Rio -  Com apito na boca e bola no pé, a molecada do Morro Santa Marta, em Botafogo, está dando cartão vermelho na falta de esperança. O caminho dos jovens para um futuro melhor passa pelas mãos dos policiais da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) da favela, que há um mês criaram um curso de capacitação para árbitros de futebol amadores. A ideia é oferecer aos meninos noções básicas sobre o trabalho de árbitro de futebol, para ocupar o tempo ocioso deles e ainda direcioná-los para uma futura profissão.
A iniciativa partiu do próprio comandante da unidade, capitão Márcio Rocha, que pensou em aliar ao trabalho de polícia de proximidade que desenvolve no Santa Marta a profissão que tinha antes mesmo de entrar para a corporação. Ele se formou pela Federação de Futebol do Rio de Janeiro há quatro anos, e há três faz parte do quadro da PM.
“Os jovens buscam referências de vida e estrutura familiar. Para muitos, acabamos virando essa referência pelo trabalho que desenvolvemos, pelo exemplo de caminho do bem. E o fato de sermos árbitros desperta neles interesse ainda maior de seguir este caminho”, analisa.
Os soldados Thiago Fortes,Carlos Henrique Alves Filho, Daniel Wilson, Raí Silva e o Capitão Márcio Rocha durante as aulas do curso de árbitro | Foto: Fabio Gonçalves / Agência O Dia
Os soldados Thiago Fortes,Carlos Henrique Alves Filho, Daniel Wilson, Raí Silva e o Capitão Márcio Rocha durante as aulas do curso de árbitro | Foto: Fabio Gonçalves / Agência O Dia
Para treinar a garotada, o comandante escalou reforço: os soldados Daniel Wilson, Thiago Fortes e Carlos Henrique Alves de Lima Filho, todos policiais e árbitros profissionais, que foram trabalhar na UPP e juntos montaram o projeto para a escola de árbitros amadores.
Para atuar em jogos com times profissionais, os futuros árbitros precisam se formar regularmente pela escola da Federação de Futebol. Mas, para os policiais, o projeto é o caminho para a descoberta de novos talentos e para os meninos construírem a confiança em uma atividade profissional. “Sem dúvida, vai ajudá-los a ter qualidade de vida e, quem sabe, uma profissão”, acredita Thiago Fortes.
Raí, 17 anos, fez sua estreia como juiz
Ele tem nome de craque e é uma cria do campinho do Pico, onde joga desde os 9 anos. Foi no projeto de árbitros mirins que Raí Silva, 17, descobriu seu verdadeiro talento. ‘Fominha’ de bola, ele achava que seria atacante de algum time, mas foram as aulas de arbitragem com os policiais da UPP que direcionaram o jovem para a carreira de juiz. Com uma forcinha dos PMs professores, ele apitou sexta-feira sua primeira partida, no Aterro do Flamengo.
“Os moradores fizeram um jogo e me chamaram. Foi um teste e tanto! Descobri que posso me formar em árbitro e ter um emprego legal. Penso em seguir essa carreira”, contou Raí.
Aulas teóricas e práticas
A turma de árbitros mirins conta com seis alunos, com idades variadas. Eles se reúnem três vezes por semana no alto do morro, para receber duas horas de aulas teóricas e práticas. A capacitação possibilita, por exemplo, que eles apitem jogos amadores, organizadas por condomínios, times e moradores. Muitos árbitros amadores recebem pagamento dos organizadores de torneios.
Jovens de outras comunidades também podem participar das aulas, que são gratuitas. “Estamos abertos para receber inscrições de jovens, de qualquer idade, interessados nas aulas”, disse o soldado Daniel, que coordena as inscrições na sede da UPP e pelo telefone 2334-4099.