Rio -  Nunca aos domingos, lembram do filme? Horror inenarrável: churrascarias lotadas com famílias, crianças berrando e correndo entre as mesas. Mas principalmente jamais, em tempo algum, almoçar em churrascaria no Dia das Mães. A cena fica mais patética quando filhosúnicos levam a mãe para comemorar a data. A coisa piora quando é a única vez no ano em que almoçam juntos. Ambos mastigam suas picanhas em silêncio constrangedor. Tem pouco ou quase nenhum assunto. “Como vai a tia Marieta?” “Morreu, você não sabia?” O Dia das Mães não devia cair num domingo. Tem cara de segunda-feira.
Escolhi para ilustrar a crônica um cartum de Otto Soglow, publicado em 25 de fevereiro de 1932 na revista The New Yorker. O desenho é 5 dias mais velho do que eu. Leitores veteranos talvez se lembrem de um personagem do cartunista que fez sucesso nos gibis brasileiros nos anos 60: o Reizinho. O curioso é que hoje, quando soltam foguetes para comemorar a eleição de um brasileiro para a presidência da Organização Mundial do Comércio, não encontro a New Yorker aqui no Rio. E comprava todas as semanas quando o Jânio era presidente, numa loja na Rua do Ouvidor chamada, se não me falham os neurônios, Brasil-China. Dentro das páginas vinha um cartão para leitores interessados em receber a revista pelo correio. Mandei várias vezes — com a respectiva ordem de pagamento da assinatura — e nunca me mandaram a revista nem debitaram a grana na minha conta. Minha carta deve ter sido jogada no lixo sem ser aberta. O que tinha sua lógica: a revista semanal fundada por Harold Ross era dirigida exclusivamente aos leitores mais sofisticados de New York. Para você ter uma ideia, entre os colaboradores tinha Steinberg (e outros cartunistas geniais), James Thurber, Dorothy Parker e Woody Allen. Oseditores deixavam bem claro que não era para ser lido por caipiras de Dubuque, cidadezinha do interior de Iowa, atualmente com cerca de 60 mil habitantes, imagina na época. E muito menos por um sujeito nascido no Brasil, vago país da América do Sul cuja capital é Buenos Aires.
Voltando ao Dia das Mães, desobedeça à ordem de um anúncio na TV e não dê um abraço de urso na sua mãe. Pode matar a velhinha. E respondendo à pergunta do título: quem inventou o Dia das Mães só pode ter sido um filho da mãe.