Rio -  Os olhos apertados, a postura encurvada e a mão no ar. Apontando para o alto, um pastor neopentecostal se vira para uma multidão dentro de uma igreja e esbraveja: “Um anjo virou o manche do avião onde estavam os Mamonas Assassinas, arremessando-os no morro. Ele libertou nossas crianças”. É um vídeo.
Em outra gravação, o alvo é John Lennon: “Um tiro pelo Pai, pelo Filho e Espírito Santo”, grita. Como detentor de uma verdade indiscutível, o pastor vibra: pela morte de inocentes, de jovens, de artistas e pelo sofrimento de famílias inteiras.
Os vídeos resgatados dos cultos do pastor Marco Feliciano, agora deputado, onde prega o ódio e a morte de artistas — aliás, publicados maciçamente, dentro de interesses eleitorais — se tornam alicerces de como sua mente reage ao mundo à sua volta e definem bem sua personalidade e seus valores. Presidindo a Comissão de Direitos Humanos e Minoras , o parlamentar vê escaparem de seu passado recente ideias que não são compatíveis com o colegiado que lidera.
Como presidenta da Comissão de Cultura da Câmara, me senti agredida. Como mãe e como cidadã também. Assistir aos vídeos, ler suas mensagens reverberadas em cunho fundamentalista nas redes sociais e presenciar seus atos contra a liberdade de expressão através da comissão é chocante. Cada vez mais, o pastor se afasta da possibilidade de continuar presidindo aquele colegiado.
Suas posições pessoais e religiosas sobre a sociedade não se encaixam na posição que ocupa, nem representa a maioria dos que professam a fé cristã, que jamais seriam avalistas de homicídios. Infelizmente, estão à margem do amor e da solidariedade os que se esgueiram pela existência dentro de cabrestos ideológicos, pregando a morte de adultos e jovens. Aliás, algo o atual presidente da Comissão de Direitos Humanos saiba representar bem: a sua própria e individual ‘verdade divina’.
Deputada federal pelo PCdoB e presidenta da Comissão de Cultura da Câmara dos Deputados