Rio -  Bento 16 formalizou sua renúncia nesta semana. Há quase 600 anos um Papa não renunciava, embora o recurso esteja previsto no Direito Canônico.
Numa era em que muitos políticos primam pelo apego ao poder, foi um grande gesto de humildade de Bento 16 abrir mão do trono de Pedro e convocar os cardeais da Igreja Católica a um novo conclave.
Vários fatores influíram na sua decisão: as denúncias de pedofilia; a traição de seu mordomo; o vazamento de documentos sigilosos do Vaticano; a corrupção no Banco do Vaticano, que levou à demissão de seu presidente; a rede clandestina de serviços sexuais oferecidos em Roma por seminaristas homossexuais. A Igreja Católica está em crise na Europa. As escolas de formação de novos padres encontram-se praticamente vazias.
Além disso, Bento 16 é um intelectual, mais interessado em livros do que na administração de uma instituição tão complexa como a Igreja Católica. Basta dizer que durante seu pontificado, que durou 8 anos, conseguiu escrever e publicar uma trilogia sobre Jesus. Em geral, papas assinam documentos redigidos por assessores. São raros os casos de papas-autores como Ratzinger.
Quem e como será o novo Papa? A eleição, possivelmente na segunda quinzena de março, será decidida por 116 cardeais, dos quais cinco virão do Brasil. São pequenas as chances de ser eleito um prelado latino-americano ou africano.
A Igreja é, ainda, demasiadamente eurocentrada. Tudo indica que o eleito será um europeu (eles são 61 no colégio cardinalício com direito a voto) com menos de 73 anos. Isso porque a barca de Pedro já não suporta tantos conclaves em tão curto período de tempo. Basta dizer que, em quase sete décadas de existência, assistirei ao sexto conclave.
Frei Betto é escritor, autor de ‘Um homem chamado Jesus’ (Rocco)