Rio -  O funk tem ganhado o mundo. Já há muito tempo ele não é mais exclusividade do território carioca. Meu projeto de mestrado sobre funk e feminismo virou assunto na mídia nacional e alvo de críticas — muitas qualificadas, outras preconceituosas. O que pouco foi dito é que não sou pioneira nos estudos sobre o tema. O funk foi pesquisado por Hermano Vianna em sua dissertação de mestrado em 1987 — quando eu sequer tinha nascido. Além de Vianna, Silvio Essinger, Adriana Facina, Adriana Lopes e outros dedicaram-se ao funk e são responsáveis por inseri-lo no meio acadêmico.
A academia é um espaço importante para a desconstrução de pensamentos elitistas e preconceituosos que levam alguns a dizer que funk não é cultura. Mas não é o único e nem será responsável pela legitimação do funk e de outros ritmos musicais marginalizados.
Muitas pessoas apontam o grande número de artistas que dialogam com o funk como forma de torná-lo um legítimo produto cultural. Enquanto os funkeiros lutam para provar que funk é cultura, a chamada ‘elite intelectual’ acredita que só ela pode legitimá-lo. Para ela, é preciso que um grupo específico, de confiança dessa classe, corrobore o funk.
É por isso que insistimos: a hierarquização da cultura, produzida e reafirmada ao longo dos séculos, só prejudica o debate e a própria cultura popular. Por que a legitimidade precisa vir de movimentos culturais considerados como “alta cultura”? O funk e outros movimentos culturais precisam ser vistos como legítimos desde a sua origem. E isso independe da origem de classe de quem produz. Nossa luta também deve ser para que não precisemos mais de ninguém para legitimar a cultura popular. Nós mesmos vamos legitimar nossa cultura e sem chamar as outras culturas de lixo apenas por não ser a nossa.
Mariana Gomes é mestranda em Cultura e Territorialidades pela UFF