuarina no Semente. Aliás, foi quando conheci os Casuarinas. E também Moyseis Marques, que ainda fazia parte do grupo.
A troca de experiências que acontece na noite é muito importante para o músico. Devido à grande quantidade de colegas em atividade por metro quadrado na Lapa, esse movimento foi e continua sendo bastante intenso.
Durante os anos em que militei no bairro, conheci muita gente e aprendi um bocado. Em 2009, depois que me tornei pai de duas lindas gêmeas, muita coisa aconteceu. Lancei o “Pimenteira”, meu segundo CD, deixei meus queridos grupos e parti para a carreirasolo. Nesse período andei mais afastado da noite. Foi muito bom seguir em outra direção, cantando em teatros, viajando para fora do país e abrindo outras frentes. Estava um pouco cansado da noite, daquele ritmo de vida. Queria aproveitar o dia, minhas filhas... Mas, depois de alguns anos, deu saudade.
E estou de volta à noite, batendo ponto toda semana. A partir deste mês, o Centro Cultural Carioca, lugar pelo qual eu tenho um carinho especial e onde fico totalmente à vontade, será a minha casa às quintas-feiras. É o lugar onde vou experimentar repertório, cantar o que der na telha, manter a banda ensaiada, convidar amigos para canjas e, principalmente, receber o meu público. Quem quiser me ouvir sabe que vai me encontrar ali, dividindo com todos a alegria de voltar às origens.
Pedrinho Miranda é sambista