Rio -  Para o sociólogo Alexandre Werneck, os pedidos de desculpas, sinceros ou não, funcionam como uma espécie de tratado de paz. Ele, que acaba de lançar o livro "A desculpa" (Record), diz que o gesto permite a manutenção de nossas relações sociais.
Foto: Severino Silva / Agência O Dia
Foto: Severino Silva / Agência O Dia
—Como o sr. define o ato de se desculpar?
—As pessoas associam a desculpa a um primo feio da mentira, às famosas desculpas esfarrapadas. Não é bem assim. O ato de se desculpar é um convite para o outro entender as circunstâncias que nos levam a cometer um erro. Manuais sobre o assunto revelam que há dois tipos gerais de desculpa. No primeiro, a pessoa diz algo como “não era eu” — admite que cometeu um gesto indevido, mas alega que estava irritada ou bêbada. A outra é a desculpa da circunstância, o famoso “é assim que as coisas são”. Foi um comportamento que observei na CPI do Mensalão.
 
—Como assim?
—Os envolvidos dedicaram grande parte dos seus depoimentos para narrar sua trajetória política e história de luta. Uma forma de mostrar que o envolvimento no Mensalão foi motivado pelas circunstâncias. Frases como “No Brasil, a política é assim” viraram argumento central.

—E em relação às desculpas entre os casais?
— Nesses casos, o pedido está geralmente associado a uma prestação de contas. Não importa tanto se o argumento faz sentido, o importante é dar uma satisfação. A desculpafunciona para encerrar o assunto e evitar uma disputa.