Rio -  A presidente do Portal Kids, Wal Ferrão, denunciou ontem à Organização dos Estados Americanos (OEA) violação dos direitos humanos cometida durante investigação do desaparecimento de 17 crianças no Rio. Nesta quarta-feira ela vai pedir à Comissão de Direitos Humanos da OAB que também interceda junto à OEA.

Conforme publicado nesta terça-feira com exclusividade pelo DIA, 15 inquéritos policiais estão parados há mais de dez anos na Polícia Civil e, no entanto, ainda não foram encaminhados ao Ministério Público.

“Chega! Está na hora de os inquéritos saírem das mãos da Polícia Civil. Cheguei a levar o caso para o então presidente Lula, mas nada aconteceu. Só me resta recorrer às entidades internacionais”, disse Wal Ferrão.
Foto: Uanderson Fernandes / Agência O Dia
Raquel Gonçalves, tia da menina Larissa, sequestrada em 2008 | Foto: Uanderson Fernandes / Agência O Dia
Um dos casos chamou a atenção da organização. Trata-se do inquérito de Thaís Barros, sequestrada aos 9 anos em dezembro de 2002.

Há 11 anos parado na Delegacia de Proteção a Criança e Adolescente (DPCA), e apesar de o caso não ter sido encaminhado ao Ministério Público, o retrato falado do acusado de sequestrar Thaís foi reconhecido também por familiares de Larissa Gonçalves, sequestrada seis anos depois.

A ONG Portal Kids estranha que Fernando Marinho tenha sido condenado pelo sequestro de Larissa, mas que o caso de Thaís permaneça em fase de inquérito desde 2002, mesmo que se trate do mesmo acusado.

Indignação

Segundo Elisabeth de Lima Barros, mãe de Thaís, a indignação é diária: “Há 11 anos peço a abertura do processo mas sou ignorada. Sempre que aparece algum investigador interessado, ele é trocado. Já insinuaram que a culpa era minha, quando questionaram se a minha filhinha de 9 anos não teria fugido para a casa de um namoradinho”, disse, emocionada.

Condenado a quatro anos por sequestro qualificado, Fernando Marinho de Melo, reconhecido por familiares em mais de dez casos que permanecem em fase de inquérito desde 2002, teve a pena convertida para prestação de serviços comunitários.

Mães não contam com a Polícia

A deputada federal Andreia Zito diz que o Cadastro Nacional de Desaparecidos, em teste desde 2010, não funciona. “A ideia do cadastro (www.desaparecidos.gov.br) é reunir informações e agilizar o registro de desaparecidos. No entanto, ele não é atualizado, e os dados não correspondem à realidade”.

A falta de delegacias especializadas, segundo ela, também dificulta o resgate da criança.

Para a deputada federal Lílian Sá, não há investigação. “Temos vários casos enigmáticos aqui no Rio de Janeiro. As mães estão arriscando as próprias vidas para acharem seus filhos sem ajuda da polícia”.

Silêncio para não prejudicar investigações

Segundo a delegada Bárbara Lomba, titular da Delegacia de Proteção a Criança e ao Adolescente (DPCA), os inquéritos estão em curso, mas nenhuma informação pode ser divulgada para não atrapalhar as investigações.

Foi criado ontem o movimento “E se fosse a minha filha?”, para que a pena de Fernando Marinho de Melo seja revista, além de pedir que os inquéritos passem para a Polícia Federal.