sábado, 6 de julho de 2013

Jaguar: Brasília sem Jorjão

Jaguar: Brasília sem Jorjão

Antes do seu primeiro bar, Brasília era chamada pejorativamente pelos cariocas de cidade sem esquinas

O DIA
Rio - Os últimos meses têm sido cruéis para a capital federal: perdeu seu criador, Oscar Niemeyer, e agora Jorge Ferreira, que a humanizou. Antes do seu primeiro bar, Brasília era chamada pejorativamente pelos cariocas de cidade sem esquinas. Ao lançar o Feitiço Mineiro, ele inventou a primeira esquina da cidade (espero que não tenham contado para o Oscar).
Brasília, nascida na prancheta do gênio, fechava antes das 22h. Havia sinistros bares-restaurantes, onde senhores engravatados comiam, bebiam e obviamente falavam de política e altas transações. Mas, em 2005, quando Célia foi trabalhar em Brasília — e moramos lá durante um ano —, Jorjão já tinha aberto, além do Feitiço, o Bar do Ferreira, o Mercado Municipal, o Bar Brasília e mais oito.
Lancei meu livro ‘Confesso que Bebi’ no Bar do Ferreira. Mineiro de Cruzília, foi para Brasília em 1985. Trotskista inabalável (talvez o último depois que Paulo Francis se foi), foi um dos fundadores da CUT e do PT. Até hoje é amigo do Lula. Lecionou na Fundação Cultural e Educacional do DF. Coordenou e implantou as cadeiras de Sociologia e Filosofia para o Ensino Médio e foi dirigente do Sindicado dos Professores. Paradoxalmente tinha grande tino empresarial, seus bares são um sucesso.
Como conciliava as duas coisas? “Aprendi a separar a política, minha vida particular e a empresarial; meus ideais estão sempre comigo.” Adorava ter os amigos por perto, sempre com um copo de chope à mão, até no ‘escritório’ onde despachava: uma mesa de bar debaixo de uma árvore no Feitiço.
Não dá para calcular sua contribuição cultural à cidade. Toda a constelação do sambão e da MPB passou pelo palco do Feitiço nos últimos 20 anos: mais de 5 mil shows. E ainda tinha tempo de ser poeta. Publicou, entre ouros livros, ‘Fazimento’, com desenhos do seu amigo Ziraldo. Era um sujeito fortíssimo, bebia melhor que dez Jaguares juntos.
Foi preciso um aneurisma seguido de uma isquemia para derrubá-lo. A grande sacanagem foi ter morrido antes de ver a goleada em cima da até então imbatível Fúria. Morreu estupidamente jovem aos 54 anos, no Rio, sua segunda paixão depois de Brasília. Aliás, terceira; a primeira era Denize, sua mulher.
Logo que o jogo começou pensei que as seleções tivessem trocado de camisa: os de amarelo eram os espanhóis. Os nomes dos craques ibéricos parecem de tempero (“Me dá 200 gramas de iniesta e um molho de xavi”). Ficará para sempre na minha memória o gol mais glorioso e bizarro da história : o que Fred fez deitado em berço esplêndido.


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