Rio -  A Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente (DPCA) está investigando os grupos de ladrões que agem na Avenida Presidente Vargas e já detectou o alvo principal do combate a estes crimes: os receptadores adultos de joias e celulares. É o que mostra hoje a terceira reportagem da série especial do DIA sobre roubos praticados na área. A maioria dos bandos que atuam livremente na
Presidente Vargas e ruas adjacentes é composta por menores, conforme observado pela equipe do jornal na semana passada, entre os dias 15 e 19 de abril. Mas, apesar de detidos, eles acabam soltos e voltam a praticar os crimes.
Por isso, segundo a delegada titular da DPCA, Bárbara Lomba, identificar e prender os receptadores adultos dos objetos roubados pelos menores é um passo fundamental para desmantelar as quadrilhas.
Grupo de menores foge depois de atacar uma vítima e passa entre os carros, cruzando as pistas das avenidas Presidente Vargas e Passos | Foto: Estefan Radovicz / Agência O Dia
Grupo de menores foge depois de atacar uma vítima e passa entre os carros, cruzando as pistas das avenidas Presidente Vargas e Passos | Foto: Estefan Radovicz / Agência O Dia
“Em abril do ano passado, depois de investigação minuciosa, descobrimos que os grupos que agiam na Presidente Vargas eram da Favela Nova Holanda e que o receptador também era de lá. Montamos um inquérito com depoimentos de menores, a Justiça concedeu a prisão preventiva do receptador e fizemos operação na favela para pegá-lo. Ele tinha uma loja e encontramos muitas joias sem procedência no local”, lembra a titular da DPCA.
 
Queda nos índices
Segundo a delegada, a prisão de Artur Siqueira, o Russo, causou uma sensível queda nos índices de furtos no Centro, em meados de 2012.
“Agora, temos que saber quem são os novos receptadores e retirá-los de circulação. Quando um menor é apreendido, mesmo em flagrante, acaba voltando para as ruas em poucos dias por força do Estatuto da Criança e do Adolescente”, diz Lomba.
Os ladrões correm pelo meio da avenida, entre carros, caminhões e ônibus, depois de assaltarem as vítimas | Foto: Estefan Radovicz / Agência O Dia
Os ladrões correm pelo meio da avenida, entre carros, caminhões e ônibus, depois de assaltarem as vítimas | Foto: Estefan Radovicz / Agência O Dia
Segundo ela, há um mês a Ouvidoria das Polícias recebeu informe de que grupos de menores estavam praticando furtos nessa área. “Minha equipe investigou, detectou os grupos e observou como operavam. O resultado foi encaminhado à Ouvidoria, com a sugestão de que a Polícia Militar tomasse ciência”, contou a delegada.
Segundo nota oficial da Polícia Militar, a corporação não recebeu qualquer relatório da Ouvidoria das Polícias sobre esse assunto. Mas o tenente-coronel Sidney Camargo, comandante do 5º BPM, responsável pelo policiamento da área, ressalvou que a DPCA mantém contato constante com o batalhão para informar sobre a movimentação de menores infratores.
Rapaz de camisa verde discute com o bandido, de camisa listrada | Foto: Estefan Radovicz / Agência O Dia
Rapaz de camisa verde discute com o bandido, de camisa listrada | Foto: Estefan Radovicz / Agência O Dia
As câmeras da polícia instaladas na Avenida Presidente Vargas talvez fossem um trunfo no combate a essas gangues. Na nota da PM, o coronel Camargo afirma que o batalhão utiliza imagens de duas câmeras, instaladas em locais que não podem ser divulgados.
“Estas imagens ficam guardadas por 30 dias e servem tanto para ações rápidas quanto para planejamentos”, alega. No entanto, não exemplificou os resultados práticos já obtidos a partir das imagens gravadas.
Uma semana de ataques
Segunda, quarta e sexta-feira da semana passada foram os dias em que houve mais flagrantes dos assaltos, que têm hora marcada para começar: 8h. Na terça e na quinta-feira, uns poucos se aventuraram atrás de cordões de celulares. Mas pelo menos um grupo chamou bastante atenção na terça-feira: três menores usando camiseta de escola municipal.

Segunda-feira
Às 9h10 ouve-se o primeiro grito de “pega ladrão”. Um menino de uns 14 anos atacara um homem. O cordão da vítima foi parar rapidamente em sua boca. Até às 11h, várias gangues transitaram e correram em disparada pela Avenida Presidente Vargas, dando a convicção de que o roubo tinha sido consumado.

Quarta-feira
Às 9h35, o primeiro bote: dois ladrões passam pelo ponto do BRS. Um deles enfia rapidamente a mão pela janela do ônibus e os dois correm. Às 9h50, quatro caminham pela calçada central. Um deles rouba o cordão de uma mulher. Oito minutos depois, o mesmo menino subtrai o cordão de um homem de meia idade. Às 10h20, três atacam uma senhora de idade na porta do Detran. Às 10h32, dois ladrões roubam uma mulher sob a copa de uma árvore e saem correndo.

Sexta-feira
Às 9h05, vê-se um rapaz de camisa branca em desabalada carreira. Atrás dele, o comparsa. Mais gritos de “pega ladrão”. Às 9h13, outros dois bandidos atacam uma moça com blusa verde na calçada da pista central. Correm. Minutos depois retornam e buscam mais vítimas. Às 9h45, a mesma dupla rouba o cordão de outra mulher, também na calçada central da Presidente Vargas.
Pedestres reagem sozinhos à ação dos bandidos
Na falta de quem os livre dos ladrões, algumas vítimas decidem resolver a situação por conta própria. E são sempre os homens, cientes de sua força física e do fato de a maioria dos ladrões não estar desarmada.
Num dos casos flagrados pelo DIA, um rapaz de camisa verde e mochila caminha pela calçada central, mas percebe quando um homem corpulento, com cerca de 25 anos, atravessa a pista da Presidente Vargas e sobe na mesma calçada em que ele está.
A vítima não se intimida. Vira-se repentinamente e os dois começam a discutir. O homem levanta a beira da camisa como se mostrasse que não possuía arma. O rapaz, de supetão, dá um chute no homem, que se enverga com a dor e depois se senta no meio-fio. O rapaz atravessa a pista e vê duas viaturas da PM na porta do Detran.
Homem reagiu e dado um chute no ladrão, que aparece agachado na segunda foto, sentindo dor | Foto: Estefan Radovicz / Agência O Dia
Homem reagiu e dado um chute no ladrão, que aparece agachado na foto, sentindo dor | Foto: Estefan Radovicz / Agência O Dia
Ao perceber que a vítima vai chamar a polícia, o homem se levanta rapidamente, começa a tirar a camisa e corre para o outro lado da avenida, onde há uma praça.
Nesse momento passa uma patrulha da PM. Os policiais desconfiam, abordam o homem, mas como não encontram arma nem objetos roubados, o liberam. Ele segue impune.
Em outra situação, dois ladrões tentam atacar o motorista de um táxi parado no sinal. Ele fecha a janela depressa. Com raiva, um dos bandidos volta para a calçada, pega uma pedra, atira no táxi e sai correndo. O taxista sai do carro e vai verificar se houve estrago na lataria.