Rio -  A circulação de ônibus depreciados passou a preocupar ainda mais os passageiros após o acidente que deixou sete mortos no dia 2 de abril, quando um ônibus caiu de um viaduto sobre a Avenida Brasil, na Ilha do Governador.

Além dos problemas apresentados nas composições da empresa Paranapuan S/A, que está na mira do Ministério Público, O DIA constatou problemas que afetam outras empresas. Não é preciso muito tempo para verificar que frotas da Viação Andorinhas e da Rio Rotas, por exemplo, também apresentam cenário arriscado.
Maria Aparecida diz que evita entrar no ônibus rachado quando está chovendo | Foto: Alessandro Costa / Agência O Dia
Maria Aparecida diz que evita entrar no ônibus rachado quando está chovendo | Foto: Alessandro Costa / Agência O Dia
Os carros com numeração entre 292 e 299, que fazem a linha 790 (Cascadura/Campo Grande) estão circulando sem o documento obrigatório de vistoria, que deveria estar dentro de um compartimento plástico ao lado do motorista. “Estamos circulando há mais de um ano sem o documento”, admitiu um motorista, que está apreensivo.

Outras linhas, como a 926 (Senador Camará/Penha), estão com bancos rasgados, pneus carecas, instalações elétricas danificadas e expostas, eixos de molas quebrados, vidros, tetos e paredes rachadas, além de problemas mecânicos decorrentes da falta de óleo hidráulico e outros itens essenciais à manutenção dos carros, segundo os próprios condutores.
Pneus carecas e rasgados. Passageiros e motoristas temem o pior | Foto: Alessandro Costa / Agência O Dia
Pneus carecas e rasgados. Passageiros e motoristas temem o pior | Foto: Alessandro Costa / Agência O Dia
A Viação Andorinhas, que administra a Rio Rotas, comunicou que não havia denhum responsável disponível para prestar esclarecimentos.

“Da mesma maneira que eles não irão falar com vocês, não falam conosco também. Disse que o teto estava rachado e que, nos dias de chuva, eu preciso dirigir abrindo um guarda-chuva, mas eles riram e não fizeram nada”, denúncia um dos motoristas.

Para a aposentada Maria Aparecida, 62 anos, no começo o problema era visto com ironia, até quando o ônibus que a transportava para a Barra bateu.

“A gente ria, até que o veículo bateu num poste enquanto o motorista tentava limpar os olhos da água que escorria do teto em seu rosto”, disse ela.

Nesta terça-feira, o arcebispo do Rio, Dom Orani João Tempesta, celebrou missa na capela do Hospital de Bonsucesso em homenagem às sete vítimas do acidente na Avenida Brasil.

Delegado conclui inquérito, que chega nesta quarta-feira ao MP

Segundo a Secretaria Estadual de Saúde, o motorista do ônibus 328 (Bananal/Castelo), André Luiz Souza Oliveira, recebeu alta nesta terça-feira do Hospital Estadual Getúlio Vargas, onde estava internado. O suporto agressor, Rodrigo dos Santos Freire, de 25 anos, permanece internado no Hospital Miguel Couto com traumatismo na face.

De acordo com o delegado José Pedro Costa, titular da 21ª DP (Bonsucesso), responsável pelas investigações, o inquérito será entregue nesta quarta-feira ao MP e os dois foram indiciados por homicídio doloso e tentativa de homicídio.

“Colhemos os depoimentos necessários à investigação. Junto a isso, o velocímetro do ônibus mostra que o motorista estava a 32 km/h. Não houve um acidente de trânsito. Houve uma briga em que os dois assumiram o risco pela culpa do que aconteceu”, disse.
Teto rachado permite chuva sobre motorista: risco de desvio de atenção | Foto: Alessandro Costa / Agência O Dia
Teto rachado permite chuva sobre motorista: risco de desvio de atenção | Foto: Alessandro Costa / Agência O Dia
Paranapuã apresentou 59 infrações em quatro fiscalizações ano passado

O promotor de Justiça Carlos Andresano, que ingressou uma ação civil pública contra a empresa Paranapuã, relatou que desde de 2011 a Secretaria Muninipal de Transportesjá cobrava uma solução da empresa.

“A partir de 2011, a SMTR intensificou a fiscalização na empresa Paranapuã e apurou uma série de irregularidades, dentre elas extintor de incêndio inoperante, luzes de freio e de ré defeituosa, falta de asseio nos coletivos, fio da cigarra partido ou interrompido, bancos mal conservados, presença de vetores, insetos, dentre outras irregularidades. No ano de 2012, foram feitas mais quatro fiscalizações pela SMTR, constatando-se um total de 59 infrações, razão pela qual não coube ao MP outra atitude que não ajuizar esta ação para buscar a regularização dos problemas detectados”, disse.

O promotor ainda ressalta que, na época, foi determinado um Termo de Ajustamento de Conduta, que acabou não sendo aceito pela empresa.

“O MP continua a oficiar à SMTR a fim de que fiscalize as empresas de ônibus, restando à secretraria atuar de forma efetiva, autuando as infrações verificadas e aplicando as sanções que lhe cabe aplicar enquanto órgão fiscalizador de transportes”, limitou-se a explicar.