domingo, 9 de junho de 2013

Isis Valverde descreve Maria Lúcia como um vulcão prestes a explodir

Isis Valverde descreve Maria Lúcia como um vulcão prestes a explodir

Atriz interpreta a personagem no filme 'Faroeste Caboclo', inspirada na música de mesmo nome da Legião Urbana

RICARDO SCHOTT
Para a atriz, personagem em filme, que fuma maconha e se envolve com um bandido sangue bom, é um pássaro preso que sonha voar
Foto:  João Laet / Agência O Dia
Rio - Quando era apenas uma menina de Aiuruoca, cidadezinha do interior de Minas, Isis Valverde ouvia ‘Faroeste Caboclo’, da Legião Urbana, e não prestava atenção apenas no forte lado político-social da canção. O lado romântico do herói João de Santo Cristo, que vai para
Brasília lutar por sua vida, apaixona-se por Maria Lúcia e defende esse amor com unhas e
dentes, mexia muito com a atriz — que hoje interpreta a personagem no filme ‘Faroeste
Caboclo’, de René Sampaio.
“Eu sempre me envolvia com a história de amor que tinha ali, meio Romeu e Julieta. O João é
um anti-herói, move montanhas por causa dela. E isso mexe com qualquer mulher, mesmo a mais
moderna, né?”, diz, rindo. O ar rebelde e sentimental de Maria Lúcia já fez barulho nas
bilheterias: chegou a 554.911 espectadores no primeiro fim de semana, nas 464 salas em que
começou a ser exibido.
Nascida no mesmo ano em que a música foi lançada, 1987, Isis ouvia ‘Faroeste’ com a mãe, a
atriz Rosalba Nable, e bandas de Brasília, como Capital Inicial. Os 159 versos da canção da
Legião faziam parte do imaginário de sua turma de infância. “Lembro que a gente brincava de
ver quem acertava mais trechos da letra. A gente inventava brincadeiras, criança que vê
muita televisão acaba perdendo a criatividade”, recorda a atriz, que tampouco entende alguns
hábitos modernos, como o de cada pessoa ficar imersa em seu próprio iPhone. “Outro dia, um
amigo perguntou para uma amiga se ela estava sozinha. E ela respondeu: ‘Não, tô com meu
celular’. Vê se pode?”.
Isis é só elogios para Fabrício Boliveira (João de Santo Cristo) e Felipe Abib (Jeremias),
com quem contracenou. “O Fabrício tem o dom, ele faz de tudo. Se deixar ele faz até filme de
terror! E o Abib deu uma cara meio Coringa para o Jeremias, ficou maravilhoso”, elogia a
atriz, focada na química entre seu personagem e o sofrido João, que, arrebatado pela paixão,
sobe pelo seu prédio até a janela de seu quarto para encontrá-la.
“Eles tiveram uma grande troca. Ela deu doçura, amor e companheirismo e ele deu a ela força,
vontade de viver”, diz, ressaltando a capacidade que o diretor René tem de dizer coisas com
poucas palavras. “O João não fala um ‘eu te amo’ para ela, mas não precisa. Ele demonstra
isso”.
O preparo do filme envolveu três meses — um no Rio e dois em Brasília, para que os atores
entendessem os jovens da capital federal e suas visões de mundo nos anos 80. Durante o
período, Isis conviveu com a família de Renato Russo, criador da Legião Urbana. A mãe do
roqueiro, Carmem Manfredini, mostrou à atriz um álbum de fotos em que pôde conferir os
olhares de várias meninas brasilienses dos anos 70.
Isis Valverde
Foto:  João Laet / Agência O Dia

