domingo, 12 de maio de 2013

Mulheres que fazem fertilização in vitro escolhem doadores de sêmen em listas


Mulheres que fazem fertilização in vitro escolhem doadores de sêmen em listas

Banco permite avaliação de tipos físicos, profissões e até hábitos

BEATRIZ SALOMÃO
Engenheiro com hábitos de leitura e cabelos castanhos, ou artista plástico loiro e adepto de esportes radicais? As opções não envolvem a escolha de um futuro marido, mas compõem a lista do maior banco de sêmen do país, o Pro-Seed, em São Paulo. A planilha com aspectos físicos, profissões e até hobbies dos doadores é entregue a mulheres que querem ter filhos por fertilização artificial, para que escolham o ‘perfil’ do pai biológico do bebê.

Entre as casadas cujos maridos são inférteis, o tipo de sêmen mais cobiçado é o que veio de doador de, em média, 1,75 m de altura, grupo sanguíneo O ou A (mais frequente no país), cabelo castanho e pele branca. Já as solteiras e as homossexuais preferem olhos azuis, cabelos loiros, pele clara e altura superior a 1,80 m. Nos dois grupos, profissões com maior nível de escolaridade são unanimidade. “As casadas escolhem de acordo com as características do marido, normalmente o perfil do brasileiro”, diz a diretora do Pro-Seed, Vera Beatriz Fehér Brand.
Lílian, 56, congelou óvulos há 10 anos. Em 2009, recorreu a banco de sêmen e teve Patrick, 3 anos
Foto:  Ernesto Carriço / Agência O Dia


O assunto volta à tona após resolução do Conselho Federal de Medicina (CFM), publicada dia 9, fixando regras para a reprodução assistida, entre elas o limite de 50 anos de idade para o doador de sêmen. “Trabalhávamos com o limite de 45 anos, mas vamos ampliá-lo, o que ajudará a conseguir mais doadores”, afirma Vera.

O Pro-Seed tem sêmen de 150 doadores anônimos, armazenados a 196 graus negativos. Com preço que varia entre R$ 1,5mil e R$ 2,2mil, o material é enviado a clínicas de todo Brasil. “Há mulheres que fantasiam na escolha do sêmen, mas isso não interfere na saúde do bebê: a má-formação é ligada à saúde da mulher e não ao espermatozoide”, lembra João Auler, diretor da Clínica Pró Nascer.

Após dois casamentos sem filhos, a empresária Lilian Braga, 56, recorreu à técnica para ter Patrick, 3 anos. Sem marido, ela escolheu alguém com características semelhantes às dela. O doador era um engenheiro loiro e de pele clara. “Congelei meus óvulos há dez anos e, em 2009, decidi ter filho. Foi uma gravidez maravilhosa”, conta.

Duas gêmeas e um embrião congelado 
A apreensão por não engravidar deu lugar à surpresa de se tornar mãe de duas meninas, de uma vez. Casada há sete anos, Clarice Guerra, 30, se submeteu à fertilziação in vitro utilizando sêmen do próprio marido, Emerson.

Dois embriões foram colocados no útero da empresária e a resposta da gravidez positiva veio em agosto. “Foi uma emoção muito forte. Um embrião está congelado e penso em ter mais um filho daqui a uns cinco anos”, conta.

O procedimento custa em torno de R$ 15mil a R$ 20mil. Programa chamado ‘Acesso’, oferece a técnica pela metade do preço para casais de baixa renda (www.queroterumfilho.com.br)
Confira as regras do Conselho Federal de Medicina, que valem como ‘lei’ para médicos. Eles as utilizam como guia de atuação e podem ser punidos se não as cumprirem.
DESCARTE DE EMBRIÃO
Com a nova resolução, após 5 anos, embriões congelados podem também ser jogados fora. Antes, só podiam ser doados à pesquisa com células-tronco ou a alguma mulher com problema para engravidar. O destino do embrião depende do casal que o gerou, que pode renovar a manutenção do material na clínica, se arcar com custos.
LIMITE DE IDADE
Só podem fazer fertilização mulheres com até 50 anos. Antes, não havia limite. Para a doação de óvulo e espermatozoide, o limite é de 35 para mulheres e 50 para homens.
DOAÇÃO DIVIDIDA
A mulher que tiver óvulos captados para a fertilização in vitro pode doar o ‘excesso’ para outra mulher, que tenha problemas. Com isso, elas também dividem os custos da reprodução assistida. A prática já era realizada, mas não regulamentada.
HOMOAFETIVIDADE
A resolução autoriza o uso das técnicas para casais gays, o que já era feito, mas não havia regulamentação. Casais de lésbicas recorrem a banco de sêmen. Uma delas doa o óvulo e fica grávida. Casais de homens recorrem a ‘mãe de aluguel’ e um deles doa o sêmen.
BARRIGA DE ALUGUEL
Antes, somente mãe e irmã da paciente podiam fazer a prática. Agora primas também podem.
TRANSFERÊNCIA
Foi delimitado número máximo de embriões a serem colocados no útero da paciente. Se ela tiver até 35 anos, recebe até dois embriões. Entre 36 e 39 anos, até três. De 40 a 50 anos, até quatro.

VIVA VOZ
“Para doar o sêmen basta ficar 7dias em abstinência sexual. O material passa por vários exames de qualidade” - VERA FEHÉR BRAND - diretora do Pro-Seed
“Como nenhum marido quis filho, recorri a doador. Engravidei após os 50 e não passei por nenhum problema” - LILIAN BRAGA - empresária, 56 anos
“Eu e meu marido tentamos um filho por dois anos, mas ele tinha poucos espermatozoides”
CLARICE GUERRA - empresária, 30 anos

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