São Paulo -  Considerado um dos responsáveis pela mais sangrenta operação de retomada de pavilhão no massacre de Carandiru, o tenente-coronel Salvador  Modesto Madia estará no banco dos réus no próximo julgamento, junto com 28 policiais das Rondas Ostensivas Tobias Aguiar (Rota). A previsão da defesa é que o júri, que está acontecendo separadamente para cada um dos quatro pavimentos onde ocorreu o crime, seja em setembro.
No dia da invasão ao Carandiru que culminou com as mortes de 111 detentos, em 2 de outubro de 1992, Madia era tenente e o quarto homem na linha de comando da tropa que retomou o terceiro pavimento do pavilhão 9. Segundo o Ministério Público Estadual, a tomada desse piso provocou a morte de 73 presos.
Ex-comandante da Rota, o tenente-coronel Madia será um dos réus no segundo julgamento do Carandiru | Foto: Reprodução Internet
Ex-comandante da Rota, o tenente-coronel Madia será um dos réus no segundo julgamento do Carandiru | Foto: Reprodução Internet
Madia era comandado pelo capitão Valter Alves Mendonça e atuou acompanhado de 28 homens da Rota. O coronel Luiz Nakaharada, que em 1992 era do 3° Batalhão de Choque e o oficial mais graduado depois do coronel Ubiratan Guimarães, comandante da operação, também será julgado. Nakaharada é apontado em testemunhos como autor de ao menos cinco homicídios ocorridos no local.
Na madruga de domingo, 23 dos 26 policiais julgados foram condenados a 156 anos de prisão, mas na prática saíram livres do tribunal, porque responderão ao processo em liberdade.
Ontem, representantes da Assembleia Legislativa de São Paulo e de associações de classe da PM decidiram fazer no dia 6 ato público — um abraço coletivo em torno do Tribunal de Justiça de São Paulo — contra as condenações dos PMs.
No entender de um dos líderes do movimento, o deputado estadual e major da reserva Olímpio Gomes (PDT), a sentença que condenou os PMs coletivamente “foi absurda” e “certamente” será reformada.
GURGEL PEDE PRISÃO DOS 25 CONDENADOS APÓS ANÁLISE DE RECURSOS
O procurador-geral da República, Roberto Gurgel, pediu ontem que o Supremo Tribunal Federal (STF) aja com firmeza e execute as prisões dos 25 condenados no julgamento do Mensalão assim que os ministros concluam a análise dos primeiros recursos.
Procurador Roberto Gurgel quer firmeza do STF na análise de recursos | Foto: Divulgação
Procurador Roberto Gurgel quer firmeza do STF na análise de recursos | Foto: Divulgação
“O Supremo Tribunal certamente terá uma posição de muita firmeza em relação a eventuais recursos protelatórios”, disse Gurgel.
A afirmação do procurador-geral foi feita logo após a publicação do acórdão do julgamento, documento com mais de 8 mil páginas que detalha as decisões tomadas pelos ministros ao longo de quase cinco meses de sessões. Com isso, começa a correr hoje e vai até o dia 2 de maio o prazo de dez dias para que as defesas apresentem recursos.
A ideia do presidente do STF e relator do processo, ministro Joaquim Barbosa, é julgar os recursos ainda no primeiro semestre, para uma definição sobre o início das penas dos 25 condenados.
No julgamento, os ministros do Supremo definiram que o Mensalão foi um esquema de desvio de recursos públicos que misturado a empréstimos fraudulentos financiou um sistema de compra de apoio político no Congresso durante os primeiros anos do governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a partir de 2002.
A corte concluiu também que o Mensalão foi organizado pela antiga cúpula do PT com a ajuda do empresário Marcos Valério Fernandes de Souza (condenado a mais de 40 anos). O STF considerou o ex-ministro da Casa Civil, José Dirceu, o organizador e controlador do esquema.
Condenado a 10 anos e 10 meses de prisão, o antigo homem forte do governo Lula, José Dirceu, afirmou em artigo divulgado sexta-feira que 2012 foi o ano da “concretização de uma farsa político-jurídica e midiática”. No texto, o ex-ministro acusa o STF de ter “trilhado o caminho do julgamento eminentemente político” e reafirma que foi condenado sem provas.