Ídolos que fizeram história no Maraca: Zico exalta ligação com o estádio
POR | ANA CARLA GOMES VITOR MACHADO |
Rio - Foram 333 gols. Zico, maior artilheiro do Maracanã, não vai participar da reabertura do estádio, neste sábado, às 19h, mas se lembra de cada momento seu lá. Foram 19 títulos, entre eles três Brasileiros. Até com Pelé ele jogou. E o rei do Maraca cutuca o rei do futebol, que fez o milésimo gol no Maior do Mundo, mas recusou-se a cobrar um pênalti, em 1979, num amistoso entre Flamengo e Atlético-MG: “O negão pipocou”.
O DIA: Foram 19 títulos no Maracanã. Teve algum mais especial?
Zico: O Brasileiro de 1987. A gente era um time tachado de aposentado, eu tinha voltado da cirurgia, muita gente não acreditava mais que eu pudesse jogar. Quando chegou na reta final, na partida contra o Santa Cruz, fui comemorar um gol com o Zé Carlos e arrebentei meu joelho, estouraram os pontos. Atuei nos quatro jogos seguintes com uma lesão. Acabava o primeiro tempo, tinha que ficar com bolsa de gelo. Começava o segundo tempo, 15, 20 minutos, minha perna começava a inchar e eu tinha que sair. Para o jogo contra o Atlético-MG, fiquei até 3h da manhã fazendo gelo. Em todos os jogos eu saí. Quando ganhamos do Internacional, a torcida estava gritando ‘campeão’, eu já no vestiário, começaram a gritar meu nome, voltei, fiz a saudação e peguei o troféu.
Foram 333 gols...
Sem contar o Jogo das Estrelas. Não contei. Algumas festas eu não conto, não. Se eu estivesse atrás dos mil, já estaria com 950 ou mais (risos).
Dá para dizer que você foi o rei do Maracanã?
Da minha boca você não vai ouvir isso nunca. Acho que fui o cara que mais representou o Maracanã por tudo. Pelos gols, pelos jogos, pelas conquistas. Os maiores recordes acredito que devam ser meus, quem mais jogou — talvez só perca para o Júnior —, mais fez gols, mais ganhou títulos ali, mais comemorou, mais gols fez numa partida, talvez o que jogou para os maiores públicos. O Maracanã tem uma ligação comigo muito forte.
Por que você ficava tão à vontade?
Talvez pelo fato de o Maracanã ser a casa do Flamengo. De costas eu sabia todo o espaço que tinha, conhecia tudo como a minha casa. No Maracanã, devo ter jogado, das mais de mil partidas que fiz na carreira, mais de 500. Até pelo juvenil eu joguei ali. A minha identificação com a torcida ficou muito ligada por causa disso. A gente ia enfrentar o Fluminense, era 1 a 0, gol meu; ia encarar o Botafogo, era 1 a 0, gol meu; contra o Vasco, 1 a 0, gol meu; 2 a 0 no Bangu, eu fazia os dois. Já no juvenil.
O DIA: Foram 19 títulos no Maracanã. Teve algum mais especial?
Zico: O Brasileiro de 1987. A gente era um time tachado de aposentado, eu tinha voltado da cirurgia, muita gente não acreditava mais que eu pudesse jogar. Quando chegou na reta final, na partida contra o Santa Cruz, fui comemorar um gol com o Zé Carlos e arrebentei meu joelho, estouraram os pontos. Atuei nos quatro jogos seguintes com uma lesão. Acabava o primeiro tempo, tinha que ficar com bolsa de gelo. Começava o segundo tempo, 15, 20 minutos, minha perna começava a inchar e eu tinha que sair. Para o jogo contra o Atlético-MG, fiquei até 3h da manhã fazendo gelo. Em todos os jogos eu saí. Quando ganhamos do Internacional, a torcida estava gritando ‘campeão’, eu já no vestiário, começaram a gritar meu nome, voltei, fiz a saudação e peguei o troféu.
