domingo, 30 de junho de 2013

Décadas de amor: Há 52 anos na escola, Dona Beta é a curinga da Vila Isabel

Décadas de amor: Há 52 anos na escola, Dona Beta é a curinga da Vila Isabel

Sambista passou a fazer parte da diretoria na década de 80 e, agora, tem cargo de vice-presidente e diretora administrativa

RAFAEL ARANTES
Rio - Boulevard Vinte e Oito de Setembro, 382. É neste endereço que a Vila Isabel realiza seus ensaios e eventos e onde também vive presente a famosa Dona Beta, atual vice-presidente da escola. Residente no prédio constrído sobre o local da antiga casa de Noel Rosa, Elizabeth Aquino é um dos nomes mais conhecidos na Azul e Branca. Dos 61 anos de idade, são 52 dedicados ao pavilhão da escola onde tem uma longa história. De desfilante à vice-presidência, a sambista já marcou seu nome no hall da fama da Vila e a trajetória, além de muito bela, também deve continuar alcançando passos ainda mais vitoriosos.
"Tenho muito orgulho de ter visto a evolução da Vila e ter feito parte disso tudo. Não tem como separar isso de mim. Minha vida está toda linkada à Vila Isabel"Dona Beta, Vice-presidente e diretora administrativa da Unidos de Vila Isabel
A caminhada é intensa. Dona Beta já passou por diversos segmentos da Vila Isabel. Após começar a frequentar a escola aos nove anos, a sambista se relaciona com um dos mais marcantes sambas de enredo da escola. "E foi passista, brincou em ala. Dizem que foi o grande amor do mestre-sala". Na verdade, o amor foi outro, mas a história é semelhante. Dona Beta foi casada com um ilustre locutor da agremiação, hoje já falecido, mas deixou seu nome marcado como desfilante, passista, colaboradora, secretária, diretora e muitas outras funções.
História de amor: Dona Beta está na Vila Isabel há 52 anos
Foto:  Arte: O Dia Online
Dos 52 desfiles, as lembranças são as mais intensas. Beta viveu momentos de glórias e dificuldades. Esteve presente desde o tempo em que a escola ainda dava seus primeiros passos, viu a grande evolução da Azul e Branca. Dona Beta esteve presente nos quatro títulos da agremiação, tanto no Grupo Especial, quanto no Acesso, vivenciou a complicada fase ocorrida na época em que a escola foi despejada de onde se instalava, no antigo campo do América. Hoje, a situação é outra. O tempo passou, as dificuldades encontradas foram superadas e a sambista tem muito orgulho de ver o quanto a escola do coração conseguiu evoluir.
Confira o depoimento de Dona Beta sobre alguns momentos da grande trajetória na Vila:
Primeiros passos - A partir de 1961
Comecei a frequentar a Vila quando tinha nove anos. A quadra era praticamente do lado da minha casa e passei a ir com alguns amigos. Na época, meus pais não gostavam da ideia, sempre tinha que dar um jeitinho de fugir para ir ao samba. Fugir mesmo, esperava todo mundo dormir para sair. Cheguei até a pular o muro para ir aos ensaios. Até que em uma das vezes que cheguei em casa minha mãe estava acordada. Aí já era, bateu e tudo (risos). Com o tempo, meu pai passou a me acompanhar e aí eu conseguia ir com mais tranquilidade.
Sambista guarda Dvd's de todos os desfiles da Vila Isabel desde 1961
Foto:  Rafael Arantes / Agência O Dia
Desfiles em ala e como passista - Dos nove aos 30 anos
Meu primeiro desfile foi logo de cara, em 1961 mesmo. Na época, as coisas não eram como atualmente. Reuníamos um grupo de amigos e desfilavamos juntos, geralmente com aquelas fantasias de cetim, como havia muito na época. Com o passar do tempo continuei desfilando, nunca parei. Aos 17 anos, a diretoria da escola me convidou para que me tornasse passista. Sempre gostei de sambar na quadra, então nem pensei em recusar. Desfilei como passista até os 30 anos.
