domingo, 9 de junho de 2013

Jaguar: Flanando na ilha

Jaguar: Flanando na ilha

Adoro flanar pela ilha do Leblon

O DIA
Rio - Adoro flanar pela ilha do Leblon. Não tem nada a ver com caminhar. Tem gente que caminha marcialmente pelo calçadão, de tênis Nike, toma energéticos e malha na academia. Programa-saúde. E gente que flana sem rumo, como um vira-lata. De chinelas, parando aqui e ali pra olhar vitrine, tomar alguma coisa no boteco e bater papo com os conhecidos. Sou dessa turma.
E a ilha a que me refiro é a do Leblon, lembrando aos desavisados que o bairro se enquadra nessa categoria, uma vez que, de acordo com o que aprendemos no colégio, ilha é um pedaço de terra cercado por água por todos os lados. A saber: o canal do Jardim de Alah, o mar, o canal da Visconde de Albuquerque e a Lagoa. Chega-se ao continente pela ponte que liga a Ataulfo de Paiva à Visconde de Pirajá, pela Delfim Moreira e pela Borges de Medeiros. Se por acaso não chover (licença, Caymmi) eu vou dar o meu giro pelo Leblon, ou pelo que restou dele, com tapumes das obras do metrô.
E a tendência é piorar. Não demora, o trânsito será desviado para a minha rua, a Humberto de Campos. Quando o metrô ficar pronto, o Leblon voltará a ser o que era: o melhor lugar do mundo para se morar. E flanar, se eu chegar aos 86 anos. Mas, por enquanto, a coisa tá afro-brasileira. Para piorar, não posso chamar ninguém para ir à minha casa nas noites de quinta-feira. Os convidados teriam que passar entre pilhas fedorentas de sacos de lixo — rasgados por cachorros e mendigos — com três metros de altura, porque a coleta é feita de madrugada. Para desespero de quem tenta dormir, o barulho que os caminhões da Comlurb fazem é um horror inenarrável. Agora, a boa notícia; o bairro ganhou uma rua, que liga a Afrânio de Melo Franco a Ipanema, pela nova ponte que atravessa o canal. Tem uma placa avisando que é provisória. Não sei por quê, já que é uma bela ponte de aço e concreto.
Sugiro que batizem com o nome de João Saldanha, o mais ilustre morador da ilha. A ruazinha tem pouco mais de cem metros, parece de subúrbio, com os moradores batendo papo nas cadeiras na calçada, e comendo — raridade na Zona Sul —, frango assado da televisão de cachorro (como o pessoal chama aqueles fornos que exibem os galetos girando nos espetos). Muito mais saborosos que os de restaurantes grã-finos. Aviso aos navegantes: só aos sábados e domingos. O nome da rua, nenhum taxista conhece: Padre Bruno Trombetta. Pra mim deveria ser Dom Helder, que inventou a Cruzada, mas deixa pra lá. No mais, recomendo seguir o que diz a placa diante da 14ª DP: Diminua a velocidade — Abaixe o farol — Acenda a luz interna — Mantenha a calma. Confúcio assinaria embaixo.
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Sem Agamenon e Danuza, a imprensa ficou muito menos engraçada e charmosa.


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