sábado, 15 de junho de 2013

Jaguar: Millôrou

Jaguar: Millôrou

Resolvi apelar mais uma vez para o caudaloso Millôr, este Amazonas de ideias e palavras, para quebrar o meu galho

O DIA
Rio - Por motivo inadiável e inenarrável, para mandar esta crônica para a redação em tempo hábil tive me valer de métodos escusos. Ou melhor: escuso (existe o singular?). Resolvi apelar mais uma vez para o caudaloso Millôr, este Amazonas de ideias e palavras, para quebrar o meu galho. Sorte do leitor. Millôr, de algum lugar, deve estar pensando: “O Jaguar era melhor quando bebia.” Com isso, a crônica vai ficar melhorada, digo, millôrada. Escolhi alguns dos 167 poemas do seu livro (L&PM Pocket). Escolhi os mais curtinhos, quase hai-kais. Prova: Olha,/ Entre um pingo e outro/ A chuva não molha.
Poeminha Social: Mesmo dito com cuidado/ Sem qualquer provocação/ “De gosto não se discute”/ Traz logo uma discussão. Poeminha com Estalo de Vieira: Entendi:/ Sofisticação/ Contestação/ Liberação/ É só sentar no chão. Poeminha à Glória Televisiva: Não me contem!/ Ele era tão famoso/ Antes de ontem! Cuidado, Quem vê cara...: O medo tem olho humano/ O ódio, voz de paquera/ O terror/ cara de gente/ O amor, fúria de fera. Poeminhas devolutos (Aos que contam proezas etílicas): Porre, porre,/ Tomava o Peter Lorre. Poeminha Ecológico: Enquanto Ludwig/ Destrói uma Amazônia/ Com seus tratores,/ Eu, aqui em Ipanema,/ Rego meu pote de flores. Três poeminhas de estilo: Estilo I — Estilo?/ É quando o detrator/ Diz com desdém:/ “Coisas do Millôr!”. Estilo II — O burocata./ Não sabias?/ Teve filhos/ Em três vias. Estilo III — Escritor;/ Põe no teu breviário: Leitor/ Não tem dicionário. Humildade 1980: Eremita, me afundo/ No deserto, pra ser/ O centro do mundo. Novidade, Só a Primeira (À vanguarda que se crê Vanguarda): Garanto:/ O primeiro poeta que rimou/ Foi um espanto!/ Mais, muito mais,/Meu irmão,/ Do que o primeiro/ Foi o que não. Réquiem: “QUEM MATOU MILLÔR FERNANDES ?”/ Perguntará a manchete d’O DIA / Enquanto o assassino vai ao enterro/ Cheio de alegria. Poeminha com Saudade de Mim Mesmo: Quando eu morrer/ Vão lamentar minha ausência/ Bagatela/ Pra compensar o presente/ Em que ninguém dá por ela.
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Quem quiser mais, compre o livro. E vá ler no banco e no Largo do Millôr, no Arpoador.


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