Com a agenda lotada de shows, mulheres são a nova geração do funk carioca
POR RODRIGO CABRAL
Depois do show, consegue entrar no camarim e se declara à estrela da noite. “Ele disse que eu era a maior diva!”, lembra MC Beyonce, dona do hit ‘Fala Mal de Mim’, que registra mais de 15 milhões de acessos na internet.
MC Beyonce, que acaba de fazer 18 anos, está aproveitando a fama: faz em média 60 shows por mês | Foto: Maíra Coelho / Agência O Dia
É isso mesmo: uma nova leva de funkeiras renova o estilo e tem arrastado legião de fãs apaixonados por onde passa. São as novas "rainhas do baile". Na linha de frente, além de Beyonce, tem Anitta e o Bonde das Maravilhas.
“Quando vou em festas de amigos, não consigo mais beber ou comer nada. Todo mundo fica pedindo para tirar foto! Mas estou vivendo um sonho. Meu funk é da pesada”, conta Ludmilla Oliveira, a MC Beyonce, que acaba de fazer 18 anos.
Anitta comemora o sucesso do recém-lançadoclipe ‘Show das Poderosas’ | Foto: Divulgação
Natural de Duque de Caxias — mudou-se recentemente para a Barra da Tijuca —, ela faz em média 60 shows por mês. Às vezes, são seis em apenas uma noite. “A voz chega a ficar calejada, rouca”, desabafa.
Risonha a maior parte do tempo, nem parece ser a autora dos versos incisivos: “Não olha para o lado/ Quem tá passando é o bonde/ Se ficar de caozada, a porrada come”. Mas quem vê cara não vê irritação, pois ela garante que a porrada come mesmo.
“Sou muito tranquila, brincalhona. Só não deixo que faltem ao respeito o comigo. Não levo desaforo para casa. Meus namorados costumam ter medo de mim. Eu é que mando!”, ela avisa.
Em São Paulo, a madrugada daquela mesma segunda-feira também foi agitada para as integrantes do Bonde das Maravilhas — cujo clipe "Aquecimento", que rendeu mais de 6 milhões de visualizações, fez virar febre a coreografia do ‘quadradinho de oito’.
Estavam no meio de uma bateria de mais de 50 shows em apenas 13 dias. Depois de outra noite de apresentações, uma das primeiras a acordar é Thaysa Lopes, 15 anos. São 15h30.
“Com essa coisa de ficar de cabeça para baixo e cruzar as pernas, misturamos o passinho do funk com ioga”, dispara ela, que não considera a dança vulgar.
“Vulgar é música com palavrão. Ou meninas que dançam de calcinha no palco. Não fazemos isso. Estamos sempre de calça jeans, por exemplo”, ela argumenta.
Como quase todas são menores de idade, no entanto, elas precisam levar autorização dos pais para cada lugar onde cantam. Formado na Engenhoca, em Niterói, o grupo arrecada hoje R$ 4 mil em shows no Rio de Janeiro.
Em outras cidades, o cachê pode chegar a R$ 15 mil. Tem mais: as meninas serão uma das atrações do Brazilian Day, nos Estados Unidos, e ainda planejam ter um trio no Carnaval de Salvador.
Mas nem sempre foi assim. “Em um dos nossos primeiros shows, em Caxias, cada uma ganhou R$ 5. Não dava nem para pagar a passagem”, recorda Taysa. Com mais de 800 mil visualizações no recém-lançado clipe "Show das Poderosas", Anitta vibra com o momento do funk.
Risonha a maior parte do tempo, nem parece ser a autora dos versos incisivos: “Não olha para o lado/ Quem tá passando é o bonde/ Se ficar de caozada, a porrada come”. Mas quem vê cara não vê irritação, pois ela garante que a porrada come mesmo.
“Sou muito tranquila, brincalhona. Só não deixo que faltem ao respeito o comigo. Não levo desaforo para casa. Meus namorados costumam ter medo de mim. Eu é que mando!”, ela avisa.
Em São Paulo, a madrugada daquela mesma segunda-feira também foi agitada para as integrantes do Bonde das Maravilhas — cujo clipe "Aquecimento", que rendeu mais de 6 milhões de visualizações, fez virar febre a coreografia do ‘quadradinho de oito’.
Estavam no meio de uma bateria de mais de 50 shows em apenas 13 dias. Depois de outra noite de apresentações, uma das primeiras a acordar é Thaysa Lopes, 15 anos. São 15h30.
“Com essa coisa de ficar de cabeça para baixo e cruzar as pernas, misturamos o passinho do funk com ioga”, dispara ela, que não considera a dança vulgar.
“Vulgar é música com palavrão. Ou meninas que dançam de calcinha no palco. Não fazemos isso. Estamos sempre de calça jeans, por exemplo”, ela argumenta.
