Rio -  Preços e inflação em alta fazem o consumidor abrir mão de beber uma cervejinha gelada, o que reflete em números negativos para a indústria de bebidas. Duas gigantes do setor, Ambev e Heineken, em balanço trimestral, registraram queda na venda do produto. Devido ao preço mais amargo, a primeira vendeu menos 8,2% no primeiro trimestre deste ano e a segunda teve recuo de 6% nas vendas. Amantes das louras geladas ainda encontram diferença de preços de até 70% entre as marcas.
Grupo aproveitou a promoção para festejar o aniversário de um amigo | Foto: Paulo Alvadia / Agência O Dia
Grupo aproveitou a promoção para festejar o aniversário de um amigo | Foto: Paulo Alvadia / Agência O Dia
Além da inflação de alimentos e bebidas que subiu acima da expectativa, outros fatores influenciaram a diminuição na venda. “Os principais fatores foram o aumento no preço de matérias-primas, como cevada e embalagens de alumínio e o impacto da desvalorização do real”, revelou a Ambev.
No acumulado anual calculado até março deste ano, o IPCA, índice oficial, subiu 6,59%. Nesse mesmo período, a inflação de alimentos e bebidas atingiu 13,48%, motivo apontado por especialistas como fundamental para a queda no consumo.
“Além de ser item supérfluo na escala de preferência dos consumidores, a cerveja é bastante sensível aos preços, o que significa que qualquer aumento da inflação reflete na alta imediata dos preços, fazendo assim, o consumo diminuir”, analisa Marcelo Bolzan, professor de economia e diretor do Instituto de Desenvolvimento e Estudos do Governo (Ideg).
Este ano, o governo aumentou alíquotas de várias bebidas e a cerveja, em abril, teve acréscimo de 2,5% na carga tributária. O aumento foi sentido nos bares e restaurantes e quem gosta da bebida sente no bolso a escalada dos preços.
Na Lapa, tradicional bairro boêmio no Centro do Rio, cerveja é motivo de reclamação. Aposentado, Paulo Afonso, 63, não dispensa a bebida com amigos, mas confirma que ela está mais cara. “Eu costumava pagar R$ 6 pela garrafa e agora o preço é R$ 7,50”, observa.
Movimento diminui e bares investem em promoções
O aumento no preço da cerveja já começa a afetar o varejo e os bares e restaurantes sentem falta das mesas sempre cheias. Para não perder a clientela, a saída foi apostar em promoções. “O preço da bebida aumentou, mas, para manter o movimento, criamos uma oferta: de sexta-feira a domingo, o preço das cervejas é R$ 9, mas de segunda-feira a quinta vendemos a R$ 7”, conta Manuel Tinoco, gerente de bar na Lapa.
Para Darcilio Junqueira, superintendente do Sindicato de Hotéis, Bares e Restaurantes (Sind-Rio), o aumento no preço tem feito o movimento diminuir consideravelmente nos bares da cidade. “Em algumas regiões a queda foi em torno de 15% no número de clientes. Além disso, as pessoas estão preferindo comprar nos mercados, onde são mais baratas, para beber em casa”, observa.