sexta-feira, 14 de junho de 2013

Leda Nagle: Como anda sua sorte?

Leda Nagle: Como anda sua sorte?

Se for entrar num táxi, torça para o taxista gostar do seu trajeto porque ele pode não aceitar você como passageiro

O DIA
Rio - Para viver no Rio de Janeiro é preciso ter muita sorte. Tudo por aqui depende da sorte. Principalmente o tal do direito de ir e vir. Um bueiro explode no Jardim Botânico e você engarrafa em Bonsucesso. Um caminhão deita ao solo sua carga na descida da Ponte Rio-Niterói e você sofre por mais de duas horas parada, na Auto Estrada Lagoa-Barra. Vai entender.
O jovem motorista de táxi passou a quarta-feira feliz. Na terça ele não trabalhou, logo não tinha nenhuma história pra contar de quantas horas ficou parado no trânsito por conta da carga mal amarrada por uma empresa incompetente qualquer. Todo dia há paralisações gigantescas no trânsito porque dois carros bateram ou um ônibus enguiçou ou uma velha Kombi pegou fogo. Não precisa de muito, qualquer bobagem atrapalha tudo. O cidadão precisa dar sorte ao sair de casa pro trabalho, ao marcar uma ida a São Paulo ou ao Méier. Sem muita sorte, por qualquer coisinha à toa a pessoa engastalha em algum ponto da cidade, não consegue chegar a tempo de pegar um avião ou perde a a hora marcada para a consulta médica.
Se chover, então, pode desistir. O Rio é de açúcar e desmancha a qualquer pingo de chuva. Se chover muito, tem que ter sorte dupla. Pode começar a rezar ou preparar o despacho porque você não vai chegar. Se for seu dia de falta de sorte então, não vá. Como você já sabe, a Praça da Bandeira, ou seria melhor dizer da Banheira, inunda. A Lagoa também. A Avenida das Américas, a Presidente Vargas, não há exceção. Tudo vira mar, desde sempre e há décadas.
Na questão dos serviços, você também precisa de muita sorte. E de muito dinheiro porque, por aqui, tudo é muito caro. E igualmente depende da sorte. Você pode ser muito bem atendido comendo um único koni na Praça Nossa Senhora da Paz em Ipanema e pode ser super mal-atendido num restaurante chique da Zona Sul ou da Barra. Depende da sorte. Depende do garçom estar de bom humor, depende da hora que você chegar, da roupa que vestir, e até do seu anjo da guarda pra indicar o melhor lugar. Isto se você for um qualquer, porque se for frequentador do lugar ou torcer pelo mesmo time do garçom aí melhora muito o tratamento.
Se for entrar num táxi, torça pra dar sorte e o taxista gostar do seu trajeto porque ele pode não aceitar você como passageiro e você terá que descer, chova ou faça sol. Claro que você pode agendar um táxi. Mas isto também não quer dizer muita coisa porque faltando dez minutos pra ele chegar ao local marcado a telefonista da cooperativa pode avisar que o táxi não vai poder te apanhar. E isto vale também para instaladores de TV, eletricistas, faxineiras, pintores, montadores e encanadores. Tudo é muito frágil, tudo depende da sorte. Ou da falta dela: tipo loteria!


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