'Ajudei a colocar o Nilo na Portela. Se arrependimento matasse... Ele é ladrão'
Ex-diretores da agremiação, Adilson Martins Pacheco e Valfler Alves da Silva criticam atual presidente e fazem sérias denúncias
Ex-diretores da Portela, Adilson Martins Pacheco e Valfler Alves da Silva colocam fogo na já explosiva eleição da escola de samba, no próximo domingo. Há dois meses, prestaram depoimento na Polícia Federal e enumeraram irregularidades na Azul e Branca. Um desfile com direito a fraude eleitoral, desvio de verbas e desaparecimento. Acusações fortes contra o atual presidente Nilo Mendes Figueiredo, que foi procurado várias vezes pela reportagem para se defender, mas não retornou as ligações e recados.
No depoimento à Federal, vocês falaram de fraude eleitoral na Portela. Quando ela começou? Valfler - Em 2004. A Portela não tinha sócio-contribuinte, quem escolhia o presidente eram os conselheiros e diretores, eram votos de cabresto do Carlinhos Maracanã (Carlos Teixeira Martins), e a gente não gostava de como ele dirigia a escola. Na época, eu tinha carteira de conselheiro e não votei. A votação era roubada. Fui para a Justiça e conseguimos marcar nova eleição.
Adilson - Obrigamos a direção a fazer recadastramento para saber quem poderia votar.
Valfler - A Justiça autorizou a votar todo mundo que tivesse qualquer carteira da Portela, não só os conselheiros. O Carlinhos propôs um acordo: todo mundo que tivesse carteira antiga poderia votar, era só apresentar. Ele começou a distribuir e tomar carteiras.
Adilson - Fomos para uma reunião e o Nilo falou: tem que fazer 300 carteiras falsas.
Vocês fizeram? Valfler - O Nilo mandou fazer, a ideia foi dele, o cabeça do negócio. Eu, ele, o (Antonio) Moreira e o Jorjão ( Jorge Valentin) arrumamos um falsário. O Nilo pagou R$ 800 para ele. O cara fez as carteiras copiando a minha. Ficou bem feita. Colocamos no café para envelhecer, parecia real.
Adilson - Começou a aparecer carteiras de todo lugar. A Justiça proibiu um monte, cópias grosseiras. As nossas passaram. Eram bem parecidas.
Assim vocês ganharam? Valfler - Ganhamos por 15 votos...
Adilson - Na verdade, nós perdemos, o Marcos Aurélio Fernandes (apoiado por Carlinhos Maracanã) foi quem ganhou a eleição. O grupo de oposição se aproximou da mesa onde eram apurados os votos e eu esbarrei e derrubei a mesa. Na recontagem, levamos a eleição.
Valfler - Acho que ganharíamos de qualquer forma.
Adilson - Participei do roubo comandado pelo Nilo, ajudei a colocá-lo na Portela. Se arrependimento matasse... O Nilo roubou a escola, é ladrão!
Que provas vocês deram à Polícia Federal? Valfler - Entreguei a máquina onde as carteiras foram confeccionadas, os espelhos das carteiras falsas e os carimbos. Também apresentei as atas e a lista completa de quem usou as carteiras falsas. Tem muita gente que ainda hoje vota com elas.
Adilson - Quase todos os integrantes do Conselho Fiscal têm carteira falsa. O vice-presidente (Nilo Figueiredo Júnior) vota com carteira falsa.
O esquema de carteiras falsas continua? Valfler - Sim. O Nilo se elegeu três vezes com as carteiras falsas de 2004 e vai usar outra vez.
Adilson - Além das carteiras de 2004, tem mais outras 300 carteiras falsas, são associados excluídos que o Nilo mandou revalidar. O Jorjão é o cabeça de tudo hoje.
Valfler - Exato. O Nilo deu um monte de título de sócio-contribuinte, mas os caras deixaram de pagar as mensalidades. Aí viram que os caras não poderiam votar porque não estavam em dia. Sabe o que o Nilo fez? Anistiou todo mundo. Fez uma reunião, agora em abril, e liberou os inadimplentes, contrariando o estatuto da escola. E tem a história dos títulos falsos de sócio-benemérito. Deu mais de 200.
Quantos eleitores, afinal, estão ilegais hoje? Valfler - Certo não sei, não tenho a relação de quem está apto a votar, até agora não divulgaram a lista. Mas talvez uns 80%. Já falei: tudo isso vai dar muito problema no futuro, inclusive com a história das notas fiscais frias. Ele criou uma ONG para emitir notas frias, para comprovar gastos do dinheiro do governo para a Portela.
Então as fraudes vão além da eleição? Valfler - Ele não paga ninguém. No Carnaval, só usa material de péssima qualidade. Agora, vai ver a nota fiscal: é material de primeira. Não tem aprovação de contas na Portela. Veja lá a ata. Lista os conselheiros que aprovaram as contas, mas ninguém assina a ata.
Adilson - No Carnaval deste ano, a Portela recebeu R$ 7,5 milhões de verbas. Não dava para fazer um grande desfile? A escola está na dívida ativa, não paga luz nem água. O MP cobra os documentos na prestação de contas de 2006 e 2007.
A PF está investigando estes desvios, não é ?
Adilson - A Portela responde a 16 processos na Justiça. A Polícia Federal investiga os repasses do Governo Federal, negócio de uns R$ 2 milhões. Mas há outros. Ele recebeu o repasse de R$ 1 milhão da Petrobras. O dinheiro chegou no barracão na sexta-feira, véspera do Carnaval agora. Ele pegou R$ 300 mil, disse que era para tirar o que tinha colocado na escola, e deu os outros R$ 700 mil para o filho. O dinheiro sumiu.
Valfler - E o serviço de odontologia? A dentista de lá recebe R$ 1,8 mil por mês para não prestar serviço algum.
Adilson - Teve o repasse de R$ 500 mil da Piraquê — fábrica de massas e biscoitos — para a Portela fazer uma alegoria no desfile deste ano. Ele colocou o dinheiro no bolso e o carro não entrou na Avenida. A empresa cobra dele agora.
Sempre foi assim? Valfler - Desde o começo. No primeiro Carnaval, ele viu que era fácil enrolar e não prestar contas. Culpava os outros pelos desfalques e seguia enrolando.
Adilson - O problema é que Nilo não pode ver uma nota na mão. Só não pega de R$ 200 porque sabe que é falsa.
Valfler - Houve desvio de verba em todos os carnavais, com certeza.
No primeiro Carnaval da Era Nilo (2005) já teve problemas? Adilson - Poxa. Não tínhamos carnavalesco nem dinheiro em caixa. O Nilo não dava dinheiro. Com ajuda, conseguimos comprar o material para as fantasias e os carros. Planejamos um desfile com 5 mil componentes, mas não sabíamos que o Nilo ia colocar uns ‘amigos’ por fora. Na hora, foram sete mil pessoas. Foi o caos.
Valfler - Um dia antes do Carnaval, um deputado trouxe 10 meninas e ia pagar R$ 70 mil para elas desfilarem. O Nilo cresceu o olho. Mandou soldar 10 barras de ferro no abre-alas para colocar as garotas. Na hora, pegou fogo no isopor e queimou a Águia da Portela. Essa é a história do Carnaval sem Águia.
Esse foi o desfile que a Velha-Guarda ficou a pé, né? Valfler - Ele queria se vingar. A Velha-Guarda, na eleição, tinha votado com Carlinhos Maracanã. O filho Nilinho deixou de abastecer o carro da Velha-Guarda e ficou com a verba.
Adilson - Ele não pagou os R$ 53 mil que peguei com a Dona Ivone para ajudar no Carnaval de 2005. Mandou cobrar de mim. Mas o recibo apareceu na prestação de contas dele daquele ano e alterado para R$ 153 mil.
Com tantos desvios de recursos, onde foi parar o dinheiro da Portela? Valfler - O Nilo chegou no Comitê da Portela em 2004, arrastando chinelo. Hoje, ele tem dois BMW, um apartamento em Miami, a mulher tem três táxis.
Adilson - São três carros blindados, a casa em Miami e a esposa tem carro blindado.
Valfler - Como ele pode ter tudo isso, como o Nilo pode bancar tudo isso? Com o salário de capitão da Marinha? É ruim, meu irmão.
Qual a razão de vocês só falarem agora? Valfler - O Nilo vem dos porões da Ditadura...
Adilson - Não procurei a Federal antes com medo da segurança dele. Somos arquivos e temia.
Valfler - O Nilo já respondeu por homicídio no passado e tem a história do Dentinho, o rapaz que sumiu do barracão da escola depois que pegou um dinheiro e não completou o serviço. Deve ter ido para o microondas. Tenho medo. Pelo sim ou pelo não, vou me garantir. Neste momento, falar à Federal é uma garantia.
Adilson - Faço isso também pela Portela, minha paixão. Esse rapaz (Nilo) me chamou de ladrão. Passei anos afastado da escola por vergonha. Hoje a nação portelense vai saber quem é o ladrão.
No depoimento à Federal, vocês falaram de fraude eleitoral na Portela. Quando ela começou? Valfler - Em 2004. A Portela não tinha sócio-contribuinte, quem escolhia o presidente eram os conselheiros e diretores, eram votos de cabresto do Carlinhos Maracanã (Carlos Teixeira Martins), e a gente não gostava de como ele dirigia a escola. Na época, eu tinha carteira de conselheiro e não votei. A votação era roubada. Fui para a Justiça e conseguimos marcar nova eleição.
Valfler - A Justiça autorizou a votar todo mundo que tivesse qualquer carteira da Portela, não só os conselheiros. O Carlinhos propôs um acordo: todo mundo que tivesse carteira antiga poderia votar, era só apresentar. Ele começou a distribuir e tomar carteiras.
Adilson - Fomos para uma reunião e o Nilo falou: tem que fazer 300 carteiras falsas.
Vocês fizeram? Valfler - O Nilo mandou fazer, a ideia foi dele, o cabeça do negócio. Eu, ele, o (Antonio) Moreira e o Jorjão ( Jorge Valentin) arrumamos um falsário. O Nilo pagou R$ 800 para ele. O cara fez as carteiras copiando a minha. Ficou bem feita. Colocamos no café para envelhecer, parecia real.
Adilson - Começou a aparecer carteiras de todo lugar. A Justiça proibiu um monte, cópias grosseiras. As nossas passaram. Eram bem parecidas.
Assim vocês ganharam? Valfler - Ganhamos por 15 votos...
Adilson - Na verdade, nós perdemos, o Marcos Aurélio Fernandes (apoiado por Carlinhos Maracanã) foi quem ganhou a eleição. O grupo de oposição se aproximou da mesa onde eram apurados os votos e eu esbarrei e derrubei a mesa. Na recontagem, levamos a eleição.
Valfler - Acho que ganharíamos de qualquer forma.
Adilson - Participei do roubo comandado pelo Nilo, ajudei a colocá-lo na Portela. Se arrependimento matasse... O Nilo roubou a escola, é ladrão!
Que provas vocês deram à Polícia Federal? Valfler - Entreguei a máquina onde as carteiras foram confeccionadas, os espelhos das carteiras falsas e os carimbos. Também apresentei as atas e a lista completa de quem usou as carteiras falsas. Tem muita gente que ainda hoje vota com elas.
Adilson - Quase todos os integrantes do Conselho Fiscal têm carteira falsa. O vice-presidente (Nilo Figueiredo Júnior) vota com carteira falsa.
O esquema de carteiras falsas continua? Valfler - Sim. O Nilo se elegeu três vezes com as carteiras falsas de 2004 e vai usar outra vez.
Adilson - Além das carteiras de 2004, tem mais outras 300 carteiras falsas, são associados excluídos que o Nilo mandou revalidar. O Jorjão é o cabeça de tudo hoje.
Valfler - Exato. O Nilo deu um monte de título de sócio-contribuinte, mas os caras deixaram de pagar as mensalidades. Aí viram que os caras não poderiam votar porque não estavam em dia. Sabe o que o Nilo fez? Anistiou todo mundo. Fez uma reunião, agora em abril, e liberou os inadimplentes, contrariando o estatuto da escola. E tem a história dos títulos falsos de sócio-benemérito. Deu mais de 200.
Adilson - A Portela é comandada hoje por um grupo de ladrões. Há beneméritos que foram agraciados com carteiras de diretores e nunca foram sócios nem ajudaram a escola. O Paulinho da Viola, por tudo o que fez até hoje pela Portela, não tem título benemérito.
Então as fraudes vão além da eleição? Valfler - Ele não paga ninguém. No Carnaval, só usa material de péssima qualidade. Agora, vai ver a nota fiscal: é material de primeira. Não tem aprovação de contas na Portela. Veja lá a ata. Lista os conselheiros que aprovaram as contas, mas ninguém assina a ata.
Adilson - No Carnaval deste ano, a Portela recebeu R$ 7,5 milhões de verbas. Não dava para fazer um grande desfile? A escola está na dívida ativa, não paga luz nem água. O MP cobra os documentos na prestação de contas de 2006 e 2007.
A PF está investigando estes desvios, não é ?
Adilson - A Portela responde a 16 processos na Justiça. A Polícia Federal investiga os repasses do Governo Federal, negócio de uns R$ 2 milhões. Mas há outros. Ele recebeu o repasse de R$ 1 milhão da Petrobras. O dinheiro chegou no barracão na sexta-feira, véspera do Carnaval agora. Ele pegou R$ 300 mil, disse que era para tirar o que tinha colocado na escola, e deu os outros R$ 700 mil para o filho. O dinheiro sumiu.
Valfler - E o serviço de odontologia? A dentista de lá recebe R$ 1,8 mil por mês para não prestar serviço algum.
Adilson - Teve o repasse de R$ 500 mil da Piraquê — fábrica de massas e biscoitos — para a Portela fazer uma alegoria no desfile deste ano. Ele colocou o dinheiro no bolso e o carro não entrou na Avenida. A empresa cobra dele agora.
Sempre foi assim? Valfler - Desde o começo. No primeiro Carnaval, ele viu que era fácil enrolar e não prestar contas. Culpava os outros pelos desfalques e seguia enrolando.
Adilson - O problema é que Nilo não pode ver uma nota na mão. Só não pega de R$ 200 porque sabe que é falsa.
Valfler - Houve desvio de verba em todos os carnavais, com certeza.
No primeiro Carnaval da Era Nilo (2005) já teve problemas? Adilson - Poxa. Não tínhamos carnavalesco nem dinheiro em caixa. O Nilo não dava dinheiro. Com ajuda, conseguimos comprar o material para as fantasias e os carros. Planejamos um desfile com 5 mil componentes, mas não sabíamos que o Nilo ia colocar uns ‘amigos’ por fora. Na hora, foram sete mil pessoas. Foi o caos.
Valfler - Um dia antes do Carnaval, um deputado trouxe 10 meninas e ia pagar R$ 70 mil para elas desfilarem. O Nilo cresceu o olho. Mandou soldar 10 barras de ferro no abre-alas para colocar as garotas. Na hora, pegou fogo no isopor e queimou a Águia da Portela. Essa é a história do Carnaval sem Águia.
Esse foi o desfile que a Velha-Guarda ficou a pé, né? Valfler - Ele queria se vingar. A Velha-Guarda, na eleição, tinha votado com Carlinhos Maracanã. O filho Nilinho deixou de abastecer o carro da Velha-Guarda e ficou com a verba.
Adilson - Ele não pagou os R$ 53 mil que peguei com a Dona Ivone para ajudar no Carnaval de 2005. Mandou cobrar de mim. Mas o recibo apareceu na prestação de contas dele daquele ano e alterado para R$ 153 mil.
Com tantos desvios de recursos, onde foi parar o dinheiro da Portela? Valfler - O Nilo chegou no Comitê da Portela em 2004, arrastando chinelo. Hoje, ele tem dois BMW, um apartamento em Miami, a mulher tem três táxis.
Adilson - São três carros blindados, a casa em Miami e a esposa tem carro blindado.
Valfler - Como ele pode ter tudo isso, como o Nilo pode bancar tudo isso? Com o salário de capitão da Marinha? É ruim, meu irmão.
Qual a razão de vocês só falarem agora? Valfler - O Nilo vem dos porões da Ditadura...
Adilson - Não procurei a Federal antes com medo da segurança dele. Somos arquivos e temia.
Valfler - O Nilo já respondeu por homicídio no passado e tem a história do Dentinho, o rapaz que sumiu do barracão da escola depois que pegou um dinheiro e não completou o serviço. Deve ter ido para o microondas. Tenho medo. Pelo sim ou pelo não, vou me garantir. Neste momento, falar à Federal é uma garantia.
Adilson - Faço isso também pela Portela, minha paixão. Esse rapaz (Nilo) me chamou de ladrão. Passei anos afastado da escola por vergonha. Hoje a nação portelense vai saber quem é o ladrão.
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