Foram 333 gols...
Sem contar o Jogo das Estrelas. Não contei. Algumas festas eu não conto, não. Se eu estivesse atrás dos mil, já estaria com 950 ou mais (risos).
Dá para dizer que você foi o rei do Maracanã?
Da minha boca você não vai ouvir isso nunca. Acho que fui o cara que mais representou o Maracanã por tudo. Pelos gols, pelos jogos, pelas conquistas. Os maiores recordes acredito que devam ser meus, quem mais jogou — talvez só perca para o Júnior —, mais fez gols, mais ganhou títulos ali, mais comemorou, mais gols fez numa partida, talvez o que jogou para os maiores públicos. O Maracanã tem uma ligação comigo muito forte.
Por que você ficava tão à vontade?
Zico afirma ter grande ligação com o Maracanã | Foto: André Mourão / Agência O Dia
Como se faz seis gols num jogo, recorde do Maracanã (Fla 7 a 1 no Goytacaz, pelo Carioca de 1979)?
Os caras batiam tanto que fiz quatro gols de pênalti. Agora, a possibilidade de perder era grande. Mas eu batia num canto, o goleiro ia no outro. Ele ia para o mesmo lugar, e eu batia no mesmo. Aí no último ele trocou, e eu troquei também.
Consegue eleger os seus cinco gols favoritos no Maracanã?
Fiz um contra o Botafogo. Foi 2 a 2. O goleiro do Botafogo, Wendell, bateu tiro de meta, alguém cabeceou, o Marinho veio, dei um balãozinho nele, no meio-campo. Tinha um cabeça de área, dei um toque na frente, o zagueiro veio, joguei a bola por um lado e peguei do outro e de fora da área mandei no canto. Fiz outro contra o Corinthians que foi parecido com aquele contra a Iugoslávia. Driblei três, o goleiro e fiz. Teve um, em 1974, contra o Grêmio, que Vanderlei cruzou, e eu peguei de voleio. Um também contra o Grêmio, a gente estava perdendo de 1 a 0, o Júnior cruzou, me antecipei ao Batista e peguei de curva no ângulo. Era o primeiro jogo da final do Brasileiro (1982). E contra o Santa Cruz de falta. Foi do outro lado, de curva. Conta a história que o zagueiro Zé Carlos (do Santa Cruz) no treino de falta virava para o goleiro e ficava olhando. O goleiro disse: ‘Vê se no jogo olha pra bola’. O Zé Carlos respondeu: ‘Eu, não, quero ver o gol’. O Peu conta isso no meu DVD. Mas a maioria dos meus gols é marcada pela simplicidade e pelarapidez. Um toque só e definia, sem tempo do goleiro se armar.
Como foi jogar com o Pelé no Maracanã?
Era o sonho de todos nós. Quando soubemos da possibilidade, o time ficou em polvorosa. O Negão deu foi uma pipocada legal. Ele já falou na preleção: ‘Se tiver pênalti, não vou bater’. Eu disse: ‘Pô, mas a torcida toda vai gritar...’ Na hora que teve no jogo, falei: ‘Vai lá e bate’. Mas ele respondeu: ‘Não vou bater, não, cara’. Tem uma história do Adílio. Ia ter o treino coletivo, todo mundo ia treinar com ele. A gente não sabia quem ia sair. O Andrade disse: ‘O Pelé não é cabeça de área, não vai jogar no meu lugar’. O Júlio César: ‘Não é ponta-esquerda, não vai jogar no meu lugar’. O Tita: ‘Não é ponta-direita, não vai jogar no meu lugar’. Aí eu falei: ‘Eu dou a 10, mas a 9 é minha’. Aí na hora do treino, o Adílio caiu, e o médico falou para botar gesso: ‘Vamos fazer raio-x’. Queria tirar logo ele.
E os momentos tristes?
