Rio -  Por trás da operação que culminou na prisão de 57 policiais semana passada, havia um longo e minucioso trabalho para trazer luz sobre um vergonhoso esquema de corrupção em Bangu e Honório Gurgel. Durante um ano, agentes do Núcleo de Operações de Inteligência (NOI) da Corregedoria da PM se revezaram em ações de campana e filmagens — com risco de serem flagrados pelos alvos — para produzir as provas que desbaratou a ‘tropa da mixaria’. Em centenas de horas de imagens, ficou comprovado que R$ 5 virava lucro nas mãos de quem deveria agir com a lei debaixo do braço.
Para a criação do Núcleo de Operações de Inteligência foi necessário investimento emtecnologia de última geração. A Corregedoria comprou  câmeras digitais de alta definição, capazes de filmar com qualidade mesmo com iluminação precária. As câmeras captam áudio de qualidade, sendo possível ouvir o que os alvos falam durante as ações. 
Agentes da Corregedoria fizeram treinamento para editar material filmado, que facilita a investigação | Foto: Vania Cunha / Agência O Dia
Agentes da Corregedoria fizeram treinamento para editar material filmado, que facilita a investigação | Foto: Vania Cunha / Agência O Dia
Foram adquiridos também equipamentos para processar as imagens, que transformou uma sala da sede da Corregedoria, em São Gonçalo, numa ilha de edição. Os policiais receberam treinamento para editar e selecionar o material bruto que chega da rua, e trabalham com fones para analisar as conversas filmadas pelos agentes. 
A rede de ilegalidades agia sem pudor de ser pega. Os policiais, mesmo fardados e com viaturas dos batalhões e delegacias, percorria as feiras livres para cobrar propina de ambulantes, em troca de fazer vista grossa à venda de produtos piratas. Os agentes do Núcleo se infiltraram disfarçados nos ambientes, misturando-se às pessoas que transitavam pelas feiras em torno de quatro a cinco horas por dia para flagrar os maus colegas em ação.
Núcleo criado há um ano estreou durante a Operação Compadre
O núcleo foi criado há um ano pelo corregedor Waldyr Soares e fez sua estreia com o levantamento para a Operação Compadre, deflagrada terça-feira. “Queríamos dar ênfase às investigações e produzir provas para inquéritos que eram complicados de apurar”, explicou o coronel. Durante o trabalho, o núcleo também atuou em outras quatro investigações, que também resultaram na prisão de dezenas de policiais.
A equipe do núcleo foi selecionada dentro das Delegacias de Polícia Judiciária Militar (DPJM) da PM e passou por rigoroso treinamento na Subsecretaria de Inteligência, que incluiu técnicas de disfarce, entrevista e interrogatório, instruções sobre filmagem, vigilância e edição.
Para não chamar a atenção, os agentes se revezam na campana da missão. A cada período, a equipe inteira era substituída por novos agentes treinados, justamente para não serem reconhecidos de missões anteriores. Quem sai, retorna às DPJMs para repassar conhecimentos a outros agentes.
Sangue frio na abordagem
As imagens foram feitas a poucos metros de distância dos acusados. Para cada dia de trabalho, era necessária uma operação de resgate, com grupos de apoio na segurança dos agentes que filmavam, caso eles sofressem alguma emboscada. Um dos momentos de maior tensão foi quando o cabo Rodrigo da Silva Rodrigues (preso na operação) desconfiou dos agentes infiltrados.
“Ele ligou para o batalhão e uma equipe abordou os agentes, que não estavam armados nem com identificação de policial. Foi preciso sangue frio para despistá-los e continuar filmando”, contou um dos oficiais que atuaram no caso.
“Fico satisfeito pelo dever cumprido, mas dá tristeza ver tantos colegas presos”.