“Ela me disse que existiram várias Marias Lúcias. Em cada foto, vi um olhar, um detalhe que
peguei para o filme. Acho que nunca fiz uma personagem tão contida”, diz a extrovertida
atriz. “Falo mais, sorrio mais e, para ela sorrir, quase que dói. Acho que ela era um
pássaro preso. Tinha um vulcão querendo explodir dentro dela, expor as ideias, os
sentimentos, os sonhos”.
O poder da ditadura militar passava perto de Maria Lúcia, filha do senador Ney (Marcos
Paulo), com quem tinha relacionamento frio. “O pai dela fazia parte dessa roda-viva que
consumia todo mundo e ela não podia fazer nada. Ou então iria ser presa. Ela é uma mocinha
que, ao mesmo tempo, não é mocinha. Isso é bem legal no filme, de não ter herói bonzinho”.
Por sinal, Maria Lúcia, seu amado João (que, você deve lembrar, rouba, vende fumo e anda
para lá e para cá com um simpático rifle Winchester 22) e seus amigos também fumam muita
maconha. “O cigarro que a gente fumava era horrível! A gente testou primeiro com tabaco, mas
era muito forte, dava dor de cabeça instantânea. Depois, usamos um fumo da região feito de
mama-cadela, uma madeirinha, que melhorou tudo. Minha maior lembrança disso era a dor de
cabeça que dava o tabaco!”, brinca.
Muito andou se falando sobre Isis dar um tempo da televisão. Estaria recusando papéis que
mostrem mais o corpo. E vivendo hoje o que não pôde viver na adolescência.“Tive férias, né?
Depois de tanto tempo de trabalho, tem que ter folga. Na minha adolescência, vivi tudo
normalmente, mas eu já era responsável. Enquanto amigas minhas iam para a praia, eu tinha
ensaio”, diz, lembrando que a estreia na TV como Ana do Véu, na novela ‘Sinhá Moça’ (2007),
acabou fazendo com que deixasse de lado a ideia de estudar e se formar em Cinema. “Já isso
de recusar papéis, nenhum ator pode fazer”.
A atriz trocou seu apartamento na Barra por uma casa no Itanhangá. E garante que a mudança
aconteceu antes de surgir um boato sobre fotos íntimas que teriam sido clicadas por um
vizinho. “Olha, ninguém nem viu essas fotos, nem sabemos se existem. O caso está com nossos
advogados. Me mudei porque precisava de um lugar maior para reunir a família. Sempre
passamos Natal juntos, tenho prazer em ter aquela mesa em que todo mundo senta, conversa,
toma vinho. Isso foi ficando difícil de acontecer e falei: quero de volta. E também adoro
pisar no chão, na terra”.
No embalo dos anos 70 e 80
‘Faroeste Caboclo’, a música, só aparece no subir dos créditos de ‘Faroeste Caboclo’, o filme. Cantor/compositor clássico de Brasília, amigo de Renato Russo e autor da trilha sonora, Philippe Seabra (da Plebe Rude) diz que resistiu à tentação de usá-la mais vezes.
“Não dava para o filme virar um imenso clipe”, diz ele, que incluiu uma versão nova de ‘Tédio (Com um T Bem Grande Pra Você)’, do embrião da Legião Urbana, Aborto Elétrico (a própria Legião regravou a música no mesmo álbum de ‘Faroeste’, ‘Que País É Este 1978/1987’), e um hit da Plebe, ‘Até Quando Esperar’, no longa.
Para retratar a época, aparecem músicas que tocavam no rádio e nas festas da turma de Renato entre 1978 e 1982: ‘God Save The Queen’ (Sex Pistols) é lembrada por um dos personagens ao violão, ‘Ever Fallen In Love’ (da banda punk Buzzcocks) é ouvida por Maria Lúcia, e sucessos de grupos de disco music, como KC & The Sunshine Band, surgem nas festas do playboy Jeremias. “A música não era só um pano de fundo para andar pelas ruas com um fone de ouvidos ruim. Ela mudou a vida da gente”, lembra Seabra, que só penou na hora de compor a música de fundo para a cena de sexo entre Maria Lúcia e João. “Nunca tinha feito uma canção de amor na vida!”



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