Moacyr Luz: Prato do dia
Rio - Não acredito! Pé de galinha, numa cabidela sem sangue, coberto de pimentas vermelhas, dessas que só ardem no olho? Maravilha!
— Não adianta! Só frequento pé sujo! É a minha praia...
Lembrei dos meus 20 anos. Só mesmo sendo o mais valente da região pra encarar um camarão em botequim. Apenas os insanos degustavam os cozidos jilós na travessa de louça, ou igualmente destemidos, nacos da mortadela de combate. Belas exceções provinham dos assados, lagartos ou pernil, com destaques honrosos à capa de filé, encharcada de cominho no molho.
— E, eu, purinha envelhecida em barril de umbuarama...
Na gangorra do tempo a memória sorve outra uca de litro, traçando com cerveja preta de chapinha enferrujada.
Sugiro ao Marcio, o Rato do Beco:
— Que tal preparar uns pés de galinha pra essa imperial turma da malandragem aqui ao lado?
Manicure feita, o regabofe foi servido com os requintes da etiqueta francesa, um original coq au vin de época.
— Que tal preparar uns pés de galinha pra essa imperial turma da malandragem aqui ao lado?
Manicure feita, o regabofe foi servido com os requintes da etiqueta francesa, um original coq au vin de época.
Mal o aparador assentou dando conforto ao pirex com o quitute, um salto Daiane foi executado na praça desse botequim. As meninas gritavam coisas próximas a “que horror! Eca! Ninguém merece!” Enquanto os rapazes, esbugalhados, apostavam a noiva que se tratava de um chupa-cabra a passarinho. O resumo de ópera Babete é simples: cada um entende a vida e suas referências. Hoje, acompanho à distância perseguições yonescas com movimentos de bullying ao paladar alheio.
O seu bar preferido pode ter moscas ou essências indianas no piso hidráulico. Um sommelier, um chefe sensível, ou até mesmo um mal-humorado profissional que insiste na proibição de batucar ou tocar instrumentos , principalmente cavaquinhos. A vida é tão curta, que, na medida certa, quem decide a gordura é você.
Em tempo: o pé de galinha foi preparado em homenagem a Chico Sales, grande forrozeiro, nordestino carioca, que introduziu zabumba e sanfona na comida do Botero. Estou curioso com o prato do dia quando o domingo estiver pra boleros.
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