Rio -  Sempre achei que a vida sem mulher e sem cerveja não vale nada. Mesmo com elas, a vida não é nenhuma maravilha, mas isso é outra história. Aos 81 anos, só me resta a cerveja (ou eu estaria no livro Guinness dos Recordes). Quer dizer, restava. Meu médico proibiu bebidas alcoólicas. Só os jogadores do Barcelona, depois da derrota de sete a zero para o Bayern, seriam capazes de entender como ficou a minha cuca. A princípio pensei em me matar ou beber até morrer. Mas e depois? Mesmo se a gente for para algum lugar, seja o céu, o inferno ou o nada, com certeza não haverá cerveja lá. Posso até passar sem uísque, vodca, cachaça, os destilados em geral, mesmo porque nunca fico de porre, desses de juntar criança, como diz a malandragem. Deve ser algum motivo genético ou defeito de fabricação.
Mas adoro o sabor da cerveja, na verdade uma das pouquíssimas coisas que aprecio — as outras, no momento não me lembro. O problema é que as cervejas nacionais sem álcool têm cheiro e gosto de mofo. Fui ao Google, maior lata de lixo da História, mas às vezes quebra um galhão. Acabei descobrindo, depois de quebrar a cara muitas vezes, que só poucas marcas têm o mesmo sabor das com álcool: Erdinger e Paulaner. Só que são difíceis de achar. Na Zona Sul, Paulaner só no Tercetto, perto do metrô de Ipanema. Só achei a Erdinger no Pão de Açúcar. Comprei todo o estoque, 15 garrafas de meio litro. Doze paus cada. Com a nova Lei Seca — um bombom recheado com licor dá multa de R$ 1.950 e até perda da carteira de motorista —, pensei que os restaurantes e bares colocariam cartazes anunciando a venda de cerveja sem álcool para atrair novos clientes. Mas que nada, uma burrice comercial. Das 15 Erdingers, bebidas em pequenos goles, só restam 4. E agora, José? Me indicaram uma cervejaria na Barão da Torre, a Delirium Tremens, que não se perca pelo nome (licença, Hélio Fernandes).
É o nome de uma cerveja de altíssimo grau alcoólico. A Erdinger sem álcool está na carta de bebidas, e também duas que ainda não encontrei, Schneider e Opa, mas não tem no estoque. É dura a vida de abstêmio que gosta de cerveja. E fazer o quê? também vou jogar no fundo de uma gaveta minhas carteiras da SBW (Sociedade Brasileira do Whisky), da qual sou sócio remido, da Academia da Cachaça (sócio fundador) e minha Carteira de Cachaceiro, assinada pelo lendário Seu Oswaldo, fundador da Casa da Cachaça, na Mem de Sá, onde eu bebia com Madame Satã.