Rio -  Dois milhões de passageiros de ônibus foram pegos de surpresa com a greve dos rodoviários, que começou à 0h desta sexta-feira, dia do aniversário do Rio.
Quem precisou dos coletivos para circular pela cidade sofreu com filas gigantescas nos pontos, trânsito lento, estações do metrô e trem lotados, apedrejamento de dezenas de coletivos, cobrança de tarifas abusivas em veículos piratas e aulas suspensas em diversas escolas.
À noite, por decisão da desembargadora Rosana Villela Travesedo, o Tribunal Regional do Trabalho (TRT) obrigou o Sindicato dos Rodoviários a garantir hoje a circulação mínima de 80% da frota, sob risco de multa diária de R$ 200 mil.

Milhares de cariocas sofrem com greve

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Os poucos ônibus que circulam estão sendo disputados
O presidente do sindicato, Sebastião José, disse ao DIA que está mantido o percentual de 20% da frota neste sábado, como foi definido em assembleia à tarde. Ele informou, porém, que não tomou conhecimento da liminar do TRT. “Essa liminar acaba com a greve”, sentenciou.
Segundo ele, o departamento jurídico do sindicato vai analisar para decidir se recorre ou cumpre a liminar. E também negou que a paralisação tenha ocorrido de surpresa:
“O estado de greve está decretado desde o dia 18, o prefeito foi avisado e houve publicação de notas e edital”. O movimento teve início na madrugada, com a rejeição do Sindicato dos Rodoviários à proposta de 8% de reajuste salarial da Rio Ônibus, abaixo dos 15% exigidos, além de benefícios (leia na página 6).
Foto: Paulo Alvadia / Agência O Dia
Grevistas durante assembleia da categoria num clube de Guadalupe: no encontro, ficou decidido que paralisação será por tempo indeterminado  | Foto: Paulo Alvadia / Agência O Dia
Segundo a Rio Ônibus, que entrou na Justiça contra o sindicato por considerar a greve imotivada e abusiva, apenas 28% da frota, 2.524 de 9.147 ônibus, circularam.
Ao longo do dia, foram registradas confusões, principalmente em Santa Cruz e na Ilha do Governador. Ao todo, 194 veículos foram depredados, causando avarias em para-brisas, retrovisores e janelas, e ferimentos em nove motoristas.
Mais de 70 escolas da rede pública de ensino ficaram sem aula ou funcionaram parcialmente. O aumento de passageiros nos trens e metrôs foi, respectivamente, de 24% e 19%.
SuperVia e Metrô com esquema especial
Para amenizar os efeitos da greve de rodoviários, a SuperVia programou esquema especial que disponibiliza 44 mil lugares adicionais nos trens do ramal Deodoro e de Santa Cruz hoje. A concessionária esclareceu que serão feitas viagens semidiretas para atender o número maior de passageiros.
Já o MetrôRio explicou, em nota no site da empresa, que neste fim de semana vai avaliar a demanda para determinar o horário de funcionamento.
“Enquanto perdurar a greve, o metrô na superfície, operado pelos rodoviários, não funcionará. Para reforçar a informação aos cliente, há cartazes nas bilheterias e mezaninos, além de comunicados sonoros nas estações e vagões”, explica o texto, destacando que há dois telefones disponíveis para informar a população: 0800 595 1111 e 4003-2111.
Foto: Severino Silva / Agência O Dia
Milhares de cariocas tiveram que exercitar a paciência nesta sexta-feira à espera de ônibus em toda a cidade | Foto: Severino Silva / Agência O Dia
Na manhã e tarde desta sexta-feira, enquanto centenas de pessoas ligavam para o trabalho comunicando que chegariam atrasadas ou que estariam retornando para casa, houve grande tumulto na estação do metrô de Botafogo, o que também se repetiu na estação da Central.
Usuários exigiram a devolução do dinheiro ao serem informados de que os ônibus de integração com a superfície não estavam operando.
“Trabalhamos em Ipanema e a estação final agora é na Siqueira Campos, em Copacabana. Dependemos da integração e o preço pago pelo bilhete nos dá o direito de usar o serviço. Em resposta, a moça do caixa mandou chamar os seguranças. Vamos entrar com uma ação coletiva contra o metrô", afirmou o advogado Nicodemos Vilella.
Paes: ‘Não vamos aumentar a passagem’
Eduardo Paes criticou a greve. Segundo o prefeito, as empresas podem até ser punidas pela paralisação. Paes garantiu ainda que não vai aumentar o preço da passagem de ônibus neste momento — o último reajuste entrou em vigor em 2 de janeiro de 2012 (de R$ 2,50 para R$ 2,75).
“Se as concessionárias de ônibus não tiverem responsabilidade, serão punidas. O que não pode é o trabalhador ser punido. Um movimento desses no aniversário da cidade claramente tem a intenção de estabelecer pressões. Não vamos aumentar a passagem agora. Peço desculpas ao trabalhador”, disse Paes à Rede Globo. Nesta semana, a Agetransp reajustou a tarifa das barcas e do metrô, para abril.
Nesta sexta-feira, 70 fiscais da Secretaria de Transportes, além de PMs, fiscalizaram o transporte irregular na volta ao trabalho em alguns pontos. Ônibus piratas chegaram a cobrar R$ 10 por viagem e as vans, R$ 25. Houve denúncias de que taxistas estavam escolhendo corridas e cobrando no ‘tiro’ (sem taxímetro). À noite, não foram registradas grandes confusões.
Garagem da empresa Real, em Manguinhos, fica lotada de ônibus que não foram para as ruas por causa da greve | Foto: Carlos Eduardo Cardoso / Agência O Dia
Garagem da empresa Real, em Manguinhos, fica lotada de ônibus que não foram para as ruas por causa da greve | Foto: Carlos Eduardo Cardoso / Agência O Dia
Os pedidos
Piso salarial
O salário inicial de um motorista junior é de R$ 1.055. A proposta das empresas é de 40% de aumento (R$ 1.455). Ainda assim, o valor ficaria abaixo do atual piso de um motorista senior, que recebe R$ 1.618.
 
Pedido é de 15%
Os motoristas pedem o fim da categoria junior e 15% de aumento para senior (R$ 1.860,70). A proposta dos patrões é de 8% de reajuste (R$ 1.747,44).

Cesta básica
Os motoristas do Rio recebem R$ 80 de cesta básica e pedem R$ 200. O reajuste oferecido é de 20%, o que elevaria o valor para R$ 96.

Outras exigências
A categoria quer plano de saúde e o fim da dupla função (o motorista é também o cobrador).

Inflação
Em 2012, a inflação acumulada ficou em 5,84%.