Referência na dança contemporânea, Angel Vianna conta que pensou em ser freira
POR PAULO RICARDO MOREIRA
Rio - Quem vê Angel Vianna subindo dois lances de escada e alongando o corpo numa sala de sua escola de dança, em Botafogo, fica impressionado com a vitalidade da bailarina e coreógrafa mineira de 84 anos. Referência na dança contemporânea no Brasil, apesar de não se apresentar mais com frequência, ela prepara uma surpresa para a festa de abertura do Festival ‘O Boticário de Dança’, na próxima segunda-feira, no Teatro São Pedro, em São Paulo. Homenageada do evento, que trará grupos nacionais e estrangeiros, com apresentações na capital paulista (de 1º a 6 de maio), no Rio (de 4 a 8, no Theatro Municipal, com ingressos a partir de R$ 20) e em Curitiba (de 7 a 9), Angel está sempre desafiando seus limites.
Com mais de 80 anos, dançarina mostra flexibilidade | Foto: Maíra Coelho / Agência O Dia
“Me acho mais jovem de cabeça. Nunca me preocupei com idade, não penso na morte, nem em parar. Sempre trabalhei com o corpo, estudei anatomia, dancei, dou aulas. Se a gente conhece o nosso corpo, dá mais atenção a ele. Acho que isso se refletiu na minha saúde física e mental”, ensina a bailarina, que se surpreendeu com mais uma homenagem: “É uma mágica. Não esperava nada. Estou muito feliz”.
Mas se a igreja perdeu uma freira, a dança ganhou uma estrela. “A arte me salvou”, resume Angel. Como ela não se achava uma grande bailarina clássica, procurou outras formas de se expressar com o corpo. “Eu me sentia pequena, por isso queria ser grande em tudo o que fazia. Mas não dançava tão lindamente o balé como as outras. Me comparava com elas. Não me sentia bem. Foi então que pedi a um professor para criar um balé mais expressionista para mim”, lembra.
Altos e baixos
Mal havia se refeito da perda do marido, a bailarina teve outro baque. O corpo do filho, de 37 anos, foi encontrado em uma praia, afogado, após dois dias desaparecido. “Quando Rainer morreu, eu fiquei arrasada. Tive que fazer terapia para aguentar ficar sem os dois”, revela a bailarina.
Na mesma época, ela buscou conforto com a família em Minas, mas fraturou a perna direita ao levar um tombo no supermercado. “Pisei no ketchup que estava no chão e caí. Fiz uma cirurgia e botei sete parafusos na perna”, lembra ela, que voltou ao Rio após se recuperar. “O Rio me abraçou”.
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