Geórgia - O líder da oposição na Geórgia, Bidzin Ivanishvili, cuja coalizão ganhou as eleições parlamentares de segunda-feira, é um multimilionário, quase sem experiência política e que pretende alcançar um equilíbrio, aparentemente impossível, entre o ingresso na Otan e o restabelecimento das relações com a Rússia. Em uma coletiva de imprensa realizada hoje, ele criticou o atual presidente georgiano, Mikhail Saakashvili, chamando-o de "mentiroso" e convidando-o a "deixar o poder".
O líder da oposição Bidzina Ivanishvili em coletiva de imprensa após as eleições parlamentares da Geórgia | Foto: EFE
O líder da oposição Bidzina Ivanishvili em coletiva de imprensa após as eleições parlamentares da Geórgia | Foto: EFE
"Vim para restaurar a justiça na Geórgia", assegurou Ivanishvili, o homem mais rico do país, que tem uma fortuna estimada em US$ 6,4 bilhões, segundo a revista "Forbes". Ivanishvili é cidadão francês, já que as autoridades lhe privaram da nacionalidade georgiana há um ano, quatro dias depois de anunciar sua entrada na política e criar o Sonho Georgiano, a coalizão que reúne seis partidos opositores.
Com a ação, o presidente georgiano, Mikhail Saakashvili , se vingou do que considerava uma traição, já que o empresário tinha financiado o exército e a polícia durante anos e contribui para a construção de teatros, escolas e instalações esportivas.
No entanto, perante milhares de críticas internacionais, o Parlamento do país aprovou uma lei na qual ficou permitido que cidadãos da União Europeia, nascidos na Geórgia, como é o caso do opositor, podem concorrer às eleições. Um ano depois, Ivanishvili não só desbancou o partido governista, mas impedirá Saakashvili de permanecer no poder quando terminar seu segundo mandato, no ano que vem.
De acordo com a Constituição georgiana, não é permitido que um presidente fique à frente do país por mais de dois mandatos consecutivos. Saakashvili acusa Ivanishvili de defender os interesses da Rússia, que teria dedicado bilhões de dólares ao financiamento da oposição. Por outro lado, o opositor afirma que, embora tenha feito dinheiro vendendo computadores na Rússia e ali constituiu sua fortuna após a queda da URSS em 1991, já vendeu todos seus ativos no país.
Ivanishvili, de 56 anos, triunfou onde muitos outros fracassaram: aglutinou a oposição, que nos últimos nove anos nunca tinha conseguido fazer frente à coalizão eleitoral de Saakashvili. Para o opositor, foi muito bom que um vídeo com imagens de torturas aos presos tenha sido divulgado uma semana antes das eleições, fazendo com que a população fizesse duras críticas a Saakashvili e diversos protestos no país.
Perante a possibilidade da oposição ganhar o poder, nos últimos meses Estados Unidos e União Europeia foram muito mais tímidos na hora de expressar apoio a Saakashvili, o principal oponente da Rússia no Cáucaso.
O multimilionário, que fala inglês, francês e russo, apoiou o presidente e antigo ministro de Relações Exteriores da URSS, Eduard Shevardnadze, que foi derrubado por Saakashvili na Revolução das Rosas de 2003. Ivanishvili afirmou que, caso seja nomeado primeiro-ministro, irá tentar uma aproximação com a Otan, cujo secretário-geral insistiu nos últimos meses que as portas da Aliança estão abertas para o país.
"O rumo estratégico será a integração euro-atlântica e o ingresso na Otan. A humanidade ainda não inventou nada melhor que essas organizações", disse o opositor. Saakashvili conseguiu colocar a Geórgia ao lado dos Estados Unidos e da Aliança Atlântica ao participar ativamente nas operações militares no Afeganistão.
O opositor tem intenção de seguir esse caminho. Ivanishvili também assegurou, durante a campanha, que tem "intenção de melhorar as relações com a Rússia, mas não à custa da integridade territorial da Geórgia".
A capital Tbilisi rompeu relações com Moscou em 2008 devido ao reconhecimento russo da independência das regiões separatistas georgianas de Abjasia e Osetia do Sul. Ivanishvili propõe restabelecer as relações com o Kremlin, que apostou desde o princípio na vitória do opositor, que é considerado um interlocutor muito mais manipulável que Saakashvili. Nascido em uma família georgiana, Ivanishvili tem quatro filhos, sendo um deles um famoso cantor de rap.
Mentiroso
Em reunião com jornalistas europeus nesta terça-feira, Ivanishvili afirmou que o atual presidente da Georgia construiu seu mandato com base em mentiras. Segundo ele, as reformas econômicas e governamentais dos últimos anos são "falsas" e "dignas de chacota". No final, o líder da oposição pediu para que Saakashvili deixasse o poder.
O presidente da Geórgia admitiu que seu partido foi derrotado nas eleições, aumentando as chances de uma transferência pacífica do poder na ex-república soviética. Essa seria a primeira transição democrática no país após a revolução de 2003.


As informações são do iG