Como quase todas são menores de idade, no entanto, elas precisam levar autorização dos pais para cada lugar onde cantam. Formado na Engenhoca, em Niterói, o grupo arrecada hoje R$ 4 mil em shows no Rio de Janeiro.
Em outras cidades, o cachê pode chegar a R$ 15 mil. Tem mais: as meninas serão uma das atrações do Brazilian Day, nos Estados Unidos, e ainda planejam ter um trio no Carnaval de Salvador.
Mas nem sempre foi assim. “Em um dos nossos primeiros shows, em Caxias, cada uma ganhou R$ 5. Não dava nem para pagar a passagem”, recorda Taysa. Com mais de 800 mil visualizações no recém-lançado clipe "Show das Poderosas", Anitta vibra com o momento do funk.
Bonda das Maravilhas vai participar do Brazilian Day | Foto: Divulgação
“Acho que o preconceito tem diminuído. Não só as mulheres, como todo mundo no funk, tem ganhado mais espaço”, afirma ela, que sempre se apresenta com banda e tem a menor média de shows entre as três — de 20 a 24. “Às vezes, parece que eu vou endoidar. Brincadeira! É muito cansativo, mas foi uma escolha. Eu amo muito o que eu faço”.
Aprovadas por Valesca
Poderosas, mandonas, habilidosas com o quadril e, além de tudo, aprovadas por Valesca Popozuda. Com mais de dez anos de carreira, a ex-líder da Gaiola das Popozudas aprova as novas artistas do funk.
“Curto todas elas. Adoro o Bonde das Maravilhas! Não é pornografia, não. É uma dança muito engraçada. As pessoas tentam aprender, ver se conseguem fazer”, diz Popozuda.
Polêmica lançada
Com o projeto "My pussy é poder — A representação feminina através do funk no Rio de Janeiro: Identidade, feminismo e indústria cultural", a universitária Mariana Gomes, 24 anos, se classificou em segundo lugar para o mestrado em Cultura e Territorialidades da Universidade Federal Fluminense (UFF).
Aprovadas por Valesca
Poderosas, mandonas, habilidosas com o quadril e, além de tudo, aprovadas por Valesca Popozuda. Com mais de dez anos de carreira, a ex-líder da Gaiola das Popozudas aprova as novas artistas do funk.
“Curto todas elas. Adoro o Bonde das Maravilhas! Não é pornografia, não. É uma dança muito engraçada. As pessoas tentam aprender, ver se conseguem fazer”, diz Popozuda.
Polêmica lançada
Com o projeto "My pussy é poder — A representação feminina através do funk no Rio de Janeiro: Identidade, feminismo e indústria cultural", a universitária Mariana Gomes, 24 anos, se classificou em segundo lugar para o mestrado em Cultura e Territorialidades da Universidade Federal Fluminense (UFF).
Veterana, Valesca Popozuda aprova as novas as novas artistas do funk | Foto: Fernando Torquatto / Divulgação
E o tema da pesquisa já gerou polêmica. Rachel Sheherazade, apresentadora do SBT Brasil, questionou no ar: “Será que o assunto tem profundidade para tanto?”.
A jornalista foi além.
“Funk carioca, que fere meus ouvidos de morte, foi descrito como manifestação cultural”, ironizou Rachel. Mariana, que escreveu na internet um texto em resposta à crítica, argumenta contra a "hierarquização da cultura".
“Pessoas que consideram que o funk não é cultura acham que o espaço da favela é do bandido, da pessoa que não merece ser incluída na sociedade. Esse senso comum é muito difícil de ser desconstruído. É preciso acabar com essa visão elitista”, afirma Mariana.
“O ponto-chave do meu trabalho é a análise do inegável diálogo do funk com o feminismo. Como a questão do corpo é tão forte na luta feminista, nunca tivemos quem traduzisse de jeito tão espontâneo e popular as defesas e bandeiras maiores do feminismo como essas mulheres”, diz ela, que estuda o trabalho de funkeiras como Valesca Popozuda e Tati Quebra-Barraco.
A jornalista foi além.
“Funk carioca, que fere meus ouvidos de morte, foi descrito como manifestação cultural”, ironizou Rachel. Mariana, que escreveu na internet um texto em resposta à crítica, argumenta contra a "hierarquização da cultura".
“Pessoas que consideram que o funk não é cultura acham que o espaço da favela é do bandido, da pessoa que não merece ser incluída na sociedade. Esse senso comum é muito difícil de ser desconstruído. É preciso acabar com essa visão elitista”, afirma Mariana.
“O ponto-chave do meu trabalho é a análise do inegável diálogo do funk com o feminismo. Como a questão do corpo é tão forte na luta feminista, nunca tivemos quem traduzisse de jeito tão espontâneo e popular as defesas e bandeiras maiores do feminismo como essas mulheres”, diz ela, que estuda o trabalho de funkeiras como Valesca Popozuda e Tati Quebra-Barraco.
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