Rio -  Estou escrevendo a crônica com antecedência, na terça-feira, por motivo deviagem. Não será lida se o mundo acabar amanhã, quarta. Depende daquele ditador maluco da Coreia do Norte parecido com o Bolinha da Luluzinha, o Kim Jong, tataraneto do King Kong, com seus mísseis atômicos mirando a Coreia do Sul e o decadente imperialismo ianque como um todo. Segundo o noticiário, os artefatos seriam disparados na quarta. Nesse caso, o tal do mundo, como no samba do Assis Valente (cantado por Carmen Miranda e até por Adriana Calcanhotto) teria se acabado. E o poeta T. S. Eliot terá acertado uma vez, no primeiro verso do poema ‘Terra Devastada’ (“Abril é o mais cruel dos meses”) e errado no último de ‘Os Homens Ocos’ (“É assim que acaba o mundo / não com uma explosão, mas com um suspiro”). Se o dedo do gordinho sinistro apertar o botão, o jeito é dar uma de filósofo de botequim: o mundo começou e vai acabar com um Big Bang.
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O que Carmen Miranda e T. S. Eliot têm comum? Ambos nasceram num país e ficaram famosos em outro: a sambista carioca nasceu em Portugal, e o poeta inglês, nos Estados Unidos, em Missouri. E o que T. S. Eliot tem a ver com Assis Valente? Os dois fizeram poemas sobre o fim do mundo, respectivamente ‘O tal do mundo não se acabou’ e ‘Os homens ocos’. Dou uma pala do final de cada poema. T. S. Eliot: “A vida é muito longa./ Entre o desejo/ e o espasmo./ Entre a força / e a existência, / desce a sombra/ Pois o reino do céu é teu/ pois tua é a vida,/ pois tua é.../É assim que acaba o mundo/ É assim que acaba o mundo./É assim que acaba o mundo./ Não com um estrondo, / mas com um gemido.” Assis Valente: “Acreditei nessa conversa mole/Pensei que o mundo ia se acabar/E fui tratando de me despedir/ E sem demora fui tratando de aproveitar.../ Beijei a boca/ de quem não devia/ peguei na mão de quem não conhecia/ Dancei um samba/ em traje de maiô/ e o tal do mundo não se acabou...”
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As parecenças param por aí... ( repararam que nos dois poemas tem reticências, hoje execradas?) Eliot ganhou prêmio Nobel (não sei se virou Sir, perguntem a Ivan Junqueira, seu tradutor). Assis Valente não ganhou prêmio nenhum e matou-se tomando formicida com guaraná (parece verso de Aldir Blanc).