De foliã à funcionária - A partir de 1983
Eu sempre estava na escola. Lembro muito bem de como as coisas foram acontecendo. Aos 31 anos, o Djalma Vitório, famoso Cachimbinho me convidou para colaborar com a diretoria. Não era um trabalho em si. Eu estava na escola sempre fora do meu expediente de trabalho. Antigamente não havia esta tecnologia toda de hoje. Era tudo escrito a mão ou então nas velhas máquinas de datilografar. Então eu estive ali sempre ajudando. O tempo foi passando e eu continuei ali. Tudo foi acontecendo de uma maneira espontânea. Depois de colaboradora me tornei secretária, diretora social, secretária executiva e em 2000 me tornei diretora de admnistração. Depois disso, em 2011 acabei passando a desempenhar a função de vice-presidente junto ao cargo na diretoria de admnistração. Mas se uma pessoa foi crucical para este meu início na diretoria foi o Tio Djalma, como eu costumava o chamar.
Dona Beta (branco) já foi passista da escola do coração
arquivo pessoal
Títulos inesquecíveis - 1988, 2004, 2006 e 2013
Todos os títulos são especiais, cada um com sua peculiaridade. Paraty, em 2004, foi muito legal pelo fato de ter marcado nosso retorno para o Grupo Especial. Em 2006 tudo foi maravilhoso também, conseguimos um título pouco tempo após voltar para a elite do Carnaval. Neste ano então nem se fala. Foi a consagração, o título que estávamos esperando e ficando no quase, como foi em 2009 e 2012. Mas no geral, Kizomba é realmente inesquecível. Foi tudo muito mágico, uma grande mística. Ninguém esperava que a Vila fosse campeã naquele ano, mas na Avenida foi tudo diferente. Não sei bem como explicar essas coisas, tudo bem que a memória também não é exata, mas foi uma coisa muito especial, incrível mesmo.
Momento para a eternidade - Representando Aracy de Almeida, Carnaval de 2010
Guardo cada desfile com muito carinho. Já são mais de 50 vezes na Avenida e sempre desfilei só pela Vila. Gosto muito do Raízes e do Carnaval de Ilusões também. Mas faz pouco tempo que tive um grande momento. Em 2010, quando falamos sobre Noel Rosa, estive como destaque no último carro da escola. Representei Aracy de Almeida ao lado do amigo Rafael Raposo, que homenageou o Noel. Foi incrível, tudo muito perfeito, muito parecido. Estar no último carro, vendo tudo do final e sabendo que todos esperavam por nossa passagem. Olha, foi muito bom, sem palavras mesmo. Um momento marcante.
Dona Beta já recebeu diversas homenagens da escola
Foto:  Pawel Loj / Divulgação
Especial para toda a vida - 52 anos na escola
Na Vila eu tenho tudo que preciso. Lá é o meu trabalho, é onde estão meus amigos, é o meu lazer. E tudo isso está aqui do lado, a cinco minutos da minha casa. Toda minha vida está lá. Não tem como separar isso de mim. A minha vida está toda linkada com a Vila Isabel. É um lugar que me sinto bem, o lugar que passei grande parte da minha história. São momentos que ficam na memória e nunca serão esquecidos. É uma grande história de amor.
Projetando mais sucesso - Futuro em pauta
Não há um grande sonho, tudo isso que vivo já é uma maravilha. O que eu desejo para a Vila é que continue se organizando, que siga evoluindo, sempre crescendo. Sou muito orgulhosa de participar de tamanha caminhada que a escola tem feito. Meu maior orgulho é ter visto toda esta evolução de perto e ainda ter feito parte disso tudo. Claro que no fundo sonho com mais títulos, mas quero o bem geral da escola, isso sim.


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