Rio -  Em nove meses, ela salvou a vida de mais de mil bebês com doações de leite materno. Quatro anos à frente do programa "Bombeiro amigo do peito", iniciativa do Corpo de Bombeiros com o Instituto Fernandes Figueira (IFF), a capitão Marília Fraia, 41 anos, comanda uma equipe de cinco enfermeiros que rodam o estado atrás de mães doadoras de leite.

“Vamos à casa de várias mães para recolher excesso de leite e aproveitamos para orientar sobre amamentação. Nosso trabalho é muito gratificante porque mostramos que o leite que iria para o lixo pode salvar centenas de vidas”, orgulha-se.

Todo leite coletado é enviado ao IFF, no Flamengo, para o processo de pasteurização. Depois disso, chega à maternidade para consumo dos bebês. De janeiro até o mês passado, mais de 3 mil litros de leite foram coletados no estado.
Foto: Paulo Alvadia / Agência O Dia
Quatro anos à frente do ‘Bombeiro amigo do peito’, capitão comanda equipe que roda o estado atrás de mães doadoras de leite | Foto: Paulo Alvadia / Agência O Dia
O sucesso do projeto, que tem 10 anos de vida, recebeu em maio menção honrosa na Assembleia Legislativa do Rio. “Levamos várias mães doadores para receber o prêmiotambém. Sem elas, nosso programa não daria certo”, comemora Marília.

O trabalho na corporação se mistura a outros papéis importantes na vida da capitão: o de professora, enfermeira e mãe. No ano retrasado, quando completou 40 anos, Marília deu à luz seu primeiro filho.

“Como sempre trabalhei com crianças, pensei que seria fácil ser mãe, mas tive períodos conturbados”, comenta ela, que não gosta de lembrar a depressão pós-parto que sofreu: “Esqueço todos os meus problemas quando cuido das crianças”.

Atendimento de alto risco

Antes de se dedicar ao comando do projeto de aleitamento nos bombeiros, Marília palestrou durante anos em escolas públicas sobre noções de higiene e saúde para crianças. Mas foi no Quartel Central que ela superou a prova de fogo na profissão.

“Fiquei seis meses trabalhando no Samu. Só ali tive a certeza de que precisava fazer algo para ajudar as pessoas”, recorda a capitão. Nesse curto período em que fez atendimentos de alto risco, ela lembra que amparou uma gestante em trabalho de parto.

“Ela estava muito nervosa porque era uma gravidez complicada. Fiz exames de toque a caminho do hospital para sentir o bebê, mas quando chegamos à maternidade, não pude acompanhar o parto porque tinha outras ocorrências para atender. Duas horas depois, um parente dela me ligou avisando que tinha nascido um menino cheio de saúde”, recorda, emocionada.

Na UTI pediátrica do Hospital do Fundão, na Ilha do Governador, Marília deixa o posto de capitão para se tornar enfermeira. Na unidade, ela já salvou muitas vidas. A mais recente lembrança é de uma menina de cinco meses de idade com parada cardíaca.

“Fiz massagem para ressucitá-la. Foi um momento muito emocionante quando ela deu sinal de vida. Chorei junto com a equipe”, conta a bombeira.