Só a minha contusão, que poderia terminar com a minha carreira. Uma entrada daquela desleal e maldosa (do Márcio Nunes, do Bangu). O Maracanã era tão legal, tinha tanta amizade, que uma vez era Flamengo e Vasco, dia chuvoso, disputei bola com o Orlando, ele sem querer puxou meu braço, e a aliança foi. O lance era entre a linha da grande área e a da pequena área. Na hora tentei ver, mas não dava. Deixaram os refletores ligados, antes de molhar o gramado, e foram lá procurar. Na quarta-feira quando voltamos para jogar, o cara estava lá com a aliança. Muito bacana!
Quando começou a sua história no Maracanã?
O que eu tenho marcado foi a final entre Flamengo e Botafogo que o Garrincha fez três gols, em 1962. No ano seguinte, teve o maior público da história, 167 mil (Fla-Flu) e o Flamengo foi campeão. A gente não ia a jogos comuns, só a final. Uma das imagens mais marcantes, não sai da minha retina, é quando você sai do elevador e vê a imagem das duas torcidas e o Maracanã lotado. Inesquecível. A gente fazia hora para entrar com o estádio já cheio só para ver aquela imagem. Depois teve meus irmãos. Eu ia a todos os jogos deles, tanto do Antunes quanto do Edu. Nessa época, já me sentia um cara de Maracanã.
O novo Maracanã vai ter a mesma essência?
Só não acho legal a rede quadrada, esse alçapão que querem colocar. Parece um galinheiro. Não é possível que os caras não vejam a importância de a bola bater na rede e estufar. Uns botam tão rígida que a bola bate, volta, e o cara nem sabe se foi gol. O Morumbi tinha uma que a bola batia e ficava rodando. A essência do gol é a rede estufar. Tem que manter o véu de noiva.
Os caras batiam tanto que fiz quatro gols de pênalti. Agora, a possibilidade de perder era grande. Mas eu batia num canto, o goleiro ia no outro. Ele ia para o mesmo lugar, e eu batia no mesmo. Aí no último ele trocou, e eu troquei também.
Consegue eleger os seus cinco gols favoritos no Maracanã?
Como foi jogar com o Pelé no Maracanã?
E os momentos tristes?
Só a minha contusão, que poderia terminar com a minha carreira. Uma entrada daquela desleal e maldosa (do Márcio Nunes, do Bangu). O Maracanã era tão legal, tinha tanta amizade, que uma vez era Flamengo e Vasco, dia chuvoso, disputei bola com o Orlando, ele sem querer puxou meu braço, e a aliança foi. O lance era entre a linha da grande área e a da pequena área. Na hora tentei ver, mas não dava. Deixaram os refletores ligados, antes de molhar o gramado, e foram lá procurar. Na quarta-feira quando voltamos para jogar, o cara estava lá com a aliança. Muito bacana!
Quando começou a sua história no Maracanã?
O que eu tenho marcado foi a final entre Flamengo e Botafogo que o Garrincha fez três gols, em 1962. No ano seguinte, teve o maior público da história, 167 mil (Fla-Flu) e o Flamengo foi campeão. A gente não ia a jogos comuns, só a final. Uma das imagens mais marcantes, não sai da minha retina, é quando você sai do elevador e vê a imagem das duas torcidas e o Maracanã lotado. Inesquecível. A gente fazia hora para entrar com o estádio já cheio só para ver aquela imagem. Depois teve meus irmãos. Eu ia a todos os jogos deles, tanto do Antunes quanto do Edu. Nessa época, já me sentia um cara de Maracanã.
O novo Maracanã vai ter a mesma essência?
Só não acho legal a rede quadrada, esse alçapão que querem colocar. Parece um galinheiro. Não é possível que os caras não vejam a importância de a bola bater na rede e estufar. Uns botam tão rígida que a bola bate, volta, e o cara nem sabe se foi gol. O Morumbi tinha uma que a bola batia e ficava rodando. A essência do gol é a rede estufar. Tem que manter o véu de noiva.
Novo formato das redes não agrada Zico | Foto: Divulgação
Você acha que o Brasil chega à decisão da Copa de 2014, no Maracanã?
Acho que o Brasil não é favorito, mas tem jogadores para formar um bom plantel e chegar à final. Não resta dúvida. Hoje estamos a um ano e três meses da Copa. Colocaria a Argentina como favorita, por causa do Messi, e a Espanha, pelo conjunto, pela força. Depois vêm Alemanha, Itália, Brasil... Essas seleções que estão acostumadas a se agigantar durante a competição.
Como foi a emoção de se despedir no Maracanã?
O mais importante foi que eu me preparei para isso. É sempre triste. Peço licença ao Falcão para roubar a frase dele. Ele diz que o jogador morre duas vezes: uma quando para de jogar e outra quando Deus chama mesmo. Quando perdi o tesão para treinar, as contusões começaram a atrapalhar, comecei a pensar nisso. A festa foi de despedida, um reconhecimento. É muito triste. Imagina um cara que deu tantas alegrias ter que parar de jogar? Mas eu não me senti triste naquele dia. Principalmente por chegar ao Maracanã e ver uma torcida daquela toda presente como se fosse em agradecimento aos meus anos de carreira no clube. Me senti triste antes, quando comecei a pensar que estava na hora de parar.
E a música do Moraes Moreira ‘Saudades do Galinho’?
É a identificação com o clube. Poucos jogadores poderiam receber esse tipo de homenagem. Tanto tempo, você se acostuma com aquilo (ver o ídolo jogar) e depois sabe que vai perder isso. Só um cara que viveu isso pode colocar no papel. Nem todos têm essa capacidade. Ele (Moraes Moreira), por ser extrassérie da música, conseguiu traduzir isso. Eles sentiram falta do Zico, e eu do Maracanã.
Como foi vestir a camisa do Vasco na despedida do Roberto Dinamite?
Não é porque foi o Vasco. Eu sempre tive à parte essa coisa de rivalidade. O Roberto me convidou e eu aceitei na hora. Não fiquei preocupado com o que o torcedor do Flamengo iria pensar, o do Vasco, e sim em homenageá-lo pelo que ele representou no futebol. Foi um momento único, e uma coisa que eu guardo comigo é que o Vasco foi o clube que, através do presidente Calçada, foi me homenagear no campo, me entregou uma placa, quando eu parei de jogar.
Acho que o Brasil não é favorito, mas tem jogadores para formar um bom plantel e chegar à final. Não resta dúvida. Hoje estamos a um ano e três meses da Copa. Colocaria a Argentina como favorita, por causa do Messi, e a Espanha, pelo conjunto, pela força. Depois vêm Alemanha, Itália, Brasil... Essas seleções que estão acostumadas a se agigantar durante a competição.
Como foi a emoção de se despedir no Maracanã?
E a música do Moraes Moreira ‘Saudades do Galinho’?
É a identificação com o clube. Poucos jogadores poderiam receber esse tipo de homenagem. Tanto tempo, você se acostuma com aquilo (ver o ídolo jogar) e depois sabe que vai perder isso. Só um cara que viveu isso pode colocar no papel. Nem todos têm essa capacidade. Ele (Moraes Moreira), por ser extrassérie da música, conseguiu traduzir isso. Eles sentiram falta do Zico, e eu do Maracanã.
Como foi vestir a camisa do Vasco na despedida do Roberto Dinamite?
Não é porque foi o Vasco. Eu sempre tive à parte essa coisa de rivalidade. O Roberto me convidou e eu aceitei na hora. Não fiquei preocupado com o que o torcedor do Flamengo iria pensar, o do Vasco, e sim em homenageá-lo pelo que ele representou no futebol. Foi um momento único, e uma coisa que eu guardo comigo é que o Vasco foi o clube que, através do presidente Calçada, foi me homenagear no campo, me entregou uma placa, quando eu parei de jogar.
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