Rio -  Dente de leite, definitivo e... biodente. Pode parecer estranho, mas a terceira dentição já existe, pelo menos dentro dos laboratórios. A boa notícia é que e, em breve, poderá beneficiar quem precisa, substituindo dentaduras ou implantes artificiais. Criada a partir de células-tronco retiradas do siso do próprio paciente, a peça possui estruturas iguais às de um dente natural, como esmalte e raiz.
A dentição do futuro faz parte de pesquisa da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Trata-se de uma técnica conhecida por Engenharia Tecidual, cujo objetivo é criar um dente 100% natural e implantá-lo em que sofre de perda dentária. Como o método recorre ao transplante autógeno — doador e receptor são o mesmo indivíduo —, nenhuma rejeição é esperada, de acordo com a pesquisadora Mônica Duailibi.
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Foto: O Dia
Arte: O Dia
Assim como na versão natural, também estão no substituto biológico: esmalte, dentina, polpa, ligamento periodontal, sementon e osso. Segundo Mônica, os dentes têm vasossanguíneos e contam com um estímulo nervoso que controla, por exemplo, a força que fazemos durante a mastigação. “Tudo indica que o dente biológico também tenha essa capacidade e estrutura”, aponta.
Ela explica que a prótese dentária tradicional, com pinos de metal, apenas repara o dano e recupera a funcionalidade do dente, diferente do dente biológico. “A nossa técnica é de regeneração total do dente, como uma terceira dentição”, disse.
O biodente é feito a partir de células-tronco retiradas do interior do siso. O material é inserido em um molde de polímero, com o formato exato do dente a ser recuperado. Para que cresça, pesquisadores o implantam no dorso de um rato. O monitoramento é feito a partir de raio-X. “As células do dente são marcadas com substância fluorescente para auxiliar a visualização”, diz.
A pesquisa, iniciada em 2001, está na fase pré-clínica e os implantes estão sendo usados em animais, com sucesso. Ainda não há previsão para o uso em humanos.
Mistura de rato com humano
No Reino Unido, pesquisadores também se dedicam à produção da terceira dentição. Cientistas do King’s College de Londres apresentaram, em março, nova técnica que combina células do tecido gengival humano adulto com células de camundongos.
Quando esta combinação foi transplantada para outras cobaias, ocorreu o crescimento dos dentes híbridos humano/camundongo. A estrutura também continha dentina, raiz e esmalte. Responsável pelo experimento, Paul Sharpe explica que as céluas embrionárias de camundongos se mostraram capazes de induzir a formação da dentição. As células humanas foram retiradas de pacientes do Instituto de Odontologia.
Perda dentária afeta o Brasil
A perda dentária é um problema que afeta todo o Brasil. Levantamento do Ministério da Saúde, feito em 250 municípios, apontou que das pessoas com idades entre 35 e 44 anos, 9% sofrem de edetulismo (não possuem nenhum dos 32 dentes). Na mesma faixa etária, 24% têm entre quatro e oito dentes perdidos. E 10%, entre 16 e 20 dentes faltando.
Segundo o levantamento, a média de dentes perdidos foi de 13,5. Moradores de zona rural apresentaram prevalência de perda dentária 15% maior que moradores de regiões urbanas.
A cárie é a principal causa de perdas dentárias, mas traumatismos na boca e doenças periodontais também contribuem. O estudo foi feito entre 2002 e 2003, com 12.811 participantes.  
Reportagem: Beatriz Salomão