Pesquisadores buscam na Antártica micróbios que purifiquem esgotos urbanos
Foto: Reprodução internet
Mas Léa explica o projeto de maneira sucinta e didática: "Estamos desenvolvendo o tratamento de águas residuais com bactérias". "É um processo muito interessante, o problema é que funciona a 37 graus, enquanto a temperatura das águas residuais nas cidades europeias ou no sul do Chile, por exemplo, é muito mais baixa. O processo de aquecimento significa um custo enorme", comenta.
"A ideia é buscar sedimentos em zonas úmidas com uma camada superior de gelo ou neve que facilite a digestão anaeróbica, porque as bactérias que produzem metano não funcionam na presença de oxigênio", acrescenta. Segundo a doutora francesa, que está há um ano e meio trabalhando no Chile, "descobrir bactérias dessa natureza em um meio como o antártico permitiria tratar as águas residuais de áreas frias do mundo, onde a temperatura média é de dez graus".
"Nós buscamos um consórcio, uma comunidade microbiana com centenas de espécies diferentes que trabalhem interagindo umas com outras", detalha a doutora Léa, que se mostra otimista sobre os resultados que possa alcançar o trabalho de campo. "Acredito muito nas amostras que colhemos ontem (na ilha Rei George), porque havia muita matéria orgânica dos leões marinhos e isso é uma fonte de nutrientes para as bactérias.
Além disso, nos poços de água se viam borbulhas, e isso indica que está saindo gás da camada de sedimentos", afirma. Para uma bactéria desse tipo, se alimentar da matéria orgânica que há no solo antártico ou dos resíduos humanos dá exatamente no mesmo, porque envolve os mesmos processos metabólicos. No projeto da pesquisadora participam a Universidade Católica de Valparaíso e a de Concepción no Chile, a Universidade de Lyon (França) e a Universidade Técnica da Dinamarca.
Após ser submetida à avaliação de duas comissões de microbiologista, em setembro do ano passado a pesquisa foi incorporada ao programa do Instituto Antártico Chileno (INACH), uma instituição pública que atualmente subsidia 64 projetos. Até hoje, nenhuma instituição privada financia o estudo dessas microbactérias, mas algumas empresas, como a espanhola Águas Andinas, já mostraram seu interesse em outros projetos vinculados a essa pesquisa.
Após a coleta de amostras em várias partes do território antártico e a realização de análise preliminares, Léa Cabrol e sua equipe da Universidade Católica de Valparaíso terão mais três anos de trabalho em laboratório antes de saber se esses grupos microbianos finalmente servem para o objetivo que buscam. Caso não sirvam, os cientistas continuarão tentando, "porque na pesquisa científica a questão é saber como é preciso enfrentar coisas que nem sempre funcionam, de aceitar o fracasso e buscar que na próxima vez as coisas saiam melhor", resume Léa.
As informações são da EFE
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