Moacyr Luz: Beth Carvalho ou nossa madrinha
O asfalto vira barro vermelho, subida íngrime, mato alto, capim-limão, e descubro o óbvio: entramos numa das favelas do bairro.
Num piscar de olhos assustados, se aproximam dois sujeitos já com as pupilas bem abertas: — Que "qui" tá pegando?
Meio agachado, descobre: — Beth Carvalho! Que honra!
Amanhecemos com um guindaste e duas cervejas na birosca em meia porta.
São muitas histórias. Minha primeira ida ao Cacique de Ramos em 1985, uma tarde com violões, ela e Nelson Cavaquinho, outras músicas gravadas, um ramo de recordações.
Hoje é seu aniversário. Uma festa merecida por esta data. Lembro um ano dessas comemorações, gente pelo ladrão e uma fila curiosa na varanda de casa. Era uma carrocinha do Angu do Gomes, direto da fonte. Outro prato tão frequente quanto o bolo tradicional, especialidade de Sérvula Amado, vinha do mar, arroz de polvo.
Ali, conheci Arlindo Cruz, me aproximei definitvamente do meu querido Luiz Carlos da Vila, aprendi nos saraus da madrugada o respeito pelo compositor popular.
Conviver assim é um privilégio. Me belisco lembrando histórias, pra acreditar em tudo que vivi.
Carioca, timbre único, vem à memória outra cena. Cinco da manhã, apenas nosso grupo numa estridente mesa de bar, quando um gaiato implica que no Rio se trabalha pouco. Dedo indicador apontado, nossa cantora responde: — A verdade é que a gente não complica. Basta uma vez e tudo se resolve. Depois é samba!
Uma aula. Parabéns!
E-mail: moacyrluz@ig.com.br
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