domingo, 30 de junho de 2013

A seca tem rosto, nome e sobrenome

A seca tem rosto, nome e sobrenome

Série do DIA mostra a dimensão humana da maior seca dos últimos 50 anos no Brasil

O DIA - ALEXANDRE MEDEIROS
Rio - Se fosse lembrada só por números, a seca que assola o Nordeste desde o ano passado já justificaria o título de a maior dos últimos 50 anos. Mais de 1.400 municípios foram atingidos — todos os 1.133 do semiárido entraram em situação de emergência. Em Pernambuco, o rebanho bovino foi reduzido à metade: de 2,1 milhões de cabeças, 200 mil morreram de fome ou sede, 500 mil tiveram de ser abatidas precocemente, e 300 mil foram vendidas ou transferidas para outros estados.
Mas nada traduz melhor esse flagelo do que os dramas dos sertanejos — e são eles que o DIA começa a mostrar hoje, em uma série de cinco capítulos. Dramas como o de Filomeno Evangelista (foto), de Assaré (CE), agricultor de 73 anos, homem talhado por sofrimentos. “Como essa, eu nunca vi. Tive até que comprar feijão”, diz Filomeno, conhecido como Dadá, estupefato por ter de comprar em bodega o que a terra sempre lhe deu. A série começa com a história de uma carta que percorreu 2.025 quilômetros do assentamento rural de Monte Alegre, em Upanema (RN), ao Rio de Janeiro. Foi escrita por Wigna Graziele, uma menina de 12 anos que, assim como Dadá, começa a talhar sua vida na seca.
Vídeo:  A seca tem rosto, nome e sobrenome
Entre carcaças, rezas e mandacarus
Foto:  Arte O Dia
Para encontrar os personagens desta série de cinco capítulos que hoje se inicia e que vai até a próxima quinta-feira, o repórter Alexandre Medeiros e o repórter-fotográfico Severino Silva percorreram 1.466 quilômetros pelos estados do Rio Grande do Norte, Paraíba, Ceará e Pernambuco, com paradas em 12 cidades, ao longo de uma semana de viagem. A paisagem predominante: carcaças de animais abandonadas à beira de estradas, a caatinga seca, os mandacarus cortados pelos sertanejos para dar de comer aos animais.
Alexandre e Severino aos pés da Estátua do Padre Cícero, em Juazeiro (CE)
Foto:  Alexandre Medeiros / Agência O Dia
Ao longo desse caminho, a equipe foi consolidando uma impressão já disseminada entre os sertanejos, mesmo os mais esperançosos por dias melhores: a de que a seca pior está por vir. Muitos já guardam em casa estoques de sacas de 60 quilos de milho, compradas a R$ 18 nos entrepostos da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), para dar de comer aos animais na estiagem que se avizinha. Ela começa em agosto e, até janeiro, não chove mais.


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