Rio -  Uma semana após dois dias consecutivos de falhas, a Supervia protagonizou, nesta sexta-feira, mais cenas de descontrole. Um descarrilamento de trem às 21h50 de quinta-feira, próximo à Central do Brasil — como ocorrera nos dias 4 e 5 —, provocou superlotações e atrasos em diversos ramais.
Foto: Alessandro Costa / Agência O Dia
Trens ficaram lotados com problemas em linha férrea | Foto: Alessandro Costa / Agência O Dia
O sistema só foi normalizado 14 horas depois. São Cristóvão virou "estação final" e não suportou a multidão. Pela manhã, entre Deodoro e Vila Militar, um homem caiu de um vagão tão cheio que circulava de portas abertas. Foi levado por bombeiros ao Hospital Albert Schweitzer, em Realengo.

Segundo a concessionária, uma falha na manutenção da via pode ter sido a causa dos descarrilamentos. A Supervia demitiu o profissional responsável pela área e prometeu entregar os laudos técnicos à Agetransp antes do prazo de 30 dias determinado pela agência reguladora.
Para especialistas, a causa mais provável para descarrilamento é a falha na via permanente , por onde os trens passam. Para o engenheiro de transporteFernando MacDowell, o problema é grave e pode ser evitado com manutenção adequada.

“Isso não é normal. Descarrilamento não pode ocorrer, ainda mais três em um mês. A Supervia precisa providenciar, com urgência, uma máquina computadorizada capaz de identificar as falhas na via permanente, composta de dois trilhos, dormentes (que segura os trilhos) e dormentes encaixados no lastro. Se não tem, deveria ter. Tem que fazer esse levantamento e colocar um pessoal qualificado para verificar”, disse o engenheiro, que ainda fez mais um alerta: “Isso pode ocorrer com os trens novos. Seria interessante verificar se eles estão com as folgas dentro do padrão brasileiro de 1,60 metro”.

Professor de Engenharia de Transporte da Coppe/UFRJ, Hostilio Ratton ressalta que o sistema foi implantado há anos e, mesmo com manutenção, pode ter sofrido com outros problemas.

“Por exemplo, quando o sistema foi implantado, a ocupação do solo era diferente. A urbanização pode ter modificado o nível dos lençóis d’água subterrâneos alterando o comportamento estrutural da fundação da via sem ter relação direta com o tráfego. Os agentes precisam de mais tempo para estudar o que aconteceu e implantar as medidas preventivas”, afirmou Ratton.
Estação São Cristóvão ficou superlotada nesta sexta | Foto: Foto: Leitora @debycostard
Estação São Cristóvão ficou superlotada nesta sexta | Foto: Foto: Leitora @debycostard
O descarrilamento também danificou o equipamento que liga o trem à rede aérea, provocando curto-circuito. O trem descarrilou a 700 metros da Central e com destino a Santa Cruz. Cerca de 400 passageiros andaram pelos trilhos até a plataforma da Central. Voltaram a embarcar às 23h.

Usuários sofrem

“Convivo com isso diariamente. Peguei o trem em Madureira e em cada estação ficava parado até 20 minutos. Desembarquei em São Cristóvão, que estava abarrotada de gente e mãe com bebê de colo tendo que enfrentar a multidão. Atravessei e peguei um trem para a Central, pois não consegui sair dali”, relatou Monique Cavalcante, de 24 anos.

O garçom Vagner Silva, 29, chegou no trabalho com duas horas de atraso: “Esperei o trem em Cordovil por 45 minutos. Não podia optar pelo ônibus, estava engarrafado demais. Tudo errado.”
Foto: Alessandro Costa / Agência O Dia
Carioca teve dia de cão na SuperVia | Foto: Alessandro Costa / Agência O Dia
O governador Sérgio Cabral disse que os trens passam por um momento de transição “de um sistema sucateado há décadas para equipamentos novos e modernos”.

O número de usuários passou de 370 mil, em 2007, para 600 mil atualmente. “Quando você bota equipamentos novos e modernos, aumenta a demanda. Já vi que o presidente (da Supervia) declarou que foi falha humana. A Agetransp vai certamente atuar nessa direção”.

Segundo ele, os 60 novos trens encomendados vão chegar no fim do primeiro semestre do ano que vem.
Revisão de aparelhos

A Agetransp informou que vai iniciar plano de ação para revisão dos aparelhos de mudança de via e aprimoramento do controle de qualidade da via permanente.

A agência afirmou ainda que, tendo em vista os incidentes recorrentes, a sua equipe técnica está realizando um levantamento da via permanente no pátio da Central do Brasil da SuperVia, onde serão verificados todos os 76 aparelhos de mudança de via naquele local.

O último descarrilamento, que ocorreu na quinta-feira, causou atrasos de cerca de 30 minutos, na manhã de ontem, em todos os ramais de Santa Cruz, na Zona Oeste; Deodoro, Zona Norte; Belford Roxo, Japeri e Saracuruna